Fazia tanto tempo que estava distante que começou a medir a alegria em semanas, as semanas foram passando, começou a medir a alegria em dias, os dias foram passando, começou a medir em horas. Os minutos foram se transformando em lágrimas contidas.
O sorriso escorregou do coração para os lábios quando o avião fez aquela curva enorme, rodeando toda a Curitiba, entrou no céu de São Jose dos Pinhais e foi taxiando. Lá na porta do desembarque, então bem próximo da sala de espera, um homem aguardava.
Passageiros foram chegando e passando, de repente ele viu. Os olhos dos seus estavam arregalados procurando por ele, quando foi visto, a filho mais novo correu, os outros mais velhos, pareciam mais tímidos, chegaram depois, a esposa foi a última a chegar, lhe deu um beijo.
Lá no hotel estava tudo arrumado. Cada cama com um presente, sobre uma delas um buquê de rosas. Eram quatro para um lado, agora estavam os cincos juntos.
Quando a saudade matadora chegou, a inquietação cresceu tanto, tanto que ultrapassou os limites. Meses depois chegou ao seu destino. Subiu no prédio para se apresentar ao novo chefe.
A luz azulada era filtrada pela película insulfilm. Se aproximou e se postou diante daquele cenário. O mar mostrava as suas ondas suaves, azul como o céu. O rio escuro se encontrava com o mar e outro rio mais adiante chegava quase empurrado, não tinha forças para andar sobre as ondas.
Os olhos começaram a passear, foram até onde a vista enxergava prédios. Correu os prédios de um lado para o outro, se admirando como aquele bairro tinha tantos. Correu a linha do mar, entrou em outro rio, correu as duas pontes sobre eles. Depois veio passeando pela avenida que percorria um cais famoso e foi chegando, desceu junto com o viaduto mais famoso, veio andando com o olhar e chegou na ponte logo abaixo.
O olhar inquieto correu para a praça. "Tanta árvores assim?" Passeou pelas calçadas, parou na frente do teatro. Um som chegou aos seus ouvidos, um motor no rio pipocava devagar. Baixou o olhar e acompanhou aquele caminho nas águas, até seu olhar se perder na curva invisível do encontro com o mar.
Levantou os olhos e ficou quieto, absorvia toda a saudade do seu coração.
Levantou os olhos e ficou quieto, absorvia toda a saudade do seu coração.
Seus olhos corriam pela pista. Passageiros e mais passageiros chegavam. A menina ao lado estava inquieta. Duas semanas que a sua alegria se misturava. Filhinha papai vai chegar. Mas ela disse cedo que o pai viria. Todos os dias a menina perguntava. Ele vai chegar filhinha, fique alegre. O seu própria coração sorria e ansiava pelo encontro. Muitos meses antes ele tinha ido trabalhar na fronteira do Brasil com a Colômbia. Mais de cinco mil quilômetros de saudade.
Olha, na semana que vem vou ver a minha esposa e a minha filhinha! Dita de uma forma tão feliz que contagiou. Está de férias? Não vou aproveitar as folgas do quartel. E vai como? Mais alegre do que nunca respondeu. Vou de carona com um avião da FAB. Que maravilha. Eita, vai ser uma surpresa. Não! Um não dito com tanta convicção que provocou um espanto. Não!? Não, eu já disse a ela!
Todos os dias eu ligo, todos os dias eu ouço a alegria me esperando chegar. E quando vai ser? Vou neste final de semana, agora na sexta. Boa viagem. Vai ser maravilhosa!
Mais vôos chegavam. Vem filhinha, papai chega logo. Levou a menina em um brinquedo para diminuir todo aquele aperreio. De costas ouviu um monstro cortando com ar com força, chapando o vento. O som foi diminuindo e ainda ruidoso foi encostando no outro lado. As lágrimas foram chegando, os lábios sorrindo e o sorriso se perfumando. "Vamos filhinha, papai chegou!"
Abração, semana venturosa.
Marconi Urquiza