sexta-feira, 23 de julho de 2021

É vida explodindo como por milagre

 


    Depois da primeira
    chuva
    Na terra dos Tabajaras
    Muda cor da
    vestimenta
    No sertão das
    espinharas
    Sai o cinza das 
    rolinhas
    Entra o verde das
    araras.
               Ademar Rafael Ferreira

     Kleber Mendonça Filho escreveu no Instagram: "Acordei de um sonho no sertão, a natureza explodindo fora de controle depois de chover. Acho que lembrança de filmar BACURAU. Achei bonito."

     Essa é a legenda de uma postagem de vídeo.

     Vivi no sertão de Pernambuco. A caatinga tem essa força. Parece tudo sem vida, ao receber a chuva tudo se transforma em pouco tempo. É vida explodindo como por milagre.

     Aí não me segurei, escrevi alguns comentários e deles está crônica.

     Olha essa imagem. 

     Saí de Recife para Bom Conselho e ao passar por São Caitano, olhei para o lado e a vista se perdeu na imensidão do cinza. (Tudo seco).

     Corria com o carro na direção de Cachoeirinha. O cinza se estendia em tudo. Aqueles açudes da beira da rodovia nem tinham mais lembrança de uma lama ressequida. Inerte. Apenas o vento, quando queria ser caridoso, soprava e dizia: Levanta; mas sem força a poeira saia cambaleando pelo solo seco.

     Três meses depois voltei para o mesmo destino. Ao longe a Pedra do Cachorro (em São Caitano) apontava o seu verdor. Subo o viaduto da BR 232 e entro na BR 423. O verde mostrava a sua força e os açudes agora eram espelhos onde as nuvens se penteavam, belas, prontas para animar a cantoria nas lagoas.

     Naquela viagem o tempo verde dura mais uma hora e meia e, vou encostando em Bom Conselho, olho para frente e vejo a natureza mais forte subindo as serras ao redor da cidade, que escurecia naquele final de tarde. 

     Entro por ruas calçadas com pedra, da praça Frei Caetano de Messina a imponente igreja matriz aponta a direção. Ali, no alto, deixo o carro escorregar lento pela ladeira do Colégio das Freiras, o vento suave cortando as folhas das árvores.

     Não precisava, nem sei explicar, mas abri a janela do carro e o friozinho da minha infância veio me abraçar.


Abração, 

Marconi Urquiza.

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