Vivemos em um país com tantas carência sociais que parece um mundo inteiro que não cabe nas palavras dos candidatos.
Comecei a ouvir, aqui e ali, as pequenas entrevistas que surgem, filtradas nas reportagens da televisão. Frases e mais frases vazias, ditas por necessidade de dizer, desatreladas do querer fazer ou das dificuldades que tais intenções esbarrarão no futuro.
O que mais toca meu coração é a falta de convicção.
Por outro lado, não de hoje, mas, como todos sabemos, que o que há propagações de vídeos e palavras multiplicadas milhões de vezes pelas redes sociais, pelo Whatsapp e outros meios de comunicação digital. Onde quase tudo virou um game.
Não passa de um jogo onde tudo vale para ganhar, onde a palavra tudo vale, menos para fazer o bem a enorme população carente que anda a passar fome. Mas há um algo que é dado com abundância, todo santo dia: o ódio.
Muito tempo atrás, uma inquietação rondou meu espírito. Uma inquietação que levou anos, mais de 40 anos em busca de uma explicação, para a qual apenas constatei bem recente, que aquilo tudo veio de um processo histórico, de uma cultura eivada por uma valorização da violência, mas, ainda assim, o que achei é incompleto.
Estava imaginando, nesta semana, que escreveria a crônica como se um conto fosse. Fiz o primeiro rascunho e foi um menino de 9 anos, sentado no meio de dezenas de adultos, comendo na varanda de Arnaldo os pedaços de queijo que eram para os homens envolvidos em uma conversa tensa, após o resultado da eleição de 1968. E ele percebeu algo inexplicável e desconhecido.
A cidade, mais do que estava rachada, mais do que nunca, naquele ano, esteve perto de uma guerra fraticidade entre os partidários dos dois maiores grupos políticos daquele tempo.
Dali se evoluiu para aqueles homens poderosos, daquela pequena cidade, como uma solução para pacificar: a eleição de candidato único. A história mostra que o efeito foi ao contrário da ilustre tentativa de pacificação.
Vamos voltar para o menino de 9 anos que cresceu ouvindo muitos adultos falando em política, na parte da política que é para ganhar, na parte dela que é pura apelação. Ele não entendia por que tudo naquela cidade, que envolvesse qualquer coisa que arranhasse eleição lhe parecia haver raiva. Uma raiva introjedada, que em tempos de "paz", ou seja, entre as eleições, ficava escometeada, escondida sob capas de um frágil verniz. Era ódio puro, como fogo de munturo, só esperando uma pequena brasa para queimar tudo.
Agora volto para 2022, 2010, 2006, passando por 2014 e 2018. O que se tem em todos estes anos ? Eleições. O que há em todos eles? Manipulação.
O que ocorreu antes e ocorre em 2022? Ocorre. Indução ao Ódio.
Foi este sentimento que aquele menino de 9 anos não compreendia, mas percebia e que não sabia como identificar aquela energia visceral que corria nos comícios de sua cidade. Tal percepção ele levou para a vida.
Depois este sentimento ficou muito claro para o menino que foi se transformando em adulto. O que nunca ficou claro, foi por que se odiava tanto naquela cidade, se quem era odiado não tinha feito mal aos odiadores.
E hoje? Acho que ainda estou preso nas impressões daquele menino de 9 anos, na busca por uma resposta, ansiando por uma explicação.
Esta realidade foi para mim o game do inexplicável.
E você, alguma vez você foi estimulado a odiar e odiou, mesmo sem ter um motivo?
Bem, por hoje é o que tenho. Ótima semana.
Abracço, Marconi Urquiza
