sexta-feira, 29 de julho de 2022

Chuva na tarde

          


            Devagar ela chegou
            Sem alarde sem trovão
            A nuvem foi desfiando
            Igual pano de algodão
            Relâmpago também
            não veio
            Mas o Rio ficou cheio
            E ficou molhado o
            Chão.  
                
                Ademar Rafael Ferreira

        
        A chuva começou fininha, desceu primeiro nas ladeiras das serras que rodeiam a cidade. Depois ficou um tempo caindo no vale, molhou a estrada de terra e fez aparecer as gotas nas folhas das árvores, que foram escorregando e formando bolhas ao cair sobre o solo.

        Depois a chuva levantou voo e foi se espraiando em direção à cidade, tendo cara de chuva geral. Na direção do sertão chovia, no agreste mostrava a mansidão de chuva molhadeira, na zona da mata daquela cidade, entranhada no sopé da serra, tinha chegado mais forte e seu rastro criado uma leve enxurrada.

        Na cidade, ela foi colocando as pessoas para dentro das casas, muitas foram para frente do comércio, dos terraços e das janelas das casas olhar a divindade que chegava em forma de gotas suaves, alguns diriam que perfumavam a terra, de onde subia um cheiro agridoce.

        As pessoas mal acostumadas em não serem abraçadas pela chuva buscavam guardas-chuvas, sombrinhas e alguns se lembraram que outrora tiveram uma capa de chuvas, mas não tinham. A estiagem é a ordem natural daquelas terras teimosas e de serras caprichosas que gostam de esfriar o tempo ao anoitecer.

        Mas naquela tarde, o frio, o friozinho gostoso da boca da noite, chegou mais forte e antes de quatro horas da tarde. As pessoas começaram a procurar os cantos quentes aonde estavam. Teve gente que deixou o comércio meia porta, as janelas abertas para ventilarem as casas foram fechadas, as porta escancaradas em busca de uma fresca, fechadas rapidamente.

        Alguém, com mania de escutar a natureza, cutucou o vizinho de abrigo e disse: 

       — Você está escutando? — O outro negou com a cabeça, depois se concentrou e então voltou-se para o conhecido com ares de estranheza.

        — O que é para escutar?

        — A chuva.

        — Ah! A chuva estou escutando.

        — O que ela está cantando?

        — Agora você endoidou. Já visse chuva cantar? — O outro nada respondeu, apenas pensou: "Ele não compreende, não compreende."

        Lá longe, rua acima, um menino chegou na frente de sua casa e sentiu o frio lhe beijar o rosto, entrou dentro dela e voltou com um casaco. Na frente da porta foi escorregando, devagar, com as costas fazendo a vez de apoio e aos poucos esticou, mas com tanta preguiça, que as pernas não obedeceram, quase não se senta no chão. No fim  se apoiou na meia parede da varanda e parou o seu tempo para observar a chuva descer mansa, sem fazer as minúsculas enxurradas que tanto o divertia.

        Mas a chuva não tava nem aí, entrou pela noite, a noite inteira pingou as suas pétalas, ao amanhecer bateu as asas gigantescas, levantou voo e foi bendizer outro lugar.


        Por hoje, é só.

        Abração, Marconi Urquiza


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