"Quem é o culpado? Naturalmente é o bandido por praticar crimes."
Na última terça-feira acordei querendo escrever sobre a soltura do traficante André do Rap. Os comentários à princípio criticaram o ministro do STF Marco Aurélio Mello e ainda continuam. Depois os comentários foram dirigidos ao relator da matéria, da lei anticrime, que se se desculpou dizendo que não era para soltar traficante ou bandido perigoso ou notório. Depois a crítica foi para o Presidente da República por não ter vetado o artigo 316 do Código Penal.
Agorinha eu pensei no mais artificioso e repetido dilema: "Quem nasceu primeiro, foi o ovo ou foi a galinha?" Quem criou o artigo, quem aprovou, quem não vetou e quem aplicou o artigo em um caso concreto?
Quem é o culpado? Naturalmente é o bandido por praticar crimes.
Ao se colocar o artigo na lei anticrime, eu imagino que o deputado relator e os que aprovaram pensaram em si mesmos. Ouso alegar que eles estavam ressabiados dos abusos ocorridos durante a Operação Lava-Jato. Das prisões preventivas intermináveis para forçar uma delação premiada. Só que a lei, para ser JUSTA, deveria ser aplicadas para todos e neste caso, o dano colateral estourou com a soltura do André do Rap. Segundo notícia do G1, o ministro Marco Aurélio já havia aplicado o artigo 316 do Código Penal em quase 80 casos.
Também se falou que o traficante tem duas condenações em segunda instância e que deveria está preso, não estava por causa de um artigo da constituição que o impede.
A interpretação, de ontem, do STF, é que a soltura do preso com base no citado artigo não pode ser automática.
- Quantas pessoas estão presas com prisão preventiva a mais de 90 dias, cujos processos estão dormindo o sono dos mortos nas gavetas e arquivos físicos ou virtuais dos juízes? Ou do Ministério Público?
- E se o solto fosse um bandido chinfrim?
- E se o solto fosse um político sem influência?
Nestes exemplos ou outros correlatos, haveria tanta repercussão?
Nestes dias em que o assunto anda em evidência, eu ouvi outro aspecto dessa quadra de gritas e reclamações. Se não interpretei errado, eu ouvi um entrevistado na tevê dizer que seria demais para a agenda dos juízes tomarem conta de todos os casos de prisões preventivas e também darem conta da agenda "normal".
- Os casos são tão, assim, numerosos que tomaria a agenda dos juízes?
- Se são, assim numerosos, então a organização dos trabalhos está falha?
Depois de tantas indagações eu fiquei refletindo sobre todo o contexto. Não vi em nenhum lugar que houve uma motivação extra, do tipo subliminar, para o ministro Marco Aurélio Mello ter decidido sobre a soltura do notório traficante. Mas, sem dúvida, foi a sua notoriedade, o seu poder, a sua capacidade financeira e de articulação é que provocou toda esta discussão. Bandido do baixo clero nem daria aquela coceira discreta no saco.
Outro fator, de minha livre manifestação, é que o que ocorreu foi uma lição para todos. O ministro, pode não ter desejado, mas mostrou que a lei tem falhas, mostrou também que há defeitos no sistema judicial em manter sem nenhum andamento, sem nenhuma atenção, muitas ações criminais, justas ou injustas. Mostrou, querendo ou não querendo, que o assunto merecia atenção das autoridades judiciais e da sociedade, e foi o que ocorreu.
Revelou, para quem quiser ver, minúcias do sistema judicial criminal brasileiro para que haja uma atenção plena para as execuções penais, pois tem muito preso que deveria ser solto e, estão presos, tem crime que poderia ser punido com penas alternativas de pequeno delitos e há a prisão, compulsória na nossa cultura. Sem esgotar o tema, realidades que o sistema judicial e o estado brasileiro deveriam cuidar adequadamente.
Enfim, eu torço para que a justiça seja justa e que as imperfeições sejam corrigidas em um processo de melhoria contínua.
Este caso mostrou que a rainha está nua.
Marco Aurélio mandou soltar quase 80 presos usando o mesmo critério de André do Rap.
Promotor diz que a fuga de André do Rap era esperada e critica Marco Aurélio
(*) PASSANDO A LIMPO - Parte final do áudio - Após o minutos 40.
(*) Passando a Limpo, Super Manhã, Geraldo Freire. Rádio Jornal FM, 90.3 - Recife (PE).
Lei não é o mesmo que justiça e justiça é algo diferente de justiçamento. O Estado faliu e a sociedade entrou em concordata.
ResponderExcluirAdemar Rafael Ferreira
Comentário fenomenal. Tens toda razão. Justiça não é justiçamento.
ResponderExcluirDE MARCOS (via Whatsapp - Grupo Reencontro Agamenon): Bom texto, Marconi. Muito ponderado.
ResponderExcluirObrigado.
ResponderExcluirDE HÉLIO NORONHA via Whatsapp - Grupo Dona Duda): No meio jurídico (e jornalístico) TODOS sabem, há décadas, que a prisão preventiva no Brasil é utilizada descaradamente como meio de punição e não de prevenção. E a grande maioria é de pobres, pretos e putas...
ResponderExcluirUm instrumento censitário, para ser mais elegante .
ExcluirDE CÍCERO MORATO (VIA WHATSAPP - Grupo Jovens aposentados): Isto mesmo, Marconi, nessas questões vale quanto pesa $$$$ o freguês!!! E eu complemento seu pensamento com o quadro humorístico abaixo!��
ResponderExcluirNão poderia ser melhor.
ExcluirParabéns pela lucidez de sua análise.
ResponderExcluirObrigado Raimundo. Abração
ExcluirFranz Kafka já criticou o judiciário, em seu "O Processo". Isso, em um tempo passado. Com o retrocesso de nossa civilização nos dias atuais, tá difícil crer em evolução.
ResponderExcluirSinto que os serviços vindo do Estado estão cada vez mais voltadas para eles mesmos.
ExcluirDE RONALD TEIXEIRA (Via Whatsapp privado):
ResponderExcluirMais nua do
que a "Puta Rainha".
Para os leigos, fica
difícl entender uma
soltura de
O que nasceu
primeiro: o ovo ou a
galinha?
O que diz o cidadão
Nem mesmo o
professor sabe
Esse assunto não
cabe
Na minha
compreensão
Não sei se antes de
Adão
Esse negócio já vinha
Nem se, antes, já tinha
Ovos, galinha, poleiro
Nem sei o que nasceu
primeiro
Se ovo, galo, ou
galinha
José Bernardino
É muito difícil se ter
Resposta para a
questão
Acho que nem
Salomão
Haveria de saber
Não dar para
responder
Essa sestrosa advinha
Porém a sugestão
minha
É perguntar para o
povo:
Uns dirão que foi
ovo
Outros, que a galinha.
Seu "Rona Bancaro".
Nesse dilema
insolúvel
Sua palavra é a minha
Sou de sua opinião
E sigo na mesma linha
Matutando sobre isso
Minha cabeça já vinha
Querendo saber do
povo
Num esforço
derradeiro
Quem foi que nasceu
primeiro
Foi o ovo ou galinha.
Dênis Portela
O poeta Dênis
Portela
Falou e não disse nada
Pois não matou a
charada
Com a sua chorumela
Encerro, aqui, a
querela
Essa contenda
mesquinha
E uma vontade minha
Nesta glosa eu
externo
Galo, ovo e galinha.
Ronaldo Teixeira Cavalcante - O "Rona Bancaro".
Que contribuição maravilhosa.
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