
Cantarolando baixinho Elisa, repetindo a música que ouvia pelo fone, ela dizia: "Se quiserem saber porque foi que mudei, eu não vou responder porque nem mesmo sei", aí virou a esquina e parou, a enorme placa amarela com azul tomou a sua alma e ela ainda balbuciou, "Se eu esqueço de mim pra lembrar de você"(*). O marido exigente voltava a chama-la.
Elisa, personagem do romance a ser escrito, Inferno Premeditado.
Há quase sete meses eu comecei um trabalho freelance. Depois de vários meses eu percebi que por baixo do meu comportamento impaciente naquele trabalho eu estava aregando com o Banco do Brasil.
A arenga chegou ao seu ápice quando fui coagido para sair do BB em 2015 e eu prometi para mim que o expurgaria da minha vida, assim fiz, tanto quanto foi possível. Entre altos e baixos isto funcionou até recentemente.
Por causa dessa circunstância entrei com ação por assédio moral. No final de janeiro deste ano houve a audiência de instrução do processo. Após os depoimentos eu saí aliviado. Foi minha "vingança" contra esse ser, uma medusa, que não morre nunca, um ser sem alma, incapaz de um mínimo de empatia. Foi nesse monstro que a empresa se transformou para mim, como um serial killer que nem as sucessivas condenações por assédio moral e outros danos psicológicos na Justiça do Trabalho o freia.
A sentença de primeira instância demorou meses, quando recebi em maio a ligação do escritório de advocacia me informando do reconhecimento da magistrada para a existência do assédio moral eu senti um vazio. Um enorme vazio, fiquei calado, não vibrei, não me alegrei, causei estranheza a advogada que cuida do caso, que chegou a me perguntar se eu estava bem. Foi como se de repente tudo houvesse deixado de fazer sentido. Foi como se a morte de um inimigo jogasse a existência do vingador em um limbo.
Uns dois meses depois outro telefonema de outra advogada me deu conta do andamento processual, mais uma vez o vazio não preencheu nenhuma expectativa. Meu espírito para isto estava inerte, minha alma pobre.
Mas nem sempre foi assim, vazio. Por pouco eu não entro em uma depressão, a experiência me aliviou de um maior sofrimento, a raiva me salvou de afundar na lama da angústia. Deliberadamente em comecei a me alimentar dela, até que eu vi perto de mim um dos líderes do assédio de 2015, pessoa para qual a minha raiva era francamente dirigida. Naquele dia eu me assustei, se o encontro tivesse ocorrido eu o teria agredido. Ao chegar em casa naquela manhã de domingo, pela primeira vez em muito tempo, muito tempo, muito, mesmo, eu fiz uma oração de agradecimento por ter chegado em casa apenas com meu kit domingueiro e me prostrei sobre o sofá imaginando o que poderia ter ocorrido.
Posso afirmar que a raiva é uma boa coisa para sobreviver aos traumas, não a raiva assassina, mas a raiva por saber que foi enganado, ludibriado, a raiva que sua confiança foi quebrada. Tal raiva nos deixa alerta e dá energia para continuar lutando.
Mas alguma coisa começou a mudar de maio para junho, no final deste mês vários amigos, que ainda labutam na empresa, postaram situações que se revelaram em um terror corporativo, um inferno premeditado. Só que não parou naquelas notícias, na virada do semestre um amigo, angustiado, me ligou dizendo que o seu gerente dormiu gerente e amanheceu escriturário, outras notícias de um downgrade em massa foram chegando. Esta metáfora da cultura corporativa que cinicamente diz que ao funcionário, você se ferrou, pois foi completamente descartado, em sua maioria.
O aviso do amigo deu um enorme desconforto, mas aí começou a discussão sobre a situação da CASSI, essa super-exposição de assuntos em preto e branco, com o fundo invisível em azul e amarelo. As postagens continuadas, instantâneas, as discussões, muitas vezes fragmentadas, até raivosas, começaram a fazer por mim algo que eu não percebia.
Comecei a interagir com aqueles assuntos, comecei como nunca a prestar a atenção nas postagens do Whatsapp, mais que nunca voltei a aplicar meus conhecimentos da técnica científica da Análise de Conteúdo, aí se deu o resultado que eu desejava, o DNA do discurso cheio de artifícios para não mostrar as suas reais intensões continua presente nas tratativas da empresa perante os funcionários, mormento agora, ao se tratar da CASSI. Discurso que não vem colando com os aposentados.
Nestes últimos três dias algo muito bom se revelou para mim, não posso apagar o BB da minha vida, como desejava, nem pelo lado bom, nem pelo lado ruim. A aceitação, que veio maturando na minha alma sem que eu percebesse, vai mudar minha postura. Vou combater o bom combate.
Meu abraço,
Ouça a bela canção.
(*) CONTRASENSO - Milton Carlos.
Uns dois meses depois outro telefonema de outra advogada me deu conta do andamento processual, mais uma vez o vazio não preencheu nenhuma expectativa. Meu espírito para isto estava inerte, minha alma pobre.
Mas nem sempre foi assim, vazio. Por pouco eu não entro em uma depressão, a experiência me aliviou de um maior sofrimento, a raiva me salvou de afundar na lama da angústia. Deliberadamente em comecei a me alimentar dela, até que eu vi perto de mim um dos líderes do assédio de 2015, pessoa para qual a minha raiva era francamente dirigida. Naquele dia eu me assustei, se o encontro tivesse ocorrido eu o teria agredido. Ao chegar em casa naquela manhã de domingo, pela primeira vez em muito tempo, muito tempo, muito, mesmo, eu fiz uma oração de agradecimento por ter chegado em casa apenas com meu kit domingueiro e me prostrei sobre o sofá imaginando o que poderia ter ocorrido.
Posso afirmar que a raiva é uma boa coisa para sobreviver aos traumas, não a raiva assassina, mas a raiva por saber que foi enganado, ludibriado, a raiva que sua confiança foi quebrada. Tal raiva nos deixa alerta e dá energia para continuar lutando.
Mas alguma coisa começou a mudar de maio para junho, no final deste mês vários amigos, que ainda labutam na empresa, postaram situações que se revelaram em um terror corporativo, um inferno premeditado. Só que não parou naquelas notícias, na virada do semestre um amigo, angustiado, me ligou dizendo que o seu gerente dormiu gerente e amanheceu escriturário, outras notícias de um downgrade em massa foram chegando. Esta metáfora da cultura corporativa que cinicamente diz que ao funcionário, você se ferrou, pois foi completamente descartado, em sua maioria.
O aviso do amigo deu um enorme desconforto, mas aí começou a discussão sobre a situação da CASSI, essa super-exposição de assuntos em preto e branco, com o fundo invisível em azul e amarelo. As postagens continuadas, instantâneas, as discussões, muitas vezes fragmentadas, até raivosas, começaram a fazer por mim algo que eu não percebia.
Comecei a interagir com aqueles assuntos, comecei como nunca a prestar a atenção nas postagens do Whatsapp, mais que nunca voltei a aplicar meus conhecimentos da técnica científica da Análise de Conteúdo, aí se deu o resultado que eu desejava, o DNA do discurso cheio de artifícios para não mostrar as suas reais intensões continua presente nas tratativas da empresa perante os funcionários, mormento agora, ao se tratar da CASSI. Discurso que não vem colando com os aposentados.
Nestes últimos três dias algo muito bom se revelou para mim, não posso apagar o BB da minha vida, como desejava, nem pelo lado bom, nem pelo lado ruim. A aceitação, que veio maturando na minha alma sem que eu percebesse, vai mudar minha postura. Vou combater o bom combate.
Meu abraço,
Ouça a bela canção.
(*) CONTRASENSO - Milton Carlos.
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