Acordei pensando naquele aluno do colégio, que ao descobrir uma apelido de outro colega, não deixava de dizer em voz alta, para quem estivesse por perto, o apelido que incomodava o desavisado. Ele era agradável, simpático e de vez em quando escolhia um para as suas intermináveis galhofas. Um dia esse aluno "brincou" demais, um amigo se impacientou e o esmurrou. Não escapou da suspensão. No dia seguinte, Serinho contava vantagem e já olhava quem seria seu próximo alvo.
Muito tempo atrás ouvi falar de um tal de Dr. Serius, afora a sua profissão liberal, ele tinha uma verve forte. Diziam, não conheci essa particularidade, que Dr. Serius facilmente tirava um interlocutor do sério, bastava esse, entrar no seu radar. A sua eloquência poderia ser um caso de estudo.
Com a voz poderosa e argumentos falsos, começou a instigar intrigas e as arengas foram crescendo, o seu instrumento para espalhar as suas veleidades eram homens que adoravam espalhar fofocas, mas um dia isto estourou e cinco homens, que gostavam da política, contrariados, invadiram o seu escritório e o surraram. Dr. Serius sumiu da cidade. O alcance das suas provocações estavam apenas naquela comunidade de 40 mil habitantes. Não em toda, apenas em uma parte.
Você conhece um Troll de carne e osso? Já conviveu?
Nesta semana, ganhou a mídia em geral, o caso da menina grávida do Espírito Santo que a Justiça autorizou o aborto. O caso passaria despercebido se não tivesse havido a recusa de um hospital de Vitória, a capital do estado, em fazer o procedimento autorizado e muito menos, se Sara Winter não tivesse gravado um vídeo.
Foi o caso da garota de dez anos, que vinha sofrendo um estupro continuado desde os seis anos. A ocorrência em si mesmo, já era uma tragédia, uma situação que vai marcar a vida daquela garota profundamente, só isto, já deveria ser suficiente para que as pessoas tivessem compaixão. Muitas têm, muitos são indiferentes, é mais uma desgraça no meio de tantas que são noticiadas.
Eu, em particular, li a notícia e não a processei como destaque e nem dei o peso que ela deveria ter. Era uma notícia justa, lida em um site jornalístico que tenta recuperar o seu protagonismo e que faz um esforço grande para ter credibilidade.
A discussão sobre a situação da menina coincidiu com a leitura de um livro: Os engenheiros do caos. Este livro versa sobre as pessoas que impulsionam conteúdos, quaisquer que sejam, com o objetivo de influenciar o voto. O nosso voto. Tais "engenheiros" provocam na internet a adesão às suas ideias, catalisam as raivas dispersas e criam turbilhões, em cima de turbilhão. Tentam e conseguem uma incessante provocação em cima das pessoas que estão insatisfeitas com algum ponto sócio-político, sócio-emocional ou apenas emocional, o que significa: Mobilizar as massas.
De 1933 para frente: o rádio e o cinema, na Alemanha. 2013: o Facebook no Brasil contra Dilma; 2014 no Brasil: a mídia tradicional com a Lava Jato. 2016 nos Estados Unidos: Twitter e Facebook na eleição presidencial. 2018 no Brasil: o uso do Whatsapp na eleição presidencial.
Estas situações não ocorreram por acaso, foi tudo organizado, concatenado, articulado, sempre com um propósito de dominar, ter poder, sujeitar, de mobilizar as massas e embotar no nosso pensamento crítico.
Mas vamos voltar para o caso da menina. Sara Winter descobriu, alguém disse a ela que a menina estava em Recife, em qual maternidade ela estaria para fazer o aborto necessário. Fez um vídeo no You Tube, os seguidores de Pernambuco aceitaram a provocação dela e foram para a frente do hospital. Perturbaram, chamaram a menina de coisas pouco santas, perturbando os doentes e o sossego das demais pessoas. Estas pessoas deveriam ter ponderado se os estímulos eram justos ou não, rezaram por uma espécie de fanatismo "religioso", que se mostrou ruim, mas que exemplificou como as redes sociais funcionam nestes mobilizações.
De modo geral, se conhece este fenômeno que a internet propicia e potencializa. A distância física não existe, só temos a distância do pensamento, ele que aproxima ou distancia.
Já se sabe que as redes sociais são programadas para fazer a gente ficar constantemente ligado nelas por meio da incessante distribuição de mensagens que impactam a nossa psicologia, provocam as nossas emoções justamente em um ponto que, em regra, há muita dificuldade em controlar: O ÓDIO.
Isto é o que faz um TROLL. São os provocadores da internet. Às vezes são apenas um instrumento de uma estrutura organizada: às vezes ele mesmo, é o líder dessa estrutura. Trump é um por excelência.
Já conviveu com um provocador? Já conviveu com um manipulador? Já?
Pois bem, tais pessoas são TROLLS e têm uma capacidade imensa de cutucar as insatisfações e na atualidade, usam os ALGORITMOS das redes sociais para os seus propósitos, pouco sacrossantos, para mobilizar as massas, estritamente para atender a estes interesses e com isso, costumam fazer muitas pessoas de bestas. Uma das bestas do algoritmo, podendo ocorrer dois, dos vários sentidos da palavra besta: o popular trouxa (bobo) ou o bíblico, no simbolismo do Apocalipse.
Abração, Semana Iluminada.
Marconi Urquiza
Link da imagem:
Uma das notícias a respeito do caso:
O livro:
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ResponderExcluirDE OCEANO, via whatsapp (Grupo JOVENS APOSENTADOS): Marconi, parabéns por mais uma brilhante crônica. A manipulação das massas vem de longas datas e com a evolução dos meios de comunicação, as técnicas foram se aperfeiçoando. São muitas berrações (sic) postas reiteradas vezes que acabam tornando-se "verdade" na mente do povo. Vários sites para desmentir boatos estão aí faturando em cima do caos. O pior é que pessoas esclarecidas, não obstante ver que é uma farsa, continuam a acreditar. a emoção toma conta da razão e acaba cegando as pessoas. O trem é bruto. Aproveito para deixar este texto para nossa reflexão:
ResponderExcluir"Cuidado com o manipulador, ele se aproveita de qualquer situação que o possa favorecer, cuidado com o manipulador que vai usar você contra você, cuidado com manipulador já minou o seu terreno e agora você não sabe como desarmar, cuidado com o manipulador que se protege atrás do vitimismo mas age como acometedor silencioso!" Anônimo.
DE JOSENILDO PELO WHATSAPP (GRUPO AABB - TREINOS CAMBORIÚ): É isso aí Marconi, no sentido figurado somos todos "massa de manobra", seguimos uma notícia ou até mesmo um modo de agir de um companheiro.
ResponderExcluirBelo texto, Marconi.
ResponderExcluirEndosso suas palavras com o dito sempre repetido por minha mãe - que, por sua vez, o evoca doeu avô: Triste dos sabidos se não fossem os bestas.
Adicionalmente, registro que, não é sem razão, que essa turma - em dias recentes - são "carinhosamente" chamadas de gado.
Abs.
Sabe, não me lembrava do termo "gado" nessa acepção. Abração.
ExcluirDE ALEXANDRE NEGRI, por whatsapp: Tudo é uma questão de vontade.
ResponderExcluirDE MARIA GE GOTO NETO, pelo Facebook: Verdad, una persona puede estar cerca fisicamente pero distante mentalmente.
ResponderExcluirMuchas gracias.
ResponderExcluirEsta crônica pode ser lida como um tratado sobre o perigo da tal "comunicação via redes sociais" movida por "justiceiros virtuais". O livro "Humilhado" de Jon Ronson também trata da perigosa mistura.
ResponderExcluirDE WALMIR OLIVEIRA, via Whatsapp (grupo JOVENS APOSENTADOS): Bom dia Marconi. Bela reflexão em sua crônica.
ResponderExcluirDE ANA - MENTORA DO MUSEU DA PESSOA - via Whatsapp: Super crônica, Marconi! O que aconteceu essa semana foi um absurdo, mas infelizmente não é um caso isolado. Além da mídia em si, mostra o quando se interfere na vida, no corpo da mulher.
ResponderExcluirDE ADEMAR RAFAEL FERREIRA - via Whatsapp (GRUPO DONA DUDA): O perigo dos "justiceiros virtuais". Belo texto.
ResponderExcluirDE RONALDO PEDROSA - via Whatsapp (GRUPO JOVENS APOSENTADOS): Bom dia, Marconi! Excelente sua crônica pela lucidez e induzir à reflexão. Nos dias atuais, a intolerância e ódio grassam pela sociedade, infelizmente. Por vezes, me pergunto se os comportamentos hostis, desagregadores e até violentos, surgiram de repente, como ervas daninhas ou se estavam latentes à espera de manipuladores que os despertassem. Temos que ter muito cuidado e sensatez, como táticas de sobrevivência. Abs.
ResponderExcluirMuitos comportamentos hostis estão latentes segundo Giuliano da Empoli, em seu livro Os Engenheiros do Caos. Vide exemplo na página 161.
ExcluirParabéns Marconi, vc nos proporcionou mais um excelente momento de reflexão
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