Sabe, alguns dias atrás estava zapeando pela tevê e parei alguns instantes em um jogo do CRB, na série B, em Maceió. Em certo instante o câmera correu pela arquibancada vazia e aí eu me lembrei que meu pai me levou para a inauguração do Estádio Rei Pelé, em setembro de 1970. Pelé estava lá, o Santos inteiro, goleando a Seleção Alagoana.
Três anos depois, em algum domingo ensolarado de 1973, acho que Bom Conselho estava no maior frisson. Campo de terra arrumado, terraplanagem recente, traves novas, rede de náilon e viria um artista nacional para inaugurar.
Pedro de Lara, famoso por atuar no Programa Silvio Santos. Filho de Bom Conselho, saído como retirante, era o convidado ilustre. De longe todos vimos ele entrar no campo de paletó, com seu sapato social, preto, brilhando ao sol. Se aproximou do grande círculo, junto com o prefeito e mais uma ou duas autoridades e inaugurou o campo com um curto chute.
Ao redor do campo, atrás das linhas, havia uma multidão e eu estava lá, logo depois da linha de meio de campo na direção do cemitério. O campo não era no sentido norte-sul, para que a luz solar ficasse na lateral das barras, ele era no sentido leste-oeste e o cemitério ficava a oeste. Perto dele ficava um dos gols, o outro, ficava perto do muro que dividia o campo, o antigo campo do ABA, que era fronteiriço com uma rua.
Acabada a inauguração, iria começar uma melhor de três. CSB - Centro Sportivo Bomconselhense, era um e outro time, se a memória não me engana, era o Vera Cruz, do Alto de Zé Flexeiras.
Antes de falar do jogo, vou falar do campo. Ele estava lisinho e macio, a raspagem com a motoniveladora tinha deixado o terreno duro, bom de jogar. Naquele dia não ventava muito, no entanto, quando o vento fazia a sua graça, quem estava do lado da linha que ficava perto do hospital sofria, todavia, a gente ficava de costas para o sol e era melhor de ver o jogo.
A primeira coisa que a memória registrou, foram os ternos (camisas, calções, meiões) novinhos e parecendo engomados. As pernas dos jogadores lustravam com os raios solares. Parece que havia, naquele tempo, o costume de passar terebentina ao se massagear. A camisa do CSB lembrava a do Palmeiras de 1972, a do Vera Cruz, a memória falha, mas penso que era preta, listrada de amarelo, listras verticais. Tenho enorme dúvida a esse respeito.
Começou o jogo, jogo aberto. Uma correria enorme. Jogo franco, bom de ver. Aí o CSB fez um gol, depois fez outro. Aí veio o terceiro gol. Nessa hora o CSB atacava para o gol do cemitério, o gol a oeste.
Bem leitor, tudo aqui é de memória. Só de memória. Vou reavivar a minha localização na torcida. Nesta hora eu e a muita gente tinha caminhado mais para perto do gol do Vera Cruz, mais ou menos a 35 metros da linha de fundo.
Aí, em certo momento, o CSB armou um contra-ataque e a bola foi passada para Elisênio, jogador de passadas largas. Ali, logo depois do círculo central, ao receber a bola, imagino que ele viu um corredor, com os marcadores distantes, ele correu rápido com a bola dominada. A cada passada dele e dos defensores um rastro de poeira foi se criando, quando ele se aproximou da entrada da grande área, já havia se formado uma pequena nuvem.
Não lembro direito, se ele chuta e cai ou caindo chutou. Mas lembro que ele ficou olhando do chão a corrida veloz da bola até ela entrar no gol. Afinal, nós torcíamos pelo CSB e vibramos com o gol.
Aquela queda me deixou curioso, tempos depois eu me encontrei com Elisênio e perguntei para ele a razão da queda, não lembro a resposta: não sei se disse que caiu para se proteger ou se levou um tranco. Só sei de uma coisa, foi um gols dos mais bonitos que já eu vi.
Abração, Semana Iluminada.
Marconi Urquiza
Elisênio: