
Em 2007 eu comecei a escrever
um romance, meio histórico, meio ficção. Meio fácil e muito difícil.
Fácil na parte não emotiva, difícil quando exigiu um distanciamento objetivo,
que não fui capaz de ter.
Eu tinha
uma parte dos fatos, tinha uma visão parcial dos atores e expectadores daqueles
momentos e, fui buscar ouvir algumas pessoas para preencher as muitas lacunas
daqueles fatos, fatídicos. Queria conversar com muitas, na verdade, nem cheguei
a falar com cinco contemporâneos dos acontecimentos de 1982.
Eu
desejava corroborar as opiniões que diziam ter havido sacrifício, entre várias
hipóteses. Mas o quadro ficou embaçado. Algumas das pessoas, com as quais
eu conversei, se emocionaram e isto me impediu de continuar conversando com
elas.
Mas, antes
destas conversas, eu já havia começado a escrever um livro, havia pesquisado
sobre o coronelismo político no Brasil, havia inventado detalhes para os
conflitos da eleição de 1911 em Bom Conselho-PE.
Até nome
para o livro eu já havia criado: O último café do coronel.
Agora em
2019, depois de 12 anos, eu pensei em retomar este projeto, coloquei sobre a
mesa todas as anotações e decidi preencher as lacunas através da seguinte
indagação:
O que
ocorreu com meu pai poderia ter sido diferente?
Com este
espírito eu fui visitar a redação do jornal A Gazeta, em Bom Conselho, e,
principalmente, Luiz Clério, no último dia 20. Para minha surpresa
encontrei vários contemporâneos dos acontecimentos de 1982 e entre eles, alguns
amigos do meu pai.
Em certo
momento, após eu ler uma curta crônica, em um livro de um autor local, onde o
nome de Marne Urquiza, meu pai, é citado, eu fiz alguns comentários. Por
causa disto o assunto ganhou impulso. Em mais uma meia hora veio uma informação
que eu desconhecia, o meu interlocutor disse que queriam que meu pai dissesse o
destino de dois dos envolvidos naquela confusão, que culminou com seu
assassinato.
Sim, esta
era uma questão nova para mim e para ela cabia um bocado de reflexão.
Muita, muita e muita.
Enquanto a
conversa prosseguia eu fiquei imaginando se o jeito de ser do meu pai lhe
permitiria dar tal informação, se ele soubesse. O que não foi dito naquela
oportunidade.
Às vezes,
nós somos tão leais às nossas crenças e aos nossos valores que a gente se
quebra todo para NÃO se desviar destes valores e das nossas crenças.
Tal dúvida
a respeito do perfil do meu pai perdurou todo o dia, perdurou todo o final de
semana e me deu a convicção que irei escrever o romance "O último café do
coronel" com viés todo ficcional.
Escrever a
memória daqueles acontecimentos cabe a um historiador. Eu não me sinto capaz de
suportar o reviver de anos de dor e saudade, de raiva e frustração, não depois
de ter conseguido lidar com aqueles fatos e ter obtido paz de espírito,
conquista que não desejo renunciar.
Assim, deixo
o desafio aberto para um historiador que queira fazer esta pesquisa histórica. É
possível que vá encontrar uma história rica, cheia de nuances, com o melhor
enredo que só a vida, vivida, é capaz de propiciar.
Abraço,
Marconi
Urquiza
Recife, 25 de setembro de 2019.