Dia 02, ao passar à noite pela frente da padaria da frente de casa, me surpreendi, ela havia se mudado. Perdi o cheiro de pão sendo assado que eu sentia do apartamento, quando vento mudava de direção.
Adoro e evito comer pão. Gosto tanto de pão que já comi pão como tira-gosto da cerveja. De pão assado na chapa nem se fala. Do pão faiscando na manteiga, Deus do céu!!!
Tem horas que eu vou na área de serviço e vez por outro sobe do apartamento do andar debaixo o cheiro do pão na chapa e não tem uma vez que não comento com minha esposa: estão assando pão no apartamento do João.
Tanta afinidade com pão, francês, principalmente, me fizeram o favor de comprar uma passagem para a estrada da saudade.
No final dos anos 1960, Delzuite Tenório abriu uma padaria em Bom Conselho. A farmácia do meu pai ficava a uns 50 metros dela e toda tarde eu ia para lá ajudar nos negócios.
Depois de um tempo, a simples compra de um pão virou quase um vício, duas e cinquenta da tarde eu me levantava e caminhava para a frente da farmácia. Lá, como se tivesse bisbilhotando a rotina lenta da cidade, eu ficava de narinas bem abertas. Só esperando o cheiro do pão quentinho escorregar pela ladeira e me chamar.
Quando o cheiro invadia a minha alma, eu saia baixeirinho, naquele galope miúdo e sincopado, para comprar o pão e, ansioso, dar algumas pernadas ligeiras para me debruçar sobre a mesa da minha casa e aproveitar o pão quente derretendo a manteiga. Dois pães, vinte minutos, e eu voltava para a Farmácia Confiança contente.
Tem um detalhe que não sei até hoje: se era pão com manteiga ou manteiga com pão?
Por hoje, vou de café coado e pão quentinho. Que tal saborear?
Grande abraço, Semana Iluminada.
Marconi Urquiza