
"O homem é um animal político"
significa que ele tem a contraparte mental
das características físicas de um animal da horda.
(Wilfred R. Bion - psicanalista)
Este não é um tema novo. A partir de 1997 estudos científicos foram realizados no Brasil para esmiuçar como as empresas capturavam a subjetividade dos seus empregados. O caso agora é diferente e é muito mais abrangente por envolver a internet e milhões de pessoas.
Fomos todos cobaias de um experimento que deu certo dentro do Facebook.
Alguns anos atrás eu comecei a estudar o livro "O poder das organizações" ( Max Pagès). Neste livro há uma série de análises de aplicações de técnicas, feitas por uma empresa norte americana nos anos 1.980, para dominar a subjetividade dos seus empregados sob uma ampla denominação de Domínio Ideológico. Há até particularidades nelas como a Nova Igreja, onde se criam vínculos a partir de eventos assemelhados aos cultos de uma religião. Trabalha-se o mito da onisciência, a perfeição em forma de organização, que tudo supre e é perfeita.
No final, o resultado é que a subjetividade do funcionário está dominada a tal ponto que toda criticidade do pensamento some. Nenhum contraditório é admitido, pois a subjetividade dominada expulsa o contraditor.
Agora imagine: eu, você, e nossos amigos envolvidos nas redes sociais e agora no Whatsapp, formando uma massa gigantesca, dando likes e não likes adoidado, recebendo enxurradas de Whatsapps. Comentando e apoiando e repassando (sem dó) o que acha de valor, criticando e negando o que não gosta.
O tempo passa, sem notar só chegam postagens que se adequam às respostas que desejamos e as crenças que professamos. Também sem notar, o pensamento começa a ser doutrinado, direcionado para obedecer aos interesses do emissor.
Nenhum contraditório é admitido, a subjetividade dominada expulsa o contraditor.
Sem nos dizer, vão nos fazendo mudar a forma de ver o mundo para mundo que querem que vejamos, não nos deixando perceber as contradições das mensagens.
Sem que se perceba se iniciam as transmissões ao vivo. Cada um fica ansioso, carente da divindade, pelas suas "sábias palavras a indicar o caminho da redenção". A crença domina a lógica e até a contraprova do método científico passa a ser fake.
Nenhum contraditório é admitido, o contraditor existente dentro de nós está morto. Toda opiniao se volta contra o que "pensamos", "acreditamos", a confiança é suprema nas mensagens e a "raiva" ganha destaque quando um outro pensamento se opõe "à minha crença".
A partir desse ponto só importa o sensorial.
A negação é absoluta.
Não valem outras proposições, não valem tentativas para pensar em algo diferente. Nem a sensatez própria de cada um vale algo.
Tudo é rechaçado.
A subjetividade foi sequestrada.
Abraço, Marconi Urquiza.
Citação inicial:
Bion, W. R. (2007). O místico e o grupo [Attention and interpretation]. In W. R. Bion. Atenção e interpretação (pp. 73-81). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1970).
Para se aprofundar mais a respeito do tema clique neste link:
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