
O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade
Aqui da varanda de casa olho o mundo, o mundo empatado pelos prédios que cercam o meu apartamento. As janelas estão vazias, um, outro, raros moradores chegam e também olham o mundo, apenas alguns segundos, logo voltam. Vêem menos do que eu, não contemplam o que enxergam.
Ouço no streaming uma canção de Chico Buarque, agora um clássico cubano embala os meus ouvidos, não gostei, apertei uma tecla e entrou outra música. Deixei ela embalar até a metade, busquei uma canção que o meu espírito aprove e me deixe contente, perto da alegria e longe da tristeza.
Oitenta dias de quarentena. Levanto a cabeça e fico olhando ao redor, sem procurar nada e tudo, desejando não me entediar, por isso passeio com olhar. O sol a pino deixa as cores vivas, bonitas, não faz calor na varanda. O sol está nas costas do prédio. Olho a taça de cerveja, está quase no final, daqui a pouco irei abrir outra minicerveja.
Os meus olhos voltam a passear de novo pelos prédios, esbarro durante poucos segundos, vejo uma pessoa, em um apartamento alto, bater um tecido na janela, jogando pó ao vento, que irá longe, o vento sopra suave.
Continuei sentado e passeando pela vizinhança, com aquela preguiça de quem vê a mesma coisa toda vez que olha no horizonte, aí o meu olhar esbarrou em uma janela, vi alguém como se estivesse bailando, agucei o olhar e vi uma mamãe embalando o seu bebê ao som daquela música, que só está no seu coração.
O amor é grande e cabe no bailar de um ninar

(Recife, domingo. 31 de maio de 2020. Entre às onze horas e o meio-dia)
Abração, semana iluminada.
Marconi Urquiza
Fazer crônica do cotidiano é ter percepção alargada pela sensibilidade. Parabéns.
ResponderExcluirDesculpe, falhou a minha resposta pelo celular, ainda bem, me deu oportunidade de escrever outra coisa.
ExcluirNão de repente, mas a mesmice da quarentena, a cobertura da Covid-19 e da política brasileira, traz uma mesmice perigoso, a da acomodação. Como escrevi a crônica no momento em que vi a cena final, penso que peguei no "ar" o meu sentimento de "espanto". Em geral eu mato tais inspirações, não anoto, tento jogar na memória, mas ele foge e o texto ao escrever depois perde a emoção.
Dois dias depois a publicar veja uma postagem no Facebook (Penso de Norma Lúcia) com uma atriz lendo um texto de Rubem Alves: A COMPLICADA ARTE DE VER.
Sabe, aí eu pensei: Parece que achei um caminho para as minhas crônicas. Já vou adiantar o título da próxima: Passarinho tomando sol.
No meio do caos que a nossa vida se tornou do dia para a noite, o embalar de uma mãe nos lembra que tudo passa. Que texto bonito para amenizar esse momento.
ResponderExcluirDesculpe Ana, falhou a minha resposta pelo celular. Penso que só escrevi este texto por que escrevei a primeira versão tão logo vi a cena. Ali no ato, no verso de uma página em branco, de um texto que eu revisava, eu escrevi. Creio que por isso pude pegar a emoção e o sentimento daqueles instantes.
ExcluirDois dias depois a publicar veja uma postagem no Facebook lendo um texto de Rubem Alves: A COMPLICADA ARTE DE VER.
Sabe, aí eu pensei: Parece que achei um caminho para as minhas crônicas. Já vou adiantar o título da próxima: Passarinho tomando sol.
Abração.