quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Doente de Banco


Neste semana li um artigo cujo título me fez voltar 13 anos em minha vida. Parte de um tempo que eu vivi, adoeci sem reconhecer que estava doente e em que muitos outros funcionários também adoeceram, estávamos doentes de Banco do Brasil. Penso que esta realidade perdura, talvez até mais agravada pelo Plano de Adequação de Quadro em curso.

     O artigo do Eliane Brum, "Doente de Brasil", catapultou minhas recordações.

   Neste tempo eu gerenciava a agência do Banco do Brasil de Igarassu e vivia sob uma intensa, também sub-reptícia pressão e medidas da superintendência que eu apenas intuía, sem ter a clareza dos fatos eu tateava na busca por compreender uma realidade que estava além de mim, na busca agoniada para me defender.

     Um dia, me sentindo péssimo, eu fui no médico da CASSI, na consulta eu falei ao médico que me assistia: O Banco do Brasil é uma empresa doente. Disse e repeti. Ele se calou, mas a sua expressão falou mais que qualquer comentário: O seu ceticismo doeu em mim.

     Sim, eu adoeci. Meu corpo se consumia pelo medo.  Minha mente rodava desesperada,  minha alma estava dilacerada, minha produtividade em queda e minha autoconfiança na lona.

     Só quando sai do circuito dos gerentes gerais é que me dei conta quanto eu estava bem doente. Fui procurar tratamento psicológico para sair do círculo nocivo impregnado em minha mente pelo o ambiente tóxico do trabalho. Levei anos até aprender novamente a neutralizar os efeitos de ações para as quais eu nada poderia fazer. Em grande parte fui bem sucedido na busca pela sanidade mental.

     Os anos passaram e eu havia esquecido do recado de um médico,  Dr. Paulo, de Terra Boa, Paraná. 1998 ou 1999. Ele fez o exame periódico de saúde na agência e me deixou por último.  Quando entrei na sala ele nem me examinou, de imediato disse que todo mundo na agência estava no limite e deu o seu recado.  Se um adoecesse seria como a queda de uma fileira de pedras de dominó e que eu deveria cuidar disso e mudar a forma de gerenciar, se não; ficaria só.

     Imagina ser o amortecedor de uma pressão que vinha desde o eterno. Sim, eu fiz.  A fala do Dr. Paulo me levou mudar a minha forma de agir, transformou em mim o modo costumeiro de gerenciar as pessoas na empresa, de aliar ao modelo de alto desempenho a ação mais humana e compassiva, de dialogar e construir juntos as soluções, de me interessar pelos problemas das pessoas. 

     Veio 2013, 2014 e parte de 2015.

     Eu era apenas um observador experiente e esse adoecimento ocorreu como previu Dr. Paulo. Agamenon Magalhães, em Recife,  de uma agência que esbanjava felicidade, passou a esbanjar adoecimento laboral.

     Gente com licença médica,  gente tomando medicamento controlado, sorriso de menos, agressividade de mais. A alegria deu adeus e não voltou mais, mas o bullying retornou arrasador.

     Estávamos Doentes de Banco do Brasil.

    Mas tal contexto não é uma exceção, apenas não nos damos conta, como indica o artigo Doente de Brasil, cujo link anexei.

     Tem mais, conheça sobre a Síndrome de Bournout e defenda-se antes que a queda na sua produtividade justifique as medidas que o ambiente de trabalho tóxico já tem em sua cartilha. 

Abraço.
Marconi.

Artigo de Eliane Brum, jornal El Pais.com/Brasil.

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