Meus avós geraramfilhosDos meus pais eu fuigeradoEu e a esposageramosCada filho abençoado.E o ciclo fica completoNa hora que cada netoAssumir nosso legado.
Poema de Ademar Rafael Ferreira
Lembrei da minha perplexidade ao ver cada filho após o nascimento, era uma impressão tão forte que só me coube silenciar durante vários minutos.
Dois netos estão vindo, primeiro a criança de Raphael e Joyce, agora virá a criança de Victor e Milena. É, uma nova vivência que virá e a vida se renovará.
É uma vivência nova se aproximando e aí as fortes lembranças chegaram sem pedir licença, vejo os rostos sorridentes das avós e dos avôs amorosos, então me vi sendo neto, entrando pela porta da frente da casa de Mangina (Maria Georgina) e de vovô Valdemar e ir sentar na mesa para jantar ou tomar café ou simplesmente entrar na casa para conversar, melhor, ser ouvido na minha tagarelice infantil ou então me vi indo, a bordo de um Jipe, para o sítio de Pai Jaime e de mãe Centina (Vicentina), meus avós maternos, e ao chegar lá subir nos cajueiros, me banhar no riacho de água salobra, pular na palha do café despolpado, montar no jumento e cair sobre o capim, quando ele dava brabo.
Me vi entrando na cozinha: Bença mãe Centina; ir para o escritório: Bença Pai Jaime; Bença vovô; bença Mangina.
Na farmácia de papai, me encostar no balcão e ficar perto de vovô Valdemar, ouvir as suas histórias antigas; ver Pai Jaime pitar um cigarro de fumo de corda; entrar de novo farmácia de papai e escutar meu avô reclamar de meu pai, ao dizer que ele era enganado: "Também! Quem tem besta não compra cavalo". Ele mesmo de uma bondade enorme, era o pai protetor se manifestando.
Eu sabia ser neto, um neto querido, recebido com carinho. Não sei como os meus avós se sentiam sendo avô, avó de três meninos traquinos, irrequietos e comilões.
Eu adorava ir para as casas deles, ver Mangina servir o bife de caçarola suculento e derramar o molho da carne sobre o cuscuz, ligar o rádio de mesa cheio de botões de vovô e ouvir ele falando umas línguas estranhas; de ir lá no sítio em Saloá para tomar leite recém retirado de uma vaca e tomar um copo com umas coleradas de açúcar, de acordar com o cheiro gostoso do café coado, colhido ali mesmo. De me servir em uma mesa enorme e enfrentar um prato de cuscuz com leite, que mais parecia de leite com cuscuz e ouvir: "Come menino para tua mãe não reclamar que você tá muito magro."
Chegar perto de Pai Jaime e ficar doidinho para pegar aquele rifle Winchester, luzindo pela lubrificação, encostado em pé na parede, perto da cabeceira da sua cama. Dirigir para vovô Valdemar e ouvir ele dizer: "A roda é quadrada?", quando dirigia devagar ou ele ralhar quando eu passava dos oitenta quilômetros por hora: "Tá correndo muito, rapazinho."
Era assim, eu sabia ser neto, vou aprender a ser avô para que as netas, os netos se lembrem de mim quando estiverem com 60 anos.
Abração, Semana Iluminada.
Marconi Urquiza