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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Foi tudo tão muito, e imensamente, tão pouco.

Mensagem em Homenagem Dia do Amigo, a vida é só alegria para quem ...

Foi tudo tão muito, e imensamente, tão pouco. 

Por muito pouco eu não iria para um reencontro com amigos. A pandemia já dava as suas caras e eu pensei, no duro, eu pensei: "E se não eu não tiver outra chance?" Por causa dessa pergunta, ganhava em mim uma dimensão, que sempre esteve por aí na vida: a da urgência, do querer fazer tudo que fosse possível. 

Pois bem, só fechei a viagem quatro dias antes da data. Mandei revisar o carro e nos preparamos para viajar. Eu e Nega.

Então dois dias antes, pegamos a estrada para o Primeiro Encontro dos Ex-Funcionários do Banco do Brasil em Afogados da Ingazeira. A viagem, com estrada conhecida, muito conhecida por mim até São Caetano. Não sei contabilizar quantas vezes passei por este trecho. Cem vezes, é bem provável. Então foram cerca de 150 quilômetros só olhando para a rodovia da BR 232. O túnel da Serra das Russas já havia ficado para trás.

Caruaru nem via mais no horizonte, quando passamos de São Caetano,  a viagem se transformou para mim. A memória começou a comparar o presente com as minhas lembranças e eu comecei a narrar para minha esposa a primeira viagem para Afogados da Ingazeira em janeiro 1982. Naquela tarde de sábado, eu ofereci  a um policial militar uma carona, minha companhia até Sanharó, naquela primeira ida, trinta e oito anos antes. Era um jovem de 22 anos.

Uns quilômetros à frente, chegamos em Belo Jardim. Do lado cá, meu sogro teria dito, se referindo do lado direito da rodovia, estava tudo quase do mesmo jeito, mas do lado de lá, esquerdo, muito havia mudado.

Lá na frente, eu me lembrei:
- Você se lembra quando viajamos com três grávidas para Recife? 
- Lembro, - foi a resposta de Nega. 

Eram as esposas de dois outros colegas. Um dos casais, da Bahia, colocou o nome do seu primogênito de Marconi. Uma honra nunca agradecida. Não lembro do nome desse colega, nem sei onde moram e como está o filho.

Ainda mais à frente, em Pesqueira, fiquei em dúvida e comentei:
- Nega, tem um hotel por aqui, - mas não lembrava de qual lado. Era do lado direito, indo para Afogados. Quando eu vi, exclamei: "Olha, é esse!" Menos de um quilômetro, viramos à esquerda, descemos a ladeira e cinco quilômetros depois a estrada estava na mesma. 

Chegamos em Arcoverde, visualizei a Chevrolet Tamboril do lado esquerdo, busquei com os olhos um antigo arquivo geral do Banco do Brasil, do lado direito, até lembrei do dia em que a cruzei o centro da cidade, chovia forte e o velho Chevette jogava água  para dentro, por um buraco aberto do canto do para-brisa, pela ferrugem.

Deixamos Arcoverde para trás e vimos Cruzeiro do Nordeste. Aquela vila em que foi rodado parte do filme Central do Brasil. Na frente de Polícia Rodoviária Federal, pegamos a direita e seguimos para Sertânia. Qual não foi o desapontamento, aquele pedaço de rodovia estava congelado no tempo. Asfalto remendado, pintura apagada, beirada da pista comida pelo trafego, acostamento de terra. Tudo bem semelhante a 1994, a última vez que havia passado por ela. 

Alguns quilômetros depois de Sertânia, seguimos para Albuquerque Né. Depois do trevo, aquele pedaço rodovia também estava ruim, quase igual a rodovia que a gente passava em 1987. O piso permanecia todo carcomido. Quando a vila apareceu, diminui a velocidade e fui procurando com avidez a bodega, onde perdido em 1982, parei para perguntar como faria que para chegar em Afogados da Ingazeira. Até disse a Nega que pedi uma Coca-Cola antes de perguntar. Naquele nove de janeiro, a noite já havia nos abraçado.

Me lembrei que segui tateando a estrada e vi um povoado, mas ele estava distante da dela. Ao olhar para a esquerda eu vi uma casa grande, fui até lá e gritei uns três boas-noites. Já estava desistindo, quando sorrateiro, um homem alto, magro, apareceu, deu a informação  que eu precisava, mas quando vi o enorme revólver encostado na sua perna, agradeci e quase correndo, entrei no carro.

Nessa ida agora, a casa estava pintada, recuperada, até corrimão havia sido colocado. 

Depois de Irajai, meia hora mais tarde a gente já tinha passado por Iguaraci e entrava em Afogados da Ingazeira, mais um dia e uma noite, rolaria a festa.

Após o check-in no hotel, nós descemos para o centro da cidade. Irremediavelmente a minha lembrança me levou àquela antiga praça, cheia de areia nos canteiros, passeio arenoso. Estava em janeiro de 2020 arrumada, cuidada, arborizada. Mais um pouco eu ouvi uma voz conhecida e comecei a me sentir energizado, como nos diz o poema de Ademar Rafael:

"Sinto-me energizado
  No  dia que eu consigo
  Reencontrar um amigo
  Que me apoiou no
  passado.
  Recarrego a bateria.
  Na troca de energia,
  Gerada em cada 
  abraço."

Na festa nos reunimos com Alcyr, Jéferson, Tarciso, chegou Ivanílson, Belo chegou depois, cumprimentamos tanta gente. Jéferson comentou sobre uma crônica que escrevi, depois Alcyr começou a falar, vinte anos da sua vida, contada em vinte minutos. Sabe, como faltou conversa! Ficou incompleta, quase nada falei da nossa vida. 

Então a música entrou, alta, a conversa foi minguando e a saudade nascendo, dos amigos que vi por lá. 

Na troca de energia gerada em cada abraço, foi tudo tão muito, e imensamente, tão pouco. 

Foi tudo tão muito, e imensamente, tão pouco.



Abração. Semana iluminada.
Marconi Urquiza



sexta-feira, 22 de maio de 2020

Comentários de uma leitura


Fotomontagem livro aberto - Pixiz



Seja sempre inquieto e vez por outra paciente,

parece contraditório soa meio diferente

mas às vezes pisar no freio

também é andar pra frente.

Braúlio Bessa

Nesta semana eu vi muitos amigos trazendo as suas recordações, as suas saudades, especialmente por meio de fotografias, desencadeada pela história de João Mendes, da sua superação após não ser selecionado  para menor aprendiz do Banco do Brasil. 
Isto me deu um curto estímulo, não aproveitei e a minha mente esvaziou, fiquei sem ideias para escrever a crônica desta semana. Com aquele "branco", a doença que ocorre com escritores mundo afora, eu cheguei na sexta acreditando que teria de recorrer ao meu amuleto da sorte, um dos livros de crônicas de Antônio Maria (Araújo de Morais). Peguei o livro Bendito sejam as meninas, folheei, vi a crônica, Mulher nua na janela e não me animei.
Nos últimos sessenta dias eu li vários livros e fiz muitas leituras incompletas de crônicas, artigos mais elaboradas pelos jornais, tenho evitado vídeos pesados, assisti a algumas lives e vi alguns filmes que não derrubassem o meu estado de ânimo. 
Tem momento que eu fujo para dentro do site Canva e fico horas imaginando uma capa para os meus livros. Tem horas que fujo para dentro desses livros, já cansados deles: A Puta Rainha; Um nome para Alice e A morte não é uma opção. Livro que passei a chamá-lo de Livro 3 por causa da palavra morte. 
Mas não fujo mais para as leituras de livros do gênero policial e afins, que eu tanto gosto.  Romance de suspense psicológico, nem ver. Não vou estragar todo o esforço de neutralizar as emoções ruins deste momento em que vivemos.
Aí me ocorreu prestar a atenção nas poesias populares, declamadas pelos poetas nordestinos. Parecem só falar de dor, de saudade, do passado e de certo modo, da desesperança.  Comecei a prestar a atenção nos comentaristas da televisão, dos debatedores do programa de Geraldo Freire, na Rádio Jornal de Recife. A esperança, como palavra de estímulo, tende a passar longe. 
Entre os livros que li estão: Colégio de Freiras, instigante (Raimundo Carrero); Em busca de sentido, livro que ensina a não sucumbir a um momento como este (Viktor E. Frankl); O Sedutor do Sertão. Livro levíssimo, mensagem bem humorada (Ariano Suassuna); Caçando Carneiros, uma história que envolve algo sobrenatural. Prosa fabulosa. (Haruki Murakami). 
Depois de guardá-lo por mais seis meses, comecei a ler Agá, de Hermilo Borba Filho.  Boa prosa, livro envolvente, temas bons e que já o teria torado (lido) em uma semana de leitura. Já fez um mês. O livro tem passagens pesadas, mas sem se comparar a Stephen King, mesmo assim, tem sido penoso continuar lendo ele. Vou terminar, mas vou devagar. Um capítulo por semana. Estou na metade.
Aí na esteira daquele saudosismo aberto nesta semana, por João Mendes, eu viajei para um bocado de anos atrás. O ano era 2002, eu havia concluído a faculdade de Direito e ficava com toda a noite livre depois do jantar. Assinei os canais Telecine e comecei a assistir filmes, depois de 90 dias, eles começaram a se repetir, foi quando eu desencavei da cabeça um projeto bem antigo: Ler os livros de autores pernambucanos clássicos. O primeiro foi: Um Estadista no Império, de Joaquim Nabuco, devolvi à biblioteca da Universidade Corporativa do Banco do Brasil em dois dias. Não gostei da redação empolada. Foi quando me lembrei do meu desejo de ler Gilberto Freire. Havia lido com dificuldade Casa Grande & Senzala. Peguei outros, dois ou três, mas um me encantou.
Esse que me encantou foi Ingleses no Brasil. Gilberto Freire foi trazendo, com pormenores, a influência inglesa no Brasil, especialmente em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Beber uísque, os nossos senhores feudais vestirem ternos brancos, o gosto pelo chapéu Panamá e várias outras influências na nossa cultura. 
Não me arrisco a enumerar, pois a leitura tem mais de dezoito anos. É um livro grande, 411 páginas de uma prosa fabulosa, fácil de ler, com frases que chamam as outras. Cada capítulo, uma descoberta, até que eu esbarrei em uma frase, a achei tão bonita que anotei em um papel, continuei a leitura. Gostei tanto do modo como Gilberto Freire escrevia, que eu disse para mim: Quero escrever como ele. Pois ele falava no livro da história do Brasil como se tivesse falando de uma traição bem picante.

Por causa da elegante e instigante frase de Gilberto Freire, eu escrevi um poema.

NÃO FOI TANTO, DECERTO!
MAS FOI QUANTO.
              Gilberto Freire (Ingleses no Brasil)

Não foi tanto amor,
decerto foi menor,
pois quanto se faz,
se mede pela razão,
pelo resultado que
cresce.

E a emoção,
se mede pelo que 
desce.

Decerto! 

Foi quanto,
que se mede o apreço
pelo resultado da 
alegria de sonhar,
da felicidade de 
ouvir o sorriso
de animar.

Decerto! 

Foi quanto
o coração se abriu
para querer e 
o resultado é mais,
que a soma percebida,
é mais uma conta 
sentida.

Então pode se dizer
que o amor,

Não é tanto, decerto!
É quanto.

(Araruna, PR, 08/4/2002)


Fabulosa semana.
Marconi Urquiza



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