Não
se sabe o que atraiu o passarinho para aquela casa. Ele chegou, pousou sobre o
muro e ficou observando. Dava um pio, outro, andou para um lado, depois voltou
e após algum tempo levantou voo, mas não foi para longe, pousou em uma
jabuticabeira que ficava no oitão da casa.
Outros
passarinhos também se aproximaram, a jabuticabeira carregada exalava o seu
perfume forte, meio azedo, o chão estava forrado de frutos.
O
passarinho ficou por ali, quando os seus amigos da natureza chegaram ele foi
para uma árvore sombreadora que ficava no jardim, no entanto, a sua curiosidade
fez ele se fixar na casa.
De
dentro da casa se ouvia as vozes alegres das crianças, um converseiro de dá
agonia, vez por outra a voz da mãe entrava disciplinando a confusão entre os
filhos. O pai estava em outro cômodo da casa, mexendo em alguma coisa. Nem ele,
nem passarinho se viam ou ouviam mutuamente.
O
passarinho, pequeno, se assustou quando um sabiá, maior que ele pousou por
perto, ele, por precaução, mudou de galho. Em certo instante sentiu o cheiro de
uma fruta aberta e seu o seu olfato o levou a mudar de árvore e ir para uma
goiabeira. Ele deu algumas picadas na goiaba, se alimentou e saiu de perto
daquele fruto, foi para uma árvore que ficava mais perto da casa.
Lá
na cozinha da casa a mãe preparava o café das crianças, ela abriu dois mamões
papaia, limpou as sementes e os cortou em cubos e os colocou em um prato sobre
a mesa da cozinha. Saiu para vestir as crianças, o pai passou pela cozinha,
saiu pela porta dos fundos e foi fazer a limpeza dos tapetes do carro. Fazia
diariamente para não encher o carro de areia e de barro, o vermelho, capaz de
encardir tudo.
Ali,
na garagem aberta, ele viu o passarinho voar e pousar na travessa do teto da
edícula. Não lhe pareceu que ele estivesse perdido.
O
passarinho parece que havia se decidido de alguma coisa. Ficou observando o
homem, que o havia ignorado, olhou para a casa e ouviu de longe as vozes
alegres das crianças sendo arrumadas e perfumadas pela mãe, para irem para a
escola. Todos prontos, camisas por dentro das bermudas e com os cabelos
penteados para trás.
O
passarinho pulou para um caibro e se aproximou da entrada da cozinha, deu dois
pulos e ficou olhando para a mesa onde estava o mamão, depois se aventurou e
voou, entrou na cozinha e pousou sobre um armário alto. Em segundos pousou
sobre a mesa e deu uma picadinha no doce mamão. Foi neste momento que a cozinha
se encheu, os três filhos chegaram junto com a mãe.
Da
garagem o pai ouviu os filhos gritarem e aquilo despertou a sua curiosidade. O
que estaria acontecendo? Quando chegou na cozinha, os três filhos estavam
correndo para a sala vizinha e depois para a varanda fechada por uma janela
envidraçada. Eles queriam brincar com o passarinho, que queria fugir e voava de
um lado para o outro na varanda, se encontrar uma brecha para sair da casa.
Quando
o pai se aproximou, ouviu da esposa: um passarinho entrou dentro de casa.
Aquele
ser miúdo estava apavorado, um dos meninos quis pegar ele, mas o pássaro se
esquivou voando entre as mãos.
O
passarinho olhava para todos os lados, mirou para o pequeno corredor e se
preparou para voar por ele, foi quando o homem apareceu e frustrou a sua
intenção.
O
pai das crianças ficou olhando aquela agonia do pequeno pássaro, que já estava
cansado, por isso se aninhou no beiral de uma porta. Cauteloso, o pai andou até
o janelão e abriu uma brecha. O bicho nem se mexeu. O homem ampliou a abertura,
o passarinho permaneceu quieto. O pai abriu as duas folhas de vidro e
escancarou a janela, deixando a brisa varrer a casa de ar fresco, mas o pássaro
ainda ficou parado. Então alguém soprou para o homem: Sai daí, e ele se afastou
da janela.
O
passarinho olhou, sentiu o ar fresco chegando para respirar, viu a família
agrupada no outro lado da varanda e se encheu de coragem. Deu um voo curto até
o beiral da janela, piou e olhou para os gigantes humanos, virou as costas e
foi pousar no galho mais alto da árvore sombreadora, de onde poderia viajar.
A
mãe chamou as crianças para tomar café. A janela ficou aberta e todos foram
para a cozinha. Logo as crianças seriam levadas para a escola e os pais iriam
para os seus trabalhos.
No
meio do café todos se voltaram para a porta dos fundos e perto dela, pousado
sobre um balanço de cordas o passarinho dava seu show de canto.
Dois
dias depois ele voltou, ao ver a família reunida, se aninhou no beiral da
janela lateral da cozinha e começou a cantar.
No
dia seguinte voltou e fez novo show matinal.
No
terceiro dia uma das crianças falou alegre: Olha pai, o passarinho é amigo da
gente!
A
partir daí o passarinho foi recebido com água fresca e alpiste.
∞
Abraço, Marconi Urquiza
Estas cenas com pássaros dentro de casa fazem parte da minha vida. Escrevi: "Para evitar que meus pais/Puxassem meu cobertor/O rouxinol nos frechais/Era meu despertador".
ResponderExcluirAdemar, que linda estrofe. Obrigado.
ExcluirCom dez anos eu era caçador de passarinhos armado de um estilingue. Mas era para comer, pois passava fome. Na árvore alta da minha rua um sabia cantava todos os dias de manhã...um dia pensei hoje vai ser o meu almoço e o matei...até hoje ficou marcado em mim o canto do sabia, que nunca mais ouvi...
ResponderExcluir