Jogador de usina é sinônimo de grosso, de jogador que só dá bicões ou chutões.
Tem coisas que parecem só ocorrer em mesa de Bar. Ontem estava na Bodega do Abel e ao ver um jogador do time sub-20 do Vasco da Gama cobrar um falta e chutar para bem longe do gol eu disse: cobrou um tiro de meta e ouvi de outro freguês do Abel emendar: é jogador de usina.
Aí eu viajei no tempo, nos tempos de Boca do Acre-AM em 1992.
Depois de muito anos jogando pelada de "alto nível" eu fui convidado por um amigo para jogar uma partida amistosa no Km 120 da estrada Boca do Acre (AM) x Rio Branco (AC).
Logo após o meio-dia do domingo eu peguei Melquidesec na velha Boca do Acre e seguimos de Fusca, azul, 1982 pela estrada empoeirada para nosso jogo de futebol, acontece, acontece que o Km 120 não era o Km 120. Aliás era, mas no sentido Rio Branco a Boca do Acre.
Parados no meio da estrada, com a floresta nos cercando, ficamos perdidos, mas a vontade de jogarmos nos mandou até a uma estalagem que ficava bem na fronteira entre os dois estados e lá perguntamos sobre um campo de futebol no nosso Km 120, aí o homem estranhou, lá é a reserva dos caboclos, mas eu soube que ia ter um jogo aí embaixo, nas terras de uns gaúchos.
Com essa dica seguimos para lá, aportamos lá perto da duas da tarde. Para minha decepção, eu que fora convidado a jogar e me achava um ótimo zagueiro só entrei no segundo tempo e nem foi o tempo todo, talvez 30 minutos. Na verdade, eu acho que nem foi 20 minutos, talvez 15.
Bom vamos para o jogo!
Primeiro: entrei de volante.
Segundo: nem toquei na bola. Literalmente, não toquei na bola!
Terceiro: o campo era tão pequeno que parecia mais um mini-campo, mas tinha 11 jogadores de cada lado. Uma superpopulação "carcerária."
Quarto: foi o único jogo na minha vida de defesa para defesa.
Havia dois xerifões, dois zagueiros que só sabiam bater tiro de meta ou a dá chutões, não tinha esse negócio de dominar a bola e dá um bom passe. Era um jogo de barra a barra. O grandão de lá corria de dava um bicão, o grandão de meu lado deixava a bola passar e dava outro bicão.
A bola ia para um lado e para o outro, lá no meio do campo eu parecia mais um torcedor de tênis no meio da quadra, que vira a cabeça incessantemente de um lado para o outro. Eu nunca vi tanto míssil em minha vida.
Foi a pior pelada da minha vida. No auge da frustração até me sentei no capim reclamando de uma câimbra no meu humor.
Olhe! Pense! Pense! Naquele vulto branco só indo e vindo, pense naquele vulto esfumaçado, um fantasma indo e vindo para me assombrar pela eternidade só de pensar em um jogador de usina!
Abraço,
Marconi Urquiza

