sexta-feira, 21 de março de 2025

Viagem de Páscoa


        Quinteiro não gostava do seu nome, preferia o apelido de Quico. Quando alguém lembrava desse nome em tom jocoso, ele se irritava.

        A Páscoa estava chegando e aquele homem decidiu, após muito anos sem ir à cidade onde nasceu e viveu até à adolescência.

        Aposentado há muito tempo, pegou o seu carro e saiu com destino certo, mas com paradas aleatórias. Não seria uma viagem curta, pelo menos três dias na estrada se a sua capacidade física permitisse.

        Ligou para os filhos, avisou para onde iria. Andava sozinho há tempos.

        Arrumou a mala, a bolsa com as roupas que trocaria na estrada. Supriu a nécessaire com os remédios e com os itens de toalete.

        Carro sem uso, saía pouco nele, não era raro encontrar teias de aranha nos pneus. Fez uma revisão básica. Faltando três dias para o sábado de Aleluia chegar pegou a estrada. Concentrado e descansado, conseguiu percorrer no primeiro dia 1.100 km, no segundo dia, o cansaço chegou mais cedo e perto das cinco horas da tarde encostou em um hotel com mais 900 km na bagagem.

        Faltava cerca de 500 km. Às 4 da manhã do terceiro dia caiu na estrada. Dirigiu rápido, às onze horas ele foi vendo a serra de Santa Teresinha e o coração começou a saltitar.

        Entrou na cidade, deu uma volta, reconheceu algumas casas e nenhuma das pessoas que transitavam na rua. "Onde estão meus conhecidos? Morrerão?" Talvez não reconhece mais nenhum depois de 40 anos.

        Sentiu sede, lembrou do Bar do Pereira, virou o carro e foi para a rodovia que ligava a sua cidade a Palmeiras dos Índios. Entrou, passou por uma porta, ao sentar chegou o garçom, pediu uma cerveja e uma batata frita.

        Daquela mesa ele via a Serra de Santa Teresinha inteira. Estava verde. Havia chovido naquela semana.

        Quico levantou o copo e começou a beber, nisso passou um homem, que foi para trás, a 4 mesas de distância. Juntou-se a mais três e sentou. De novo olhou para Quitério, que era servido na segunda cerveja. Lá na mesa do outro homem chegaram mais três amigos, quase todos da mesma idade.

        De cabeça baixa o nosso visitante não viu a aproximação do seu vizinho de bar.

        Quando deu por si, o homem estava a um metro dele, o olhando fixamente:

        — Pois não?

        O homem não respondeu e continuou com aquele olhar de quem via um fantasma.

        — Diga?

        — Venha cá, Quico! Dê um abraço. Ei, turma, Quico voltou!!!




        Bem! Hoje é esse continho. Abração a todos.

        Marconi Urquiza




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