Estava a cabular um assunto quando lembrei que
Gonzagão em uma canção se referiu às 4 festas do ano. Para mim, papai marcou claramente as suas quatro festas do ano.
Até que saúde dele, dos amigos e a idade permitiu, ele brincou demais no Carnaval. Várias vezes vi os seus amigos entrarem em nossa casa para festarem, comerem e beberem, depois saíam para a próxima parada na casa de outro amigo.
A próxima festa, bem demarcada, era a Semana Santa, dois dias de convívio pleno com papai, quinta e sexta santa. As refeições tranquilas, sem pressa, sem faltar ninguém da casa. Ele parece que nestes dias desacelerava. Nunca esqueci, era nessa época que ele me encarregava de ir no bar de João Presideu pegar uma garrafa do vinho Velho Macassa. Um antigo vinho tinto.
Depois vinha o Natal. A casa ficava bonita, parentes iam lá cear, mas era a festa nossa, dos filhos, pois os nossos amigos iam para nossa casa. Papai vestia camisa de linho, clara, manga curta, calça escura, o sapato de cromo alemão (para as ocasiões especiais), as três gotas de um perfume francês.
Ele que não ficava muito em casa nas horas de folga, mas na véspera do Natal circulava pela casa com uma expressão de que estava feliz.
Logo chegava o Ano Novo, tudo era bem preparado para receber os amigos, primos, conhecidos. Quem fosse era bem recebido. Peru, whisky do bom, cerveja da boa, comidas variadas, tudo abundante. Não era para faltar nada. Perto da virada do ano papai demonstrava alguma ansiedade para ver quantos amigos aceitariam seu convite.
A casa, geralmente na penumbra, estava nessa época muito iluminada, colorida, alegre. Até hoje, quando recordo, vejo em minhas retinas tudo brilhar.
Por fim, mesmo nos tempos de vacas magras, havia sempre o ritual de comprar uma roupa nova para o Natal e outra para o Ano Novo, e na semana das festas ganhávamos dois tostões para a gente se divertir no parque com os amigos.
Feliz 2024.
Abraço, Marconi Urquiza.