sexta-feira, 6 de abril de 2018

Seu lindo bom dia

        Adote o hábito de dizer algo amável ao pronunciar as primeiras palavras pela manhã. Isso estabelecerá sua disposição mental e emocional para todo o dia... Frase de Norman Vincent Peale.

    A vontade de falar sobre a política e suas nuances sem fim ainda me estimulava, mas a inspiração desta semana veio mesmo pela voz sintetizada do aplicativo do Uber e em vez da aridez de falar dos tantos conflitos de nossa realidade atual a voz saída do autofalante do celular me fez ir atrás de uma coisa simples, mas,  geralmente negligenciada. 

     Nesta quarta eu peguei um carro do Uber e o GPS estava conectado ao aplicativo do próprio APP, depois de cinco minutos a voz orienta o motorista, uma voz suave, quase musical, um pouco mais à frente me lembrei da voz metálica e em mono tom do Wize e do Google Maps. 

     Não de imediato, mas um tempo depois a voz de Iris Littieri chegou aos meus ouvidos vinda das minhas recordações. Ela é a dona da famosa voz dos aeroportos brasileiros dos anos 1990. Uma voz suave e lindamente pronunciada.

      São três vozes femininas, mas a quarta me encantou, uma voz belíssima e muito musical.

     Mas antes de falar dela, recordo vivamente de um senhozinho que às cinco horas da manhã caminhava no Parque da Jaqueira no contrafluxo dizendo para cada pessoa que o via: "Bom dia!" Quando não havia resposta ele replicava com um sorriso; "Ainda existe bom dia!", e continuava sua campanha solitária pela humanização do amanhecer naquele pequeno trecho do Recife. 

      Voltando para a voz do GPS do Uber: "Em 800 metros faça uma leve curva a direita na rua Fernandes Vieira" e tal voz me fez lembrar o que por anos, mais de vinte, reclamava uma crônica. 

    Hoje, 2018, a época: 1995. Neste ano cheguei em Barbosa Ferraz, lá no Paraná, na metade do mês de agosto. 

      Fui gerenciar a agência do Banco do Brasil. Lá o principal cliente da agência, fosse pelos negócios ou pela sua enorme influência, era a cooperativa COAMO, por causa disso tínhamos que manter contato com o entreposto dela na cidade praticamente todos os dias.

     Sempre que ligava, a telefonista, que eu supunha ser, atendia e me passava para o gerente do entreposto. Foram pelo menos três semanas  de contato por telefone, só umas poucas vezes conversei com ele pessoalmente na agência do BB.

    A resposta inicial nestas ligações era sempre: "Coamo, bom dia!", sem o padrão de dizer o próprio nome. Com o passar do tempo a sonoridade da voz e o timbre musical me encantou, quando ligava para lá gostava de ouvir: "Coaamo, boom diia! "


     Agora imagine de olhos fechados ouvir na  voz mais bela que você já ouviu na vida dizer um bom dia com essa musicalidade. 


     Imaginou?


    Bem, o tempo passou e eu necessitei conversar com o gerente Darci sobre a safra de verão a ser financiada, eram acordos sobre funcionamento daquele ano: pagamento direto, como agir com os clientes endividados (Qual divisão das receitas o Banco do Brasil e a COAMO fariam), negócios como a retribuição dela em aplicações financeiras, etc.

    Agendo a visita, que ocorreu em um dia de setembro e chego lá antes do horário, pela manhã.  Darci está resolvendo alguns negócios e atrasou alguns minutos, a mulher que me atendeu indicou uma cadeira e eu fiquei esperando. 

    Quando ele chegou, me chamou à sua mesa e começamos a conversar, em certo momento a jovem chega perto, diz algo para ele, eu escutei e não me interessei. A mesa de Darci ficava vizinha ao Caixa e a mulher também atuava como auxiliar à gerência.

    Conversa vai, acertos vêm, toca o telefone: "Coamo, bom dia!" Outra ligação: "Coamo, bom dia!" E a voz bonita, sonora e musical, seguiu me encantando, no entanto, a fantasia de sua dona ser tão bela quanto a sua voz quase estragou o fato de que ela embevecia quem ouvia seu lindo bom dia. 

    Abraço, bom dia!


      

      

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