sexta-feira, 20 de março de 2020

Eu estou com medo ... O medo bom

# Sextou # Crônica # Deixe seu comentário

A confiança é a mãe do descuido.... Frase de Baltasar Gracián y Morales.


Depois de seis dias de recluso, ontem eu dei uma saída para pegar dinheiro e comprar medicamentos. Podia estar contente, nestes seis dias consegui escrever quase cem páginas e conclui um romance inacabado desde 1999. Foi o medo que aumentou minha capacidade criativa e o sentido de urgência a me dar foco e energia para redigir até 10 horas diárias.

Pois bem, saí de casa e fui comprar uma tomada para ar-condicionado, uma dos funcionários falava sobre a pandemia, outro em cinco minutos higienizou as mãos duas vezes. 

Cheguei no ETC (misto de galeria com escritórios diversos). Precisava utilizar uma conta da Caixa Federal. Senti algumas pessoas preocupadas. Nas Lojas Americanas presenciei a mãe e sua filha conversando e se aproximando demais das pessoas. Não sei se negavam a realidade ou eram imprudentes. Me incomodou e dei dois passos para frente.

Dentro do shopping olhei a Lotérica, costumeiramente cheia, estava vazia. Olhei e vi alguns idosos passando por lá, vi tensão e vi muito medo. Medo. Talvez o mesmo medo que meu rosto revelava.

Dali fui na farmácia da mesma galeria, não esperei, mesmo os fregueses, dois apenas, guardando distância, o ambiente era muito pequeno. Saí do ETC e passei em uma loja, ali perto, fui comprar um borrifador. Freguesia não vi. Ouvi uma das funcionárias falando um tanto despreocupada, quando perguntei se havia borrifador ela me levou onde estava, mas sua expressão mudou.

Saí desta loja em fui em outra farmácia, que tem um movimento mais fraco. A primeira coisa que notei, a sua porta estava aberta, escancarada. Era costumeiramente fechada por causa do ar-condicionado. Pedi três meses dos medicamentos aos quais devo diariamente tomar. Não esperei que a CASSI me mandasse.

Enquanto eu aguardava o atendente despachar meus pedidos, uma senhora, mais idosa que os meus sessenta anos entrou e perguntou por álcool em gel. "Não". Ela, guardando distância, correspondeu ao meu olhar, e na expressão dela, havia o maior dos medos. 

Tem medo ruim, tem. TEM TAMBÉM O MEDO BOM, tem e neste momento o medo de ser contagiado é um medo bom, que deve ser seguido pelas medidas de higiene, pelo isolamento social. Pela autodefesa, que se deve ser coletiva.

Ontem quando eu voltei, uma nova contagem regressiva recomeçou, a do aumento do risco de contágio, infelizmente, hoje de novo. A minha esposa foi ao supermercado. 

Tempos atrás, há um bocado de anos, eu tinha uma certa predileção por leituras, digamos mais técnicas. Alguns filósofos antigos entraram nessas leituras, um deles foi o Baltasar Gracián, espanhol do século 16. Dele eu comprei A Arte da Prudência. Li parte do livro com gosto, não lembro mais o que nele me chamou a atenção, mas hoje, diante do quadro do Coronavírus trago dele, este ensinamento:

"NÃO DEVEMOS PERDER UMA HORA, POIS  NÃO ESTAMOS SEGURO NEM DE UM MINUTO".


Abraço, saúde e paz.
Marconi Urquiza








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