sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Ai que saudade d´ôce

         Vital Farias em 2008 no.                   Programa Sr. Brasil.

         Essa canção foi composta no mesmo ano que saí de Recife e fui para Afogados da Ingazeira deixando a minha namorada, Cida. É um hino ao amor e a saudade.

        Naquele sábado, 09 da janeiro de 1982, era uma da tarde, saí de uma pequena rua só com entrada, por trás do edifício Garanhuns, na Boa Vista, no Recife.  Virei à esquerda, ela estava na calçada, levantei a mão e balancei a minha saudade, uma saudade feroz que só não foi maior naquela viagem por que eu ia rumo ao desconhecido.  Viajei sozinho. Era preciso concentração.

        Durante uns 100 quilômetros, até Bezerros, bem que a frase da canção foi meu lema, sem nem conhecê-la:

        Eu chorando pela estrada, mas o que eu posso fazer?
        Trabalhar é minha sina
        Eu gosto mesmo é d'ocê

        Estava a caminho da posse no Banco do Brasil. Tudo novo, uma vida nova, um despontar para a descoberta do mundo do trabalho, o que me obrigou a me virar pelo avesso, criar amizades, vencer a timidez e a lentidão ao datilografar, uma enorme exigência daqueles tempos.

        Não se admire se um dia um beija-flor invadir
        A porta da tua casa, te der um beijo e partir
        Fui eu que mandei o beijo
        Que é pra matar meu desejo
        Faz tempo que eu não te vejo
        Ai que saudade d'ocê

        Esse beija-flor era os cinco minutos de telefonema diário. Toda noite ia ao posto telefônico ligar, diminuir um pouquinho a enorme saudade, bem que poderia ter dito "Ai que saudade d´ôce", mas esse era o sentimento, quase uma dor que aliviava ao ouvir a sua voz.
       
        Se um dia você se lembrar, escreva uma carta pra mim
        Bote logo no correio, com frases dizendo assim
        Faz tempo que eu não te vejo
        Quero matar meu desejo
        Te mando um monte de beijo
        Ai que saudade sem fim

        
        E as pingadas cartinhas que levavam dias para chegar, que eram aberta com sofriguidão e lidas com vagar até o beijo que encerrava a missiva. Um beijo que representava um dilúvio de beijos e abraços, das mãos ansiosas e suadas pela emoção de um encontro que demorava dias, às vezes quinzenas, pois a grana teimava em acabar antes do dia 20. O dia do salário.

        E na sexta-feira à noite o beija-flor me acompanhava no ônibus da Progresso, que tonto de sono descia às cinco da manhã na rodoviária de Recife e corria feito doido até a rua Barão de São Borja para aplacar a saudade, que no domingo perto da meia-noite, era renovada assim:

        Eu chorando pela estrada, mas o que eu posso fazer?
        Trabalhar é minha sina
        Eu gosto mesmo é d'ocê.

        Foi a minha sina durante três longos anos, até que casamos a saudade ficou a passo de um beijo. 

        Aí a saudade ficou a um passo de um beijo.

        Então o tempo passou e hoje leio que Vital Farias, o compositar dessa bela canção, morreu e a recordação veio com toda a energia, como um looping, a repetição que ocorria todas as vezes que a ouvia. 

        Um pedaço da vida, das saudades que embalaram meu coração ao longo da vida e eu fui buscar mais uma vez ouvir a canção e trazer este pequeno fragmento dos 65 anos de vida.

        
        Bem, por hora é só.

        Abração, Marconi Urquiza


Atenção

        Vamos escutar Vital Farias com Rolando Boldrin nesse vídeo do Programa Sr. Brasil, dois grandes artistas em um momento único e feliz.

       Clique no link e assista ao vídeo:
       
    

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...