sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Sobre livros e sobre vidas

 

Foi este livro que me inspirou a criar o título O Último Café do Coronel

 "Até no mundo real
  Pode ter dualidade.
  No campo da ficção
  Pode existir verdade.
  A verdade nunca é
  plena
  E a ficção armazena
  Algo da realidade."
              Ademar Rafael Ferreira


Alguns títulos de livros me atraíram à leitura. Vou citar quatro, são eles e na ordem de leitura:

- Travessuras da Menina Má;  O Negociante de Inícios de Romances; O Vendedor de Passados e, O Mapeador de Ausências.

Todos os livros trazem invenções com fatos concretos, só não consegui concluir a leitura de O Negociante de Inícios de Romances. Na metade da leitura não entendi a proposta do autor e parei.

Travessuras da Menina Má, de Mário Vargas Llosa, é um livro do qual tenho uma enorme dúvida, mesmo passado tanto tempo da sua publicação. Enquanto lia, logo após tê-lo feito e 14 anos depois da leitura, sempre que lembro dele sinto o comichão da dúvida. O romance é uma história real? Se não for, a sua capacidade de  iludir chegou à perfeição. Para mim é o melhor livro de Vargas Llosa, dos seis que li. É de uma mulher diferente de tudo e de um homem esquisitão, com um amor perpétuo e impossível por essa mulher.

Muito tempo depois estou em uma livraria e vejo o romance: O Vendedor de Passados.  Desta vez li a quarta capa e a orelha.  Aquela apresentação curta me fez comprar o livro. A prosa leve, um português parecido com o nosso, uma história cativante, um personagem engenhoso, outras tantas querendo um passado novo e distante do período colonial de Angola.  José Eduardo Agualusa, com uma prosa leve, passeia pelo bom humor, pelo trágico e pela história da violência da Polícia Política colonial de Portugal.

Na última segunda-feira conclui a leitura de O Mapeador de Ausências. Ele se assemelha ao livro de Agualusa nas revelações das atrocidades da polícia portuguesa em Moçambique, nos estertores do regime colonial. Tal como, O Vendedor de Passados, a prosa é leve. O vai e vem do presente e passado é bem marcado.

Fui buscar nesse livro ideias que me propiciasse desenrolar o novelo que se transformou o rascunho de O Último Café do Coronel. Um livro que sai da ficção e cai com uma bomba na biografia de um período pesado de Bom Conselho, de minha mãe e irmãos, como para mim, dos amigos de meu pai e até de alguns adversários dele daquele período.

Não posso afirmar que achei um caminho, ou uma ideia para prosseguir, ou mesmo um modo de imitar Mia Couto.  Não achei nada, além de uma ótima leitura. Mas fiquei a matutar. Quanto de passado a ser “resolvido” existe nas pessoas? Quanto de história precisa ser “revivida” na mente e no coração para ser, de fato, colocada no mapa da ausência?

Como projeto de escritor, este talvez seja o maior desafio da minha vida, como um controlador de voo das emoções que estão amarradas com correntes de um elo só, para que não escape, nem tenha espaço para se mover e não perturbar.

Como muito se escuta por aí, o passado deve ficar no passado. Mia Couto vem trazendo as histórias dos ausentes como se elas fossem mal contadas pelos que estão no futuro e no presente.

É um contraponto com O Vendedor de Passados, onde o passado não precisa ser esclarecido na sua inteireza, que seja de verdade. O passado é para os vivos, é para se transformar em um passado que os orgulhe e que possam apresentar-se bem com eles.

Aqui e acolá estoura uma fraude de uma biografia inventada, a mais comum, uma pessoa que diz que fez doutorado no estrangeiro, sem ter feito; ter feito formação profissional e as apresenta como concluído, sem que tenha de fato ocorrido. O Vendedor de Passado é para esse público, que deseja uma biografia foda.

O Mapeador de Ausências é como um mapa, em que aqueles personagens vão revisitar os ausentes há muito enterrados, mas vivos. É um pouco como o que veio ocorrendo quando tive o impulso de escrever O Último Café do Coronel. As pessoas que poderiam me ajudar a entender aquele tormento, toda aquela confusão e toda a dor, estão quase todas ausentes. Os poucos que restam, não conseguem falar do assunto, a emoção toma conta e eu choro junto.

Escrever Decisão de Matar, com toda a sua gama de história real, ficcionada, foi muito mais fácil. Várias daquelas ocorrências drásticas eu soube em tempo real, mas fui mero expectador, a dor não me atingiu, o sufoco e as mortes foram de outras famílias. Apesar disso, mais de 25 anos após certos eventos que estão no livro, eles passam por minha mente como se visse um filme. Aqui foi um ficcionista olhando as coisas quase de longe.

Cá, em O Último Café do Coronel, a emoção estava presente em cada hora que escrevi, em cada hora que ficou na gaveta. Eu não era um ficcionista inventando, até tem muita invenção, também não era um biógrafo, trazendo os fatos com a objetividade do historiador, ainda que se utilize das técnicas literárias. Era o filho que quis escrever sobre os últimos meses da vida de um pai, morto em meio de uma disputa política, história da qual nenhum historiador se aventurou em contar, nem eu conseguirei fazer.

 

Abraço e ótimo final de semana.

Marconi Urquiza


Capas dos livros:




Assista o Booktrailer, CLIQUE no link abaixo e comente o que achou dele:








sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O drible da vaca




               Agora que tem dois brasileiros na final da Copa Libertadores eu pensei em dois jogos pra lá de antigos. 


1º Tempo, começa o jogo, as cortinas se abrem.


            Em 1990, eu doido para jogar bola, terminei patrocinando o glorioso, e de vida curta, Sport Club Caraúbas para entrar em um torneio organizado pela Liga de Apodi. 

            Acho que estavam dois times de Caraúbas, um de Dix-Sept Rosado, um de Felipe Guerra e acho que dois de Apodi.  Cidades do oeste potiguar.

            Em uma das rodadas, fomos para Felipe Guerra.  No time dessa cidade atuava o jovem prefeito.

            O árbitro era da Liga de Mossoró, quase profissionais.  Todo ataque nosso, soava um apito. Em certo momento, Porquinho, nosso melhor jogador, fez uma jogada, armou o chute. O apito veio estridente.

            No primeiro tempo tomamos 2 x 0, gols do prefeito bom de bola. Eu olhava para o juiz e fazia caras e bocas, mas não reclamava. 

            Quando acabou o primeiro tempo eu encostei nele e fiz um comentário que não entendia as suas marcações, não lembro como, apelei: "deixa a gente jogar, já tão difícil, eles já têm 2 x 0". Ele olhou para mim e disse uma frase parecida com essa:

            - Olha, sabe o que é, eu quero chegar inteiro em casa. Meus meninos estão me esperando. 

           Balancei a cabeça, olhei aquele imenso campo arenoso, até bonito, com as marcações no solo. Redes bem esticadas.  Alguma plateia, então caminhei para a preleção do nosso técnico, convicto que naquela tarde essa regra de "sobrevivência arbitral" já havia decretado o resultado da partida.


2º Tempo, vamos ver se o time empata.


           A outra história antiga ocorreu, quando, certo dia, Erickson Torres convidou a mim e a Seba para jogarmos em um Sítio em Afogados da Ingazeira. Não vou nem arriscar o nome desse local para não errar feio, o tempo vai tão longe que nem lembro direito o ano, talvez 1984.

            Era um domingo, depois do almoço nos encontramos na frente da agência do Banco do Brasil de Afogados da Ingazeira. Após o nosso time estar todo junto, saímos da cidade, acho que fomos em quatro automóveis pequenos.

            O jogo teria que iniciar cedo, de modo que acabasse ainda com luz solar.  Vou chutar: às 14 horas começou a partida.

            Naquela tarde eu tive dois estranhamentos. O primeiro: O campo tinha um declive de um lado para o outro ao longo da lateral, o outro você lerá. 

           No primeiro tempo, o nosso time atacaria para o gol, cujo lado direito, estava quase cinquenta centímetros mais alto que o lado esquerdo. Como se tivesse uma drenagem natural. Típico campo de terra batida e muito cascalho.

  Começou o jogo. O sol a pino queimava o lado do rosto e incomodava a vista pela luminosidade excessiva. Tem mais, não havia, naquele campo, uma sombra que aliviasse o calor.

 Nosso time, um pega-na-rua, corria desarticulado. O outro time, não era muito melhor que o nosso. Digamos que do nosso lado tivesse um ou dois jogadores de uma técnica apurada, do outro lado, mais jogadores velozes e que conheciam o campo, que era rodeado por uma cerca de varas, de maneira que ela serviu como um alambrado para que a única bola não se perdesse no mato.

     A bola corria no chão quente, a sede começou a chegar, o cansaço em jogar em sol mais forte já dava sinais para o nosso time,  especialmente para mim, pois só jogava à noite na AABB de Afogados da Ingazeira.

      De vez em quando eu apostava corrida com o ponta, ao sair do miolo da zaga, para fazer cobertura do lado esquerdo. Já não tinha o mesmo preparo e nem o mesmo peso de dois anos antes.

      A única coisa que melhorou nesse período, é que havia começado a usar uma meia fina por baixo do meião e tal atitude evitou que fizesse calos nos pés, mas não livrava de sentir aquele calor infernal ao pisar no chão quente.

       Não sei em que momento tomamos um gol. Achei estranha a jogada que o antecedeu, mas nada comentei. O tempo correu e raramente ocorria uma chance de gol, principalmente do nosso time. O jogo estava morno, mais cá que lá.

     Os times agora estavam lentos ao sabor do calor de mais de 32 graus. O nosso lateral esquerdo subiu e parou, acho que ficou lá na frente puxando fôlego, mas o ponta, esse ficou de moita.

       Então bola veio para ele, que veloz disparou, eu cheguei para fazer a marcação, cerquei o rapaz e pensei: ele vai dominar a bola e marcado, volta com ela ou dá um passe. Fiquei tranquilo, o resto do gás daria para não deixar ele livre e até pensei: qualquer coisa uso o corpo e interrompo a jogada com uma falta tática.

      Meu velho! Meu velho! O jogador se voltou, deu um bico de efeito na direção da cerca,  me deu um drible da vaca e correu para o gol. Claro, eu parei, era para ser lateral. A pelada não tinha juiz, era a boca e o bom senso.

       O cabra correu sem marcação e acertou outro bico, gol, dois a zero, foi então que saí do mutismo:

- Que negócio é esse? Foi lateral!

- Aqui não tem lateral – outro respondeu.

- Como não?

- A regra da gente é, bateu na cerca do lado campo, pode continuar o jogo.

- Tá errado

- Pode até tá. Não disseram que a gente joga assim?

- Não.

          Assim a reclamação acabou e o gol, sem VAR e com o puxadinho da regra, foi validado. 


Abração, 

Marconi Urquiza.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Prevente Senhor

    


    Muitos anos já se passaram desde que o desejo de escrever uma história se transformou em a ação frenética que durou 15 dias e cem páginas escritas.

    Naquele distante janeiro de 1999, tudo veio à mente, quase como uma psicografia as ideias chegaram concatenadas e na ordem narrativa.

    Na inspiração para o personagem central, veio a lembrança de conversas de papai com amigos sobre um grande empresário da construção civil que havia quebrado e dado prejuízos a uma quantidade imensa de pessoas em meados dos anos 1970

    De tais conversas, ouvi que ele deixou o caos em Recife e foi morar no Rio de Janeiro. 

    Esse homem real me fez, de modo muito intuitivo, criar Carlos Rivera.  Em ser que tem tudo, inteligência, tino e percepção para negociar, menos escrúpulo. Um perfil semelhante ao do presidente da empresa de saúde Prevent Senior. Bem formado, ambicioso, zero de escrúpulo. 

    Voltando para o nosso personagem de ficção. Carlos Rivera ficou rico do modo  típico dos mafiosos, roubando, fraudando, usando a sua influência. Evoluiu, unindo a sua inteligência, com a inteligência outros personagens ávidos pelo bom dinheiro que recebia dele.

    O caso da Prevent Senior, ocorreu que os mortos tiveram dos seus prontuários a supressão que adoeceram da Covid-19. Lendo as reportagens dos sites, fiquei pensando quais poderiam ser as motivações.
    Manter a aura que havia implementado uma solução milagrosa para salvar os doentes ricos da Covid-19? 
    Grana? 
    Falta de ética médica? 
    Alinhamento de pensamento com uma corrente do tratamento precoce e uso de certas drogas? 

    O que parece, é que forçaram profissionais ou cooptaram outros a sumirem da certidão de óbito a questão da Covid-19.

    O nosso personagem, Carlos Rivera, bruto na ação, um gentleman no trato, descobriu uma forma de se utilizar do aparato judicial para enriquecer ainda mais.  Saiu limpando a sua biografia, mas sujeira boa, ainda deixa uma borra, é só procurar.

    Mas a impotência também transforma pessoas, a frustração pode provocar depressão ou raiva. A maioria sai sem força quando é atingido por um furacão como Carlos Rivera ou um vulcão, como é o caso da Prevent Senior. 

    Mas há pessoas que introjeta uma raiva por longos anos, mostrando uma face de paz e tranquilidade. Esse pode ser o caso do romance Decisão de Matar.

    Se interessou, vá no link e leia o primeiro capítulo.
    

     

     
       

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A aventura do passarinho dentro da casa

    Não se sabe o que atraiu o passarinho para aquela casa. Ele chegou, pousou sobre o muro e ficou observando. Dava um pio, outro, andou para um lado, depois voltou e após algum tempo levantou voo, mas não foi para longe, pousou em uma jabuticabeira que ficava no oitão da casa.

    Outros passarinhos também se aproximaram, a jabuticabeira carregada exalava o seu perfume forte, meio azedo, o chão estava forrado de frutos.

    O passarinho ficou por ali, quando os seus amigos da natureza chegaram ele foi para uma árvore sombreadora que ficava no jardim, no entanto, a sua curiosidade fez ele se fixar na casa.

    De dentro da casa se ouvia as vozes alegres das crianças, um converseiro de dá agonia, vez por outra a voz da mãe entrava disciplinando a confusão entre os filhos. O pai estava em outro cômodo da casa, mexendo em alguma coisa. Nem ele, nem passarinho se viam ou ouviam mutuamente.

    O passarinho, pequeno, se assustou quando um sabiá, maior que ele pousou por perto, ele, por precaução, mudou de galho. Em certo instante sentiu o cheiro de uma fruta aberta e seu o seu olfato o levou a mudar de árvore e ir para uma goiabeira. Ele deu algumas picadas na goiaba, se alimentou e saiu de perto daquele fruto, foi para uma árvore que ficava mais perto da casa.

    Lá na cozinha da casa a mãe preparava o café das crianças, ela abriu dois mamões papaia, limpou as sementes e os cortou em cubos e os colocou em um prato sobre a mesa da cozinha. Saiu para vestir as crianças, o pai passou pela cozinha, saiu pela porta dos fundos e foi fazer a limpeza dos tapetes do carro. Fazia diariamente para não encher o carro de areia e de barro, o vermelho, capaz de encardir tudo.

    Ali, na garagem aberta, ele viu o passarinho voar e pousar na travessa do teto da edícula. Não lhe pareceu que ele estivesse perdido.

    O passarinho parece que havia se decidido de alguma coisa. Ficou observando o homem, que o havia ignorado, olhou para a casa e ouviu de longe as vozes alegres das crianças sendo arrumadas e perfumadas pela mãe, para irem para a escola. Todos prontos, camisas por dentro das bermudas e com os cabelos penteados para trás.

    O passarinho pulou para um caibro e se aproximou da entrada da cozinha, deu dois pulos e ficou olhando para a mesa onde estava o mamão, depois se aventurou e voou, entrou na cozinha e pousou sobre um armário alto. Em segundos pousou sobre a mesa e deu uma picadinha no doce mamão. Foi neste momento que a cozinha se encheu, os três filhos chegaram junto com a mãe.

    Da garagem o pai ouviu os filhos gritarem e aquilo despertou a sua curiosidade. O que estaria acontecendo? Quando chegou na cozinha, os três filhos estavam correndo para a sala vizinha e depois para a varanda fechada por uma janela envidraçada. Eles queriam brincar com o passarinho, que queria fugir e voava de um lado para o outro na varanda, se encontrar uma brecha para sair da casa.

    Quando o pai se aproximou, ouviu da esposa: um passarinho entrou dentro de casa.

Aquele ser miúdo estava apavorado, um dos meninos quis pegar ele, mas o pássaro se esquivou voando entre as mãos.

    O passarinho olhava para todos os lados, mirou para o pequeno corredor e se preparou para voar por ele, foi quando o homem apareceu e frustrou a sua intenção.

    O pai das crianças ficou olhando aquela agonia do pequeno pássaro, que já estava cansado, por isso se aninhou no beiral de uma porta. Cauteloso, o pai andou até o janelão e abriu uma brecha. O bicho nem se mexeu. O homem ampliou a abertura, o passarinho permaneceu quieto. O pai abriu as duas folhas de vidro e escancarou a janela, deixando a brisa varrer a casa de ar fresco, mas o pássaro ainda ficou parado. Então alguém soprou para o homem: Sai daí, e ele se afastou da janela.

O passarinho olhou, sentiu o ar fresco chegando para respirar, viu a família agrupada no outro lado da varanda e se encheu de coragem. Deu um voo curto até o beiral da janela, piou e olhou para os gigantes humanos, virou as costas e foi pousar no galho mais alto da árvore sombreadora, de onde poderia viajar.

    A mãe chamou as crianças para tomar café. A janela ficou aberta e todos foram para a cozinha. Logo as crianças seriam levadas para a escola e os pais iriam para os seus trabalhos.

    No meio do café todos se voltaram para a porta dos fundos e perto dela, pousado sobre um balanço de cordas o passarinho dava seu show de canto.

    Dois dias depois ele voltou, ao ver a família reunida, se aninhou no beiral da janela lateral da cozinha e começou a cantar.

    No dia seguinte voltou e fez novo show matinal.

    No terceiro dia uma das crianças falou alegre: Olha pai, o passarinho é amigo da gente!

    A partir daí o passarinho foi recebido com água fresca e alpiste.

 


    Abraço, Marconi Urquiza


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

HATERS



    No Fantástico, do último domingo, teve uma reportagem sobre as ações dos Haters nas redes sociais. Em resumo, é ódio destilado e destrambelhado, correndo ladeira abaixo, em palavras ferinas sem nenhuma preocupação com quem será atingido, sob o sentimento de impunidade.

    Fiquei curioso e fui ampliar o meu entendimento. Consegui entender um pouco do termo. Há dois tipos de Haters ou Odiadores: o que agride e se sente forte por isso, e, o hater profissional, aquele que cria situações voltadas para objetivos, geralmente políticos.

    É um bulliyng em escala super ampliada e velocidade do pensamento.
    Ouvi explicações é que tais pessoas são dominadas por sentimentos de frustrações, inveja, preconceitos ou outras concepções despertadas por alguns algoritmos. Sem deixar de citar que há pessoas que são apenas más.

    No ano passado, em setembro comecei a imaginar um projeto de um romance envolvendo haters e suas consequências. Por causa disso me pus a ler e até reler alguns artigos.

    O primeiro livro que li, tem muito tempo, despertou a curiosidade sobre os crimes da internet, os dos hackers. Em Mercado Sombrio, o cibercrime e você, Misha Glenny faz uma análise de quanto nós, individualmente, podemos alimentar esse processo.

    Quando a curiosidade sobre o tema voltou a acordar, comprei mais cinco livros, alguns focados nas ações dos hackers. Não buscava a técnica, mas o modo de pensar. Dentre esses livros, li um, no qual anotei minhas impressões, que foi “Os engenheiros do caos”. Nesse, o foco do estudo são os algoritmos criados para influenciar as eleições. EUA, Inglaterra, Itália e até no Brasil.

    Achando que deveria ir atrás de mais conhecimento, comprei o romance de nome sugestivo e que se aproxima das consequências que a reportagem do Fantástico trouxe: o suicídio do filho da cantora Walkyria Santos, Lucas. No romance O Tribunal da Quinta-Feira, Michel Laub narra uma situação de tamanha complexidade e consequência.

    Aí veio a semana da pátria, corolário de muitas outras situações, algumas em que com denúncias de haver sequestro das cores, dos símbolos e das datas nacionais por grupo de uma corrente política, que não larga uma certa forma de pensar. Tal como alguém que encucou, travou em uma ideia, que se tornou impermeável a qualquer reflexão.

    Há uma frase no livro que leia a alguns dias, cuja autora fala na sigla ADM. Ela se fez entender que ADM, tal qual se julgou que o Iraque de Saddam tivesse, é uma arma de destruição em massa.

    ADM, é para Cathy O´Neil, Algoritmo de Destruição em Massa. São construções de programas de informática que se utilizam de técnicas avançadas de detecção de fragilidades, necessidades, desejos, entre outros sentimentos, para impulsionar as pessoas a comprarem além das suas necessidades e condições.
    Tudo feito, tudo articulado para enriquecer uns poucos, ou empresas, sem a menor preocupação ética e até legal.

    Vamos voltar à questão do sequestro de símbolos e sobretudo do sequestro da subjetividade, que uma vez dominada, tudo o que for diferente, fica de fora dessa bolha. Tudo que está de fora dela é motivo para ser agredido, mesmo que o pensamento encucado seja feito do pior bom senso.

    Com a visão distorcida, julgamos tudo nosso como certo e tudo que for o pensar diferente é fator, para os mais radicais, de agredirem os “opressores do seu melhor pensamento”.

    Aí, volto para entrar na questão dos haters e seu ódio sem causa, insano. Já que não há controle sobre isso, a ponta que tem que se proteger é você mesmo, em caso contrário pode se tornar uma vítima.

    Lembre de algo muito importante, parafraseando Sigmund Freud: “Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”. Quando alguém critica tão violentamente outrem, está criticando a si mesmo.

    Não ler e se desligar do escrito, bloquear os comentários, ou agir como ex-cantora Gretchen, que responde com o mesmo tom as agressões, sem se importar com o que digam sobre ela.

    Importa dizer, se tal problema ocorrer com você, saia por uns tempos da internet e deixe os maledicentes falando só. Colha, colha provas, se desejar, denuncie essas pessoas à polícia, é preciso que o agressor perceba que se “é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”.


    Abraço, Marconi Urquiza


Livros citados:









sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Vamos lá fazer o que será!!!!

 


            Fé na vida, fé no homem, fé no que virá

            Nós podemos tudo, nós podemos mais

            Vamos lá fazer o que será.

                                            Gonzaguinha


            Você já esteve em alguma reunião que corria alguma energia, como um rio subterrâneo, até que ele apareceu iluminando a natureza, criando vegetação e dando vida. Foi assim, foi quase desse modo, foi o que senti.

            Três anos atrás fui a uma reunião parecida, de posse de uma diretoria. Naquela noite tudo curto, sisudo, muito formal e até, tenso.

            Na última quarta fui com Cida, formos o segundo casal a chegar no Salão Capiba da AABB Recife. Mesas separadas, conforme o protocolo da Covid-19.

            Os amigos e os conhecidos foram chegando aos poucos e sentando às suas mesas, e foram se juntando, a afinidade aflorando, a saudade matando o desejo de se reunir, de contar sobre com passaram, como estão hoje, compartilhar de sua vida. 

            Eita vontade de abraçar. Eita!

            Os presentes, todos adultos, já puxados nos anos, presumo, vacinados. Havia entre eles amigos que não se viam a um e meio. Muitos ali já haviam rompido os dois anos sem se encontrarem, gente que se encontrava regularmente.

            Eita vontade de abraçar. Eita!

            A reunião prosseguiu, sisuda, como deve ser um ato solene e chegou a hora do discurso do presidente da AABB Euler, reeleito.

           Euler, ao contrário de suas intervenções curtas, trouxe um texto longo, formal. Começou a ler, em certo momento, fez imagens de um sentido mais filosófico, mas o discurso foi ganhando outro tom, que a sisudez de um discurso escrito não costuma permitir e foi ganhando o colorido da emoção.

            Ontem um menino que brincava me falou

            Que hoje é a semente do amanhã

            Para não ter medo, que esse tempo vai passar

            Não se desespere não, nem pare de sonhar

            Quando ele cantou essa estrofe de capela, o papel já repousava no púlpito, era na sua voz a força da esperança e da superação. Fé no homem, fé na vida, fé no que virá. Foi nesse momento que os presentes começaram a vibrar, como aquele rio subterrâneo, e os aplausos protocolares, sem entusiasmo, foram ganhando o colorido da vida e já não eram mais de pessoas educadas, mas de fãs. E a energia correu todos nós.

            Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
            Nós podemos tudo, nós podemos mais
            Vamos lá fazer o que será
            Vamos lá fazer o que será

            Vamos lá fazer...

            Olha o sol nascendo!
            Viva o Sol! Viva o mar!
            Viva a saúde!
            Viva o vento! Viva a vida!

            Vamos fazer o que será!!!

            
            Abração, Marconi Urquiza



        Clique no link e veja o vídeo com Erasmo Carlos cantando a canção.

        SEMENTES DO AMANHÃ

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Abuso, abusado, abusivo

 


A primeira vez que li algo a respeito eu fiquei, assim, meio parado, refletindo sobre o conteúdo. Era como se tudo tivesse se juntado em uma palavra: Tóxico.

Tóxico. Era assim que papai falava sobre pessoas viciadas em drogas, especialmente a maconha, nos anos da década de 1960 em diante. Outras drogas ilícitas não estavam ainda infestando por Bom Conselho, naqueles anos da minha infância.

O tempo passou e um estudioso do trabalho escreveu sobre ambientes do trabalho tóxicos. Aqueles ambientes que provocam tanto desconforto que levam ao adoecimento psíquico de muita gente e o sofrimento mental para a muita gente.

Ansiedade, insônia, alcoolismo, isolamento, irritabilidade, baixa produtividade, entre outros problemas.

Na esteira que aquela leitura me despertou, vieram outras e mais outras, até que li sobre a Síndrome de Burnout. Em uma imagem simples e direta, é como se a pessoa queimasse por dentro como um fósforo aceso.

Tempos depois, esbarrei em uma matéria sobre comunicação não violenta. No contraponto disso, a comunicação agressiva é bem comum. Não precisa gritar, até em voz baixa pode se xingar, diminuir a autoestima, minar a confiança.

Hoje se sabe que a violência doméstica, física, vem precedida da comunicação violenta. É um processo lento e crescente de abuso entre pessoas. É semelhante ao que ocorre na parábola do sapo que ferve junto com a água, sem que esboce qualquer reação. A temperatura vai subindo e o animal morre sem fazer nenhum movimento para sair da panela.

Vários anos se passaram até que definisse uma percepção, a partir de uma lembrança de um jogo de futebol.

Em 1995, nós fomos jogar futebol de salão em uma cidade vizinha. Em certo momento, um jogador foi ao árbitro e disse que estava levando pancadas de um adversário. O árbitro fez ouvidos de mouco.

Na jogada seguinte levou outra e compreendeu que do árbitro não haveria nenhuma ação.

O tempo correu e o jogador, que gostava de ser duro levou uma trombada que o jogou no chão. O que deu o troco, olhou para o árbitro e esperou que ele apitasse falta e até o advertisse. Não apitou e o jogo prosseguiu sem que aquele, que andou lhe dando pancadas, tentasse de novo lhe machucar.

Mais de 20 anos depois, estava em casa, muitas recordações vieram na esteira da reflexão sobre relacionamentos abusivos, após ver uma sucessão de notícias sobre feminicídios.

Puxei o assunto na hora do café, em uma das conversas se falou de uma pessoa pública, notório por não respeitar limites. E dá indicações que o que coloca um freio momentâneo nas suas atitudes, é uma reação na mesma altura da sua agressão.

O modo abusivo de ser é desse modo, não adianta contemporizar, pois lhe dar força para o seu comportamento. É não deixar o medo tomar conta, mesmo em desvantagem. Sobretudo, não tentar agradar o abusador, que quase sempre interpreta isso como fraqueza, aumentando a sua maldade.

Esse tipo de pessoa é como se estar diante de um vampiro, ele se move e se sente forte ao sugar o nosso sangue espiritual. Não é para se consolar e parar de lutar, tal pessoa, vai sempre atrás de uma vítima, pois é um predador.

Às vezes a luta parece impossível, se isto é o que se tem no momento, se prepare, pode ser que tenha que ter uma reação “abusiva” para se livrar do abuso.

Há um risco, o risco de se tornar uma pessoa abusiva ao reagir. Mas isso é comigo ou com você e não com o abusador.


Abraços, Marconi Urquiza

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...