Na sexta-feira passada a Globo News ligou o full time para a iminente prisão de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a cobertura me trouxe um sentimento de perda e de tristeza. Uma melancolia que provocou-me a reação de só ouvir as vozes das repórteres falando. Não quis ver as imagens, fiquei curvado e muito tempo de costas para a televisão apenas escutando as sucessivas repetições de informações.
Foi uma "matéria jornalística" com ares de cobertura perfeita para satisfazer aos louvadores e aos detratores de Lula. Quase como uma tempestade perfeita, que a tudo destrói.
A cobertura parecia um réquiem para um defunto vivo. Para mim era o enterro simbólico e um enterro real para muitos que colocaram seus rancores, recalques e todo tipo de afeto negativo em cima de Lula e, talvez, nem saibam a razão objetiva.
O defunto.
Um tipo de defunto que ao longo de quase quatro anos foi sendo cevado parcimoniosamente com pequenas doses diárias de ódio, como pílulas com aparência de placebo, sem gosto, com efeito lento para depois desse longo tempo a alma, já totalmente tomada pelo ódio, se tornar facilmente permeável às manipulações de quem comanda a mente dos indivíduos.
Mas agora as circunstâncias políticas, criadas há tempos, exigiam esse defunto para acalmar a turba que se mostrava violenta. Mas, matar literalmente era um risco muito grande que os estrategistas não queriam correr. Em situações semelhantes, o melhor é sangrar aos poucos para que o defunto vivo suma dos corações dos que o odeiam e dos corações dos que o amam.
Fiquei mais de hora ouvindo as repetições das repórteres da Globo News, sentindo que queriam uma declaração bombástica, uma nova oportunidade para repetir aos quatros ventos um escorregão, mas não houve. Estranhamente, surpreendentemente ou com sabedoria os discursos não foram incendiários. A violência dos militantes, foi um dano único, pequeno, diante do potencial de confusão existente. Nada de maior significância. Até as pancadas que alguns jornalistas levaram foram desidratadas pela mídia porque levaria a um aprofundamento indesejado da sua causa. Quem faz a história é quem a conta, então ...
Na última semana as inserções ao vivo da cobertura televisiva se repetem, vazias de conteúdo, repletas de sentindo. Dois signos estão presentes: "Olhe, seu líder está preso; olhe, seu ódio já pode ser aplacado, seu inimigo está preso."
No entanto, bem mais significativo é o discurso de que ninguém está acima da lei, o que me levou a lembrar de uma história, que pode ser do folclore político de Pernambuco, não tenho certeza.
Dizem que Agamenon Magalhães quando foi governador do estado e ao ser questionado por correligionário sobre uma ameaça eleitoral respondeu, parafraseando Maquiavel (*): "Para os amigos tudo. Para os inimigos os rigores da lei."
Assim foram as coisas e as muitas lacunas destes pensamentos, para as quais não sou capaz de suprir, possam ser preenchidas com a reflexão de cada leitor.
Quem sabe neste estilo,
Abraço,