sábado, 12 de outubro de 2019

Encantado por estar aprendendo

É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.... Frase de Aristóteles.

Encantado.

Amanhã, se o divino permitir, eu serei sexagenário. Encantado. 

O que posso conversar com os mais jovens? Pois a vibe deles, naturalmente, é bem distinta da minha. 

Em 2007 eu acordei com 25 anos de trabalho e me questionei: O que vou fazer com estes conhecimentos? Comecei, sempre que possível, conversando com meus filhos, tentando sincronizar a minha experiência profissional à deles, que iniciavam à vida no trabalho. Foi útil para mim, principalmente.

Parece que nesta idade, a gente vai recordando as dores, os amores, as aventuras, deixando de lado, sempre que possível os percalços, e tentando, essencialmente, ser nós mesmos. Sentir saudade é natural, mas é um pecado que não se deve cultivar por longo tempo, pois a velha deprê ronda o sexagenário feito uma ave de rapina. "Vai para lá urubu do cão!" Coitado do urubu, que tem a sua nobre função na natureza.

Três anos e meio atrás eu  comecei uma jornada. A jornada de escrever um romance, como muitos já sabem. Era escrevendo e lendo, estudando, até formei um pequena biblioteca de livros sobre o bom português. Dicionários de termos, dicionários de regências, gramáticas, pequenos livros sobre as técnicas de escrever uma ficção. Dois cursos à distância. Tudo no plural. 

Foi tudo misturado e realizado ao mesmo tempo em que eu escrevia o livro. O resultado, é que melhorei em alguma coisa e gerei uma enorme confusão ao tentar aplicar aqueles conhecimentos durante a escrita. No fim, bem, ao final saiu o livro.  Agora o esforço é para transformar a sua história um texto capaz de encantar o leitor.

Se quisermos, continuaremos a aprender. Fora do trabalho e de suas exigências a tendência em quem se aposenta é se acomodar.  Acomodação que acomete até no físico, e vamos criando tantas cancelas, que vão nos impedindo de viver. Quantas cancelas teremos para o resto dos dias? Muitas? Pois bem, conscientes que teremos que abrir todas, só penso que em como vou abri-las, na ida e na volta da viagem.

Foi assim que comecei a jornada de escrever A Puta Rainha, cansado dele, dois meses atrás, eu disse: Vou tirar férias de Dora. Aí fui ler alguns livros, pois há meses não conseguia ler nada. Li três, queria desopilar meu fígado cerebral. 

Duas semanas atrás peguei um presente, como um lindo bordado construído ao longo de dois meses, e com ele voltei ao livro. Uma bela revisão gramatical. Vocês não imaginam como eu fiquei encantado com aquele trabalho. 

Comecei a transcrever as correções e logo no início eu pensei: Se tem tantos erros de pontuação, eu preciso aprender a pontuar.

Aí em vez de apagar o erro e colocar no lugar a correção eu fui corrigindo e deixando o errado de lado, tachando o erro e colocando-o em vermelho. Assim foi feita a correção, naquela pisadinha miúda, como deve ser uma boa revisão. Andei mais de cem páginas de A4, em torno de 400 palavras por página.  Para quem gosta de precisão. Pelos menos 40.000 palavras.

Quando passei da centésima página eu comecei a perceber uma mudança em mim. Em um processo de aprendizado lento, foi chegando à compreensão de como é meu estilo de escrever as cenas. Ainda era uma coisa embaçada. Toquei a viagem, restavam mais 52 páginas daquele presente valioso. E, fui ficando cada vez mais encantado com a atenção empregada pela revisora.  

Quando faltavam menos de 10 páginas para eu transcrever as correções, o presente da revisão se transformou em autoconhecimento. 

A compreensão, o saber como era de fato o meu estilo de redigir deu-me, quase a cura, para a maior deficiência que havia no livro, milhares de erros de pontuação. Então passei a semana encantado. Encantado.

Passei a semana feliz por estar aprendendo a pontuar, não apenas conforme os ensinamentos da técnica tradicional, mas para atender às minhas características de escritor.

Sabe, eu me encantei, pois, quase aos 60 anos, fui capaz de aprender algo inteiramente novo e difícil para mim, graças à boa vontade de Ana Karine. 


Abraço,
Marconi.



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