Alguns títulos de livros me
atraíram à leitura. Vou citar quatro, são eles e na ordem de leitura:
- Travessuras da Menina Má; O Negociante de Inícios de Romances; O Vendedor
de Passados e, O Mapeador de Ausências.
Todos os livros trazem invenções
com fatos concretos, só não consegui concluir a leitura de O Negociante de
Inícios de Romances. Na metade da leitura não entendi a proposta do autor e parei.
Travessuras da Menina Má, de Mário
Vargas Llosa, é um livro do qual tenho uma enorme dúvida, mesmo passado tanto
tempo da sua publicação. Enquanto lia, logo após tê-lo feito e 14 anos depois
da leitura, sempre que lembro dele sinto o comichão da dúvida. O romance é uma
história real? Se não for, a sua capacidade de iludir chegou à perfeição. Para mim é o melhor
livro de Vargas Llosa, dos seis que li. É de uma mulher diferente de tudo e de um homem esquisitão, com um amor perpétuo e impossível por essa mulher.
Muito tempo depois estou em uma
livraria e vejo o romance: O Vendedor de Passados. Desta vez li a quarta capa e a orelha. Aquela apresentação curta me fez comprar o
livro. A prosa leve, um português parecido com o nosso, uma história cativante,
um personagem engenhoso, outras tantas querendo um passado novo e distante do período
colonial de Angola. José Eduardo Agualusa,
com uma prosa leve, passeia pelo bom humor, pelo trágico e pela história da
violência da Polícia Política colonial de Portugal.
Na última segunda-feira conclui a
leitura de O Mapeador de Ausências. Ele se assemelha ao livro de Agualusa nas
revelações das atrocidades da polícia portuguesa em Moçambique, nos estertores
do regime colonial. Tal como, O Vendedor de Passados, a prosa é leve. O vai e
vem do presente e passado é bem marcado.
Fui buscar nesse livro ideias
que me propiciasse desenrolar o novelo que se transformou o rascunho de O Último
Café do Coronel. Um livro que sai da ficção e cai com uma bomba na biografia de
um período pesado de Bom Conselho, de minha mãe e irmãos, como para mim, dos amigos
de meu pai e até de alguns adversários dele daquele período.
Não posso afirmar que achei um
caminho, ou uma ideia para prosseguir, ou mesmo um modo de imitar Mia
Couto. Não achei nada, além de uma ótima
leitura. Mas fiquei a matutar. Quanto de passado a ser “resolvido” existe nas
pessoas? Quanto de história precisa ser “revivida” na mente e no coração para
ser, de fato, colocada no mapa da ausência?
Como projeto de escritor, este
talvez seja o maior desafio da minha vida, como um controlador de voo das emoções
que estão amarradas com correntes de um elo só, para que não escape, nem tenha espaço
para se mover e não perturbar.
Como muito se escuta por aí, o passado
deve ficar no passado. Mia Couto vem trazendo as histórias dos ausentes como se
elas fossem mal contadas pelos que estão no futuro e no presente.
É um contraponto com O Vendedor
de Passados, onde o passado não precisa ser esclarecido na sua inteireza, que
seja de verdade. O passado é para os vivos, é para se transformar em um passado
que os orgulhe e que possam apresentar-se bem com eles.
Aqui e acolá estoura uma fraude
de uma biografia inventada, a mais comum, uma pessoa que diz que fez doutorado
no estrangeiro, sem ter feito; ter feito formação profissional e as apresenta como
concluído, sem que tenha de fato ocorrido. O Vendedor de Passado é para esse
público, que deseja uma biografia foda.
O Mapeador de Ausências é como um
mapa, em que aqueles personagens vão revisitar os ausentes há muito enterrados,
mas vivos. É um pouco como o que veio ocorrendo quando tive o impulso de escrever
O Último Café do Coronel. As pessoas que poderiam me ajudar a entender aquele
tormento, toda aquela confusão e toda a dor, estão quase todas ausentes. Os
poucos que restam, não conseguem falar do assunto, a emoção toma conta e eu
choro junto.
Escrever Decisão de Matar, com
toda a sua gama de história real, ficcionada, foi muito mais fácil. Várias
daquelas ocorrências drásticas eu soube em tempo real, mas fui mero expectador, a dor
não me atingiu, o sufoco e as mortes foram de outras famílias. Apesar disso,
mais de 25 anos após certos eventos que estão no livro, eles passam por minha
mente como se visse um filme. Aqui foi um ficcionista olhando as coisas quase
de longe.
Cá, em O Último Café do Coronel,
a emoção estava presente em cada hora que escrevi, em cada hora que
ficou na gaveta. Eu não era um ficcionista inventando, até tem muita invenção,
também não era um biógrafo, trazendo os fatos com a objetividade do historiador,
ainda que se utilize das técnicas literárias. Era o filho que quis escrever
sobre os últimos meses da vida de um pai, morto em meio de uma disputa política,
história da qual nenhum historiador se aventurou em contar, nem eu conseguirei fazer.
Abraço e ótimo final de semana.
Marconi Urquiza
Capas dos livros:





