sexta-feira, 20 de agosto de 2021

UM GÊNIO BONDOSO



            Às vezes a gente não se dar conta que conviveu com um gênio e destes, de bom coração, altruísta. Essa constatação só veio muito tempo depois, muitos anos já havia se passado desde o primeiro encontro.

            Vou correr na memória e parar em um Sete de Setembro. Acho que foi em 1969. A época está imprecisa, a memória forte.

            O desfile de Sete de Setembro em Bom Conselho havia se transformado em um evento, evento que atrai, até hoje, multidões para vê-lo. E isto começou com essa pessoa.

            Desejando ver o desfile, eu saí de casa e corri para a praça, arrumei uma vaga em cima de um banco e fiquei vendo as escolas desfilarem. De repente, um grupo de estudantes, vestidos com batas, como cientistas, vinha trazendo a representação de um foguete em um balão. Tudo artesanal. Pode ter sido o foguete Apollo 11. Não sei o que plateia sentiu, eu fiquei extasiado.

            O pelotão de cientistas caminhou mais um pouco e entrou a banda marcial. Quando ela tocou e bailou, com seus membros tocando e fazer coreografias o público vibrou.

            Pense que ela foi embora? Acho que ela ficou de lado, tocando até todo o colégio passar.

            Foi o primeiro espetáculo popular que assisti.

            Anos depois o conheci como autoridade. Diretor do colégio estadual. Um ser inquieto, enorme nas boas intenções e um líder, que só vim a me dar conta, quando tentava ser um.

            Muito, muito tempo depois, eu soube que ele estava vivendo em Catolé do Rocha, na Paraíba e eu e Cida morávamos em Caraúbas, RN. A 70 quilômetros.

            Na manhã de um sábado o encontramos. Nos recebeu com um sorriso discreto, conversamos um pouco. Eu o achei triste. Logo depois saiu mostrando às suas criações, detalhando em cada quadro a técnica utilizada, como se nós entendêssemos daquilo.

            Mas ele era mesmo assim, fazia questão de incluir as pessoas.

            O tempo passou e nós fomos visita-lo em Bom Conselho, para onde havia retornado uns 15 anos depois. De novo, ele nos levou a um ateliê, onde ensinava a jovens, a técnica de construir vitrais com cacos de vidros. Cada obra linda. Outra vez nos deu uma aula de como utilizar a técnica. Estava contente por ter formado vários jovens, entre eles, mais de um já se desenvolvia como profissional. A sua alegria era visível. Feliz.

            Saí do encontro contente. No dia seguinte ele chegou na casa do meu sogro, coisa que fazia todos os sábados. Neste dia,também quis saber se o cunhado Pedrinho, que morava em Natal, havia chegado.

            Cinco minutos de conversa, cinco minutos de alegria e foi cumprir as suas missões de vida.

            Encostei no portão e fiquei vendo a rua e seus transeuntes, quando ele voltou com o carro na direção do centro da cidade, ao passar por mim, levantou a mão em despedida e sorriu.

            Posso dizer uma coisa, ele fez a diferença para várias gerações e para toda a cidade.  

           Fiquei por ali refletindo. Só tardiamente reconheci que Frei Dimas era um gênio. Um gênio bondoso e compassivo.

            Viva Frei Dimas. Um ser que com suas atitudes passou a vida iluminando por  onde ia.

            Abraço, Marconi Urquiza


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