sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

1ª Entrevista ao vivo, ninguém .... Futebol

Futebol foi desde os 11 anos uma paixão para jogar, depois, aos poucos, foi se transformando em uma predileção para assistir às partidas, muito tempo depois eu quis estudar o futebol para entender melhor o esporte. Tática,  gestão,  preparação física, ambiente interno e por aí vai.  Nessa época comprei uma pequena biblioteca.  Uns 10 livros. Era 2003. Deste período dois livros me ajudaram a entender um pouco o futebol: Universo Tático do Futebol e Ciência do Futebol (conferi na internet).

Também foi nessa época que comecei a ser comentarista de futebol.  Rádio Tambor FM e depois Rádio Integração FM, em Surubim, PE. Só isto já vale uma  crônica. 

Mas a paixão era mesmo jogar. Quando fui a Afogados da Ingazeira no dia 02 deste mês eu fiz questão de primeiro ir ao minicampo da AABB,  pedi para ser fotografado junto a trave de uma dos gols, pois me recordei das tantas peladas que joguei lá ao longo de cinco anos. 

Nessa esteira de recordações, eu me lembrei do primeiro jogo na cidade. O colega Seba me convidou para jogar em um sítio. Campão. Felizmente um campo bom, mesmo sem grama. 

Entrei de quarto-zagueiro.  No primeiro tempo tomamos um gol.  Perdendo de 1 x 0, tentamos empatar,  mas não é que nosso ponta esquerda rasga uma dividida e dá uma bomba, gol. Nunca vi algo daquele jeito. 

Veio o segundo tempo. Minha chuteira não gostou dos meus pés de pele fina e foi criando calos, bolhas, eram tantas que mal conseguia andar.

Tomamos o segundo gol. Perdíamos de 2 x 1. Em certo momento,  sem ter condições de correr eu me mandei para frente e fiquei por lá, na chamada zona morta,  mas não é que uma bola escapa para mim, quase sem marcação eu consegui cruzar do lado esquerdo,  meio de trivela, meio de bico e aquele touro do ponta-esquerda acertou outro chute e empatou. 

Nos últimos minutos, o tempo escurecendo, eu fiquei lá na ponta esquerda,  escondido,  torcendo que não viesse nenhuma bola.

Quando acabou o jogo, eu pode dar uma alívio aos pés.  Sabe, dos cinco dedos do pé direito três estavam estropiados.  Bolhas estouradas. Danei cuspe nelas na esperança de aliviar o ardor, burrice, ardeu foi mais.

Depois dessa estréia, eu viajei mais uma três anos no tempo, fui para o minicampo da AABB Afogados. Era um sábado à tarde, tinha chovido. O campo de terra estava macio.  Eu saí da defesa pelo lado esquerdo em um contra-ataque e cheguei a um metro da linha de fundo. Jogada rápida,  quando dominei a bola e levantei a cabeça, a defesa estava paralela ao goleiro.  Olhei para o outro lado e vi Pádua chegando por trás da zaga,  eu pensei em tocar por baixo da bola e passar para ele  cabecear,  o problema é que eu não sabia fazer isso. Naquela fração de segundos, eu vi o goleiro dando dois passos na ideia que eu iria cruzar e ele se afastou do pé do poste. Quando vi ele se movimentando para a direita, eu dei um tapa na bola em direção ao gol e no contrapé dele,  enquanto ele ia para o meio da área, a bola, que não foi forte, entrou no gol raspando o poste.

Foi um dos gols mais bonitos que fiz.

Mas desta época vem a minha maior satisfação de um peladeiro. Ser a preferência na escolha dos times das peladas da AABB Afogados da Ingazeira nas terças e nas quintas-feiras.

A satisfação cresce quando digo que joguei a vida toda como zagueiro.  Eu tinha um preparo físico excepcional. Havia vindo do futebol de campo da Universidade Rural de Recife, então minicampo era um pouco maior que uma grande área. 

Era tanta saúde que eu conseguia cobrir quase toda a defesa. Corria solto,  chegava fácil no outro gol.

Mas teve um dia que eu tive que tirar a cabeça.  Amistoso com um time de Iguaraci, PE. No time deles tinha um ponta direita, forte pra burro, corria e chutava como poucos,  não é que ele dribla para o lado direito e sapeca um chute, daqueles que bola estala.  Eu estava na linha do chute, a uns cinco metros. Ela subiu na altura da minha cabeça,  a um 1,88 m, plantei os pés e segurei a bolada. 

Beleza! Mais ou menos. Fiquei com uma dor de cabeça medonha. 

Bom, o jogo continuou,  não é que  o cara sapeca outro chute. Forte, tal qual o outro e eu estava de novo na linha da bola, só que dessa vez, no último segundo, eu me abaixei e matei o goleiro,  a bola estufou a rede. Só ouvi a reclamação dele e eu dizendo algo : Tu tá doido eu botar a cabeça de novo nessa bola!

Mas um dia, para encerrar esta crônica,  houve um torneio de minicampo.  Nosso time precisava fazer 6 x 0 para se classificar e só fez 2. Todo mundo correu demais.  Estávamos cansados, eu fui um dos últimos a sair do campo.  Quando fui chegando na lateral do campo, perto da linha de fundo da sede da AABB Afogados, eu vi uma pessoa se aproximando  rápido, foi perguntando como tinha sido o jogo e já colocou o microfone para eu responder. Nem sei o que disse, mas acho que respondi igual a todo jogador que é  pego de surpresa e nunca falou ao vivo: "É o jogo foi difícil; O adversário marcou bem; não fizemos o placar necessário", etc, mas, um etc curtinho.

Minha primeira e única entrevista na longa carreira de peladeiro, ainda em campo.

Abraço e bom carnaval.

Marconi 



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