sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Os bichos de BC, outros apelidos e Zé Mole.

Lá na minha infância tinha uns amigos de papai com alguns apelidos derivados de outros animais,  a começar por ele.

Dr. Gia (rã grande), era o meu pai. Gordo e dono de uma farmácia, da turma dele tinha Pavão. Homem vaidoso, bem apessoado, de origem humilde e bem casado.

Outro grande amigo de papai era o Bicho Velho, Zé Bicho Velho. Homem magro, alto e com a cara de velho desde de novo.

Naqueles tempos tinha ainda o Barrão, machante, como era chamado os açougueiros por lá. Trabalhava no mercado da carne, sujeito gordíssimo, que suava às bicas, tanto que a sua pele parecia eternamente brilhosa.

Havia até um primo do meu pai, chamado de Bode Velho, pois sua voz era extremamente grave, tanto o timbre da voz quanto seu rosto carcomido pelo tempo lembravam um bode berrando.

Mas protagonizei um caso cabuloso quando soube a história de Zé Mole, sabe aquele negócio de politicamente incorreto e incrivelmente inconveniente? Foi o que ocorreu!

Zé Mole era freguês da farmácia do meu pai e ex-inspetor de quarteirão. Na época já era bem idoso, eu o atendia e tinha a curiosidade de conversar com ele. 

Freguês habitual e pontual no pagamento, ele chegava falando alto no final das sextas-feiras, fazia as suas compras e se mandava, mas deixava um rastro de sua irritação congênita. Falava tão abusado que ninguém queira atendê-lo.

Mas calhou que minha curiosidade foi maior que a prudência, pois já fazia um tempo que havia ouvido a história que originou o seu apelido.

Disse papai que ele estava em uma festa quando foi chamado para dá jeito em homem que fazia arruaças. Zé Mole chegou no cara e foi usar a sua autoridade e deu voz de prisão, mas foi surpreendido.

Quando ouvi isso de papai e sua recomendação para não falar com ele do assunto eu me calei durante meses, até que não consegui me aguentar e parti para comprovar a história, o  porquê o chamavam de Zé Mole e na lata eu perguntei a ele, que me olhou atravessado e eu insisti:

"Ou Zé Mole" - olhe a intimidade para um homem de 80 anos, eu que tinha 17 anos. "Ou Zé Mole é verdade que você foi dá ordem de prisão a um bêbado e ele sapecou-lhe um tapa no pé da orelha e você caiu e ao levantar disse teje solto?"

Eu havia todo tempo repetido e rido  ao lembrar dele: "Teje preso! Teje solto! Teje preso! Teje solto!"

Mas o seu olhar atravessado mudou para um olhar de raiva, fechou a cara, empurrou os remédios em minha direção e saiu da farmácia batendo a bengala com força para nunca mais voltar. 

Sabe aquele negócio de ficar com a boca fechada que não engole mosquito?

Pois é, eu faltei a aula de Einstein!

Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.... Frase de Albert Einstein.




OS SAQUES NO ESPÍRITO SANTO

       

        Anteontem no Linkedin Gilliard Leal postou uma foto e seu comentário de um saque em uma loja da Ricardo Eletro e aí se instalou uma longa discussão, com muitas postagens sensatas, outras emocionais, radicais, com acertos e exageros.

      O episódio lembra o caso de Abreu e Lima, inclusive no arrependimento dos envolvidos.

      Nas postagens apareceu falta de caráter, culpa do povo que vota em políticos corruptos, da cultura brasileira de levar vantagem e se aproveitar das oportunidades, mesmo que elas sejam ilegais, como no caso dos saques; até isenção da responsabilidade dos nossos líderes para a influência na cultura brasileiro de levar vantagem em tudo.

      Fiz alguns comentários, com base em dois livros, um que li e outro que estou lendo: Tolerância Zero e O Efeito Lúcifer. Também aproveitei uma citação de um comentário e lembrei de outro livro que li quando fazia o mestrado e tentava encontrar um estudo científico que me ajudasse entender alguns comportamentos no trabalho: Teoria das Janelas Quebradas.

     Todos os livros de alguma forma se relacionam com a psicologia social e sociologia comportamental, assuntos pelos quais sou fascinado. Gosto de entender os comportamentos macro, aquela coisa que nos envolve e muitas vezes só nos damos conta do que fizemos quando a merda já fedeu.

      Não me aprofundando no aspecto da individualidade, estes saques não foram motivados pela necessidade, alguns de má índole iniciam os saques, a maioria (com as suas responsabilidades individuais) entram neles pelo Efeito Manada e só depois é que se dão conta do que fizeram, o que provocou, em ambos os exemplos, a devolução das mercadorias.

      Estes fatos e os estudos citados revelam como somos suscetíveis às influências das circunstâncias, como as situações nos impelem a agir para o bem ou para o mal.

    Inclui o link para quem desejar conhecer a polêmica.

Ótimo final de semana.
Marconi Urquiza

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Cheiros

   

C H E I R O S 

Cheiro de fumaça de café quente,
Cheiro de pão fresquinho,
Cheiros que estão na alma da gente.

Cheiros...
Do leite tirado na hora.
Cheiro do gado no curral.

Cheiro de infância... 
Cheiro da chuva molhando a terra. 
Eu-menina sorrindo na enxurrada.

- Às vezes o dia tem cheiros de ontem! 

®Verluci Almeida
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Amiga leitora, amigo leitor, em algum momento você parou para pensar nos cheiros dos seus lares?

Dois, três, talvez entre quatro e cinco anos eu escrevi uma crônica intitulada de Sons e tive do amigo Djalma Xavier a mais bela resposta a uma crônica minha, dele veio o belo libelo à sua família ao dizer sobre os cheiros da sua casa materna,  do cheiro do amor do seu lar em Pesqueira.

Todo lar tem seus cheiros, o cheiro da cozinha, dos quartos, das roupas, cheiro das pessoas e nos mais antigos vai aparecer até cheiro de lenha queimada.

Mas cheiro do amor, tão claramente declarado, tão amorosamente dito por Djalma e depois de ter passado tanto tempo parece não ser a regra comum.

Da família parece mais comum na idade adulta falar das carências, falar das mágoas, dos sacrifícios materiais e por aí vai, mas de amor?

Bem! De amor é mais escasso, por isso é uma joia rara e por isso é que enalteço OS CHEIROS LÁ DE PESQUEIRA.

      Um Cheiro meu povo!

Um grande abraço e ótimo final de semana,
Marconi Urquiza

domingo, 22 de janeiro de 2017

Agenda da Ausência.

              Quem está ausente, teme e tem todos os males.... Frase de Miguel de Cervantes.    
   Quando ouvi do professor da disciplina de Políticas Públicas no mestrado de Gestão Pública dizer que só vai para a agenda dos governantes quando o problema pode lhe condenar perante a opinião pública eu fiquei sem entender claramente o seu raciocínio: É só assim que há as ações de governo? Então depois comecei a prestar atenção nas situações que provocavam coletivas à imprensa ou os comunicados formais.

     Por causa dos problemas recentes nos presídios eu tenho lido muitas opiniões pelo fato de que eles viraram território das facções, o estado faz que manda e os internos fazem que são mandados.

     Por causa de tais problemas veio o dilema político-legal: deixa os caras se matarem ou intervem gastando uma fortuna?

     Mas aí surgiu a opinião internacional e as piores comparações contra o Brasil forçando o governo a agir, pelo menos na comunicação.

    A questão maior é que os problemas internos nos presídios tem um perna musculosa fora deles, são milhares de agentes anônimos dispostos a agirem em nome da chefia das facções, até já estão se infiltrando nos órgãos do Estado e isso é um problema muito mais grave e que vem sendo reanotados na agenda pública a cada crise e há muito tempo.

    Alguns dos colunistas que li nos jornais, blogs e sites de notícia, como é também da opinião de alguns estudiosos da segurança pública é que o Brasil pode estar entrando na mesma rota da perturbação da ordem institucional que ocorreu na Colômbia  dos anos oitenta e noventa, cujo maior expoente foi o narcotraficante Pablo Escobar, o que por si não exige maiores explicações.

    Se tal realidade estiver mesmo ocorrendo e não for combatida com uma Politica de Estado, de longo prazo e que ultrapassa governos, correremos o risco de vivenciarmos anos de muita agonia.

Abraços e bom final de semana.

Marconi Urquiza



sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Modas de Menino

        Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar.... Frase de Machado de Assis.
         
   Saí dos 57 anos e viajei para os 17, onde meus olhares de curiosidade, mais que de cobiça se voltavam para as meninas.
    
      Eram seres estranhos, todo um continente a ser descoberto e se me perguntar: Descobriu? Amei, mas estou ainda tentando descobrir.
     
      É um universo enorme. Não vou descobrir.
    
     Mas essa viagem para os 17 anos começou na sexta passada em BC, minha terra natal e da minha adolescência.
     
     Passou uma jovem com seus quadris levemente pronunciados, nem retos e nem em excesso, mas com um caminhar que os fazia erguer ritmados, em um requebrado tão natural quanto gracioso.
   
     E o que fez enaltecer esse seu atributo natural foi a roupa, estava vestida em uma calça leve e flexível e não nas habituais armaduras, apertadas, que chamamos de jeans.

     Na hora eu fiz uma analogia nada graciosa, comparei os quadris subindo e descendo a duas cartucheiras do velho oeste, cheias de brilho e de balas.

     Aí foi quando voltei aos 17 anos, curioso e doido para sentir o cheiro e o gosto da pele daquelas meninas que rodavam na Praça Pedro II e sem compreender, patavinas, do coração de uma mulher.

Abraço e bom final de semana.
Marconi Urquiza

BC - Bom Conselho (PE)

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Diz Suzy, mulher, tás boa?

      
     Na realidade mais pura, tudo na vida é único, mas há passagens que são absolutamente únicas. A que vou narrar é uma dessas. 

      Neste sábado eu e Cida, Victor e sua noiva, Milena, fomos ao casamento de Suzy, Suzana.
   
     Conhecemos Suzy ainda bebê, engatinhando, com meses de nascida.
   
     Eu e Cida estávamos recém-casados quando começamos auxiliar os  pais de Suzy a cuidar dela lá em Afogados da Ingazeira, por causa dela nos tornamos amigos e compadres, com Ari e Sylvinha sendo padrinhos do nosso filho Victor.

     Em função de Suzy tive a primeira lição do capítulo do livro da vida de como ser pai.

     Mas meu trato e habilidade com crianças era zero, zero. Zero e com bebês menos ainda, pois eu não sabia como pegar uma criança no colo, eu tinha o maior medo que Suzy se quebrasse toda quando estivesse nos meus braços.
    
     No verbo e no dengo a coisa era ainda pior, mas achei um jeito de me comunicar com ela e assim que a via saia dizendo: "Diz Suzy, mulher, tás boa?"
     E assim foi pelo menos por mais um ano. Dia desses comentando com minha esposa ela me disse que Suzy gostava do meu trato "adulto" e até me chamava de Con.

     Mas, ao que parece, esse jeito sem aquelas palavras de dengo existia um  trato amoroso, carinho e respeito àquele serzinho que nem falava, mas que sentia.

    Pois, enfim, afora os nossos filhos ela é até hoje o único bebê que tivemos o prazer de convivermos na tenra infância e que tivemos a honra de sermos convidados e de vê-la casar.

    Oxalá sejamos convidados para os batismos.
Jampa, 07 de janeiro, às 16.25h
Abraço e bom final de semana.
Marconi Urquiza

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Jogador de Usina

    Futebol moderno é que nem pelada. Todo o mundo corre e ninguém sabe para onde.... Frase de Neném Prancha.     

    Jogador de usina é sinônimo de grosso, de jogador que só dá bicões ou chutões.

    Tem coisas que parecem só ocorrer em mesa de Bar. Ontem estava na Bodega do Abel e ao ver um jogador do time sub-20 do Vasco da Gama cobrar um falta e chutar para bem longe  do gol eu disse: cobrou um tiro de meta e ouvi de outro freguês do Abel emendar: é jogador de usina.

     Aí eu viajei no tempo, nos tempos de Boca do Acre-AM em 1992.

    Depois de muito anos jogando pelada de "alto nível" eu fui convidado por um amigo para jogar uma partida amistosa no Km 120 da estrada Boca do Acre (AM) x Rio Branco (AC).

   Logo após o meio-dia do domingo eu peguei Melquidesec na velha Boca do Acre e seguimos de Fusca, azul, 1982 pela estrada empoeirada para nosso jogo de futebol, acontece, acontece que o Km 120 não era o Km 120. Aliás era, mas no sentido Rio Branco  a Boca do Acre.

   Parados no meio da estrada, com a floresta nos cercando, ficamos perdidos, mas a vontade de jogarmos nos mandou até a uma estalagem que ficava bem na fronteira entre os dois estados e lá perguntamos sobre um campo de futebol no nosso Km 120, aí o homem estranhou, lá é a reserva dos caboclos, mas eu soube que ia ter um jogo aí embaixo, nas terras de uns gaúchos. 

   Com essa dica seguimos para lá, aportamos lá perto da duas da tarde. Para minha decepção, eu que fora convidado a jogar e me achava um ótimo zagueiro só entrei no segundo tempo e nem foi o tempo todo, talvez 30 minutos. Na verdade, eu acho  que nem foi 20 minutos, talvez 15.

    Bom vamos para o jogo!

    Primeiro: entrei de volante.

    Segundo: nem toquei na bola. Literalmente, não toquei na bola!

  Terceiro: o campo era tão pequeno que parecia mais um mini-campo, mas tinha 11 jogadores de cada lado. Uma superpopulação "carcerária."

    Quarto: foi o único jogo na minha vida de defesa para defesa.

    Havia dois xerifões, dois zagueiros que só sabiam bater tiro de meta ou a dá chutões, não tinha esse negócio de dominar a bola e dá um bom passe. Era um jogo de barra a barra. O grandão de lá corria de dava um bicão, o grandão de meu lado deixava a bola passar e dava outro bicão.

   A bola ia para um lado e para o outro, lá no meio do campo eu parecia mais um torcedor de tênis no meio da quadra, que vira a cabeça incessantemente de um lado para o outro. Eu nunca vi tanto míssil em minha vida.
     
   Foi a pior pelada da minha vida. No auge da frustração até me sentei no capim reclamando de uma câimbra no meu humor.

   Olhe! Pense! Pense! Naquele vulto branco só indo e vindo, pense naquele vulto esfumaçado, um fantasma indo e vindo para me assombrar pela eternidade só de pensar em um jogador de usina!

Abraço, 
Marconi Urquiza

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...