sexta-feira, 10 de abril de 2020

CAUSO DO PORTÃO - Causos do futuro - 1

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE MACHADO – FEM



Já que o futuro é incerto,
um causo me chamou,
um causo que chegou na
esteira de uma paquera.

Mas, o danado estava lá.

O portão atrapalhou
minha inocente paquera.

A cerveja gelava,
a mangueira estava esticada,
o balde cheio de sabão,
a esponja na minha mão.

Mas, o danado estava lá.

O portão despachou 
minha inocente paquera.

Eu estava na garagem, 
cheio de pabulagem, 
da garagem chamei Dinha
para mostrar o rebrilho e 
outras coisinhas,

mas as coisinhas ficaram.

O danado estava lá.

O portão atrapalhou
e despachou minha 
inocente paquera.


*


Bem, o causo foi o seguinte. Durante anos a fio, todo domingo eu lavava o carro. 

Oito da manhã eu preparava o kit: balde, shampoo de carro, escova, mangueira, aspirador de pó e as cervejas gelando no congelador. 

Nesse meu distraidor dominical, eu levava umas três horas e quando pude realizar o sonho de ter uma caminhonete, aí é que eu espichava o tempo.

Naquele ano de 2000, eu tinha comprado e financiado por 36 meses uma S10 1997, cabine dupla, verde, completa de tudo, como dizem os valorosos vendedores.

Acordei cedo, dei uma rezinha de uns três metros, coloquei ela na rampa da garagem, pegando todo o sol. Em tempo, morávamos em uma casa, cuja garagem era aberta. O declive era da rua para a casa.

Peguei o Kit, preparei para lavar ela. Molhei primeiro o teto e por fim a caixa de rodas. Já tinha passado uma meia hora, aí eu me ergui. "Eita, esqueci de colocar a cerveja para gelar." Coloquei umas seis latinhas e voltei para o carro. 

A cada intervalo de descanso, eu corria na cozinha e vinha com uma latinha. Assim, assim foi até que  a parte mais chata, para mim, chegou, limpar o interior o carro. Passei o pano úmido nos plásticos, aspirei com aquele trator, que quase me estourava os tímpanos. 

Acabei, olhei para o carro. Brilhava, o shampoo com cera tinha feito um bom efeito.

Abri o capô, dei uma olha nos fluídos, completei a água do limpador. Sapequei um pouco de detergente. Pronto, o carro estava limpo para a semana. Em tempo: No tempo das chuvas no Paraná, a limpeza não durava meia hora, se sair com o carro para a rua, ele volta melado.

Voltando. O carro estava uma lindeza. Em certo momento, Nega saiu para a garagem e eu todo empolgado, cheio de pabulagem, quis fazer uma demonstração para ela.

"Vem cá Nega", chamei. Ela chegou pelo lado da porta do motorista e eu liguei a S1O. Direção hidráulica macia, leve. Uma pluma como se dizia na época. 

Carro ligado, o motor diesel roncando, eu vaidoso e empolgado para demonstrar as minhas habilidades e os recursos do carro.

"Olha, como é leve", disse a ela. Com a mão direita engatei a ré e com a esquerda eu fui esterçando e acelerando de leve, de repente, um tranco. Tentei acelerar, nada, aí eu desci desconfiado, já imaginando o que havia feito. Quando cheguei na traseira do carro, vi a ponta do para-choque enfiada na grade do portão. "Merda". Amassou o carro e o portão.

Pois bem, eu, no afã de me mostrar, tinha esquecido que ali, na nossa casa, só se entrava e saia em linha reta.

Bem, 

O danado estava lá.

O portão atrapalhou
e despachou minha 
inocente paquera.



Pense nos seus causos.
Abraço e ótimo final de semana.

Marconi Urquiza








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