O nosso caramelo é branco retinto, pelos cedosos, focinho preto e olhos tão escuros que não se consegue ver a pupila. É calmo, mas late demais a qualquer ruído forte e quando um de nós chega em casa. Quer atenção.
De um tempo para cá todo cão marrom virou caramelo, mas antes o dono de um apelidou seu travesso animal de Caramelo, o vídeo viralizou e o nome ganhou adeptos Brasil afora.
Ontem vi vídeo de um animal quase todo preto, com as patas marrom. Mais um cão divertido, apresentado como caramelo, aí lembrei da minha história com um caramelo.
Fez exatamente uma semana.
Saí de casa, mirei para o caminho de João Pessoa, Avenida Rosa e Silva ficou para trás e entrei na Estrada do Arraial. Ia devagar. Quando as manhãs estão frescas me encanta dirigir com os vidros abertos para sentir o vento acariciando meu rosto.
No sinal da Estrada do Arraial com a rua da Harmonia o trânsito parou. Um minuto, minuto e meio. Parado na faixa da esquerda, vizinho à faixa de ciclista, olhava para o lado, esperando a de vez de seguir viagem, aí apareceu o caramelo.
Ele caminhava faceiro, cheio de confiança, passou pelo cruzamento vazio e veio em minha direção. Andava com um rebolado, uma passada, com jeito e expressão dos seres felizes.
Veio se aproximando, passou ao meu lado, naquela pisadinha ritmada dos bons dançarinos e seguiu na direção do Sítio da Trindade, parque urbano que existe nas imediações.
Segurei o carro o quanto pude, pois o acompanhava pelo retrovisor. Em poucos segundos o perderia de vista.
O que veio depois foi imaginação. Ele era um cachorro com os pelos viçosos, estava com o peso normal, não tinha no olhar nenhum traço de medo.
Então Caramelo seguiu pela faixa de ciclista, passou por corredores de rua, uma bicicleta veio em sua direção, ele deu um drible. O seu rebolado seguia encantando. Passou pela esquina do Consulado da China e parou 100 metros adiante em uma rua que só dá passagem para pedestre. Encostou-se em uma árvore gigante, deu uma coçada no dorso, depois ergueu a perna e batizou o tronco daquela árvore.
Ficou um tempo por ali parado. Levantou a cabeça e pareceu medir a réstia do Sol. Ficou uns minutos olhando o filete de luz se alongar até um meio da rua, então balançou o rabo e saiu rebolando, imaginando como iria se explicar tá chegando tão cedo, ou tão tarde, vez que não dormiu em casa na noite passada.
Então de fininho e com carinho começou a arranhar a porta da casa, que foi sendo aberta e uma voz carinhosa foi dizendo: Caramelo, nem dormi direito preocupada com você. Venha garoto, sua comidinha eu já coloquei.
Caramelo entrou, passou se arrastando na perna de sua dona, tocou com o focinho frio na mão dela, lambeu a sua pele, deu dois grunhidos de gratidão e foi comer. Cinco minutos depois dormia com as patas para cima sobre um sofá que lhe servia de cama.
Bem, acolha com carinho quem lhe procurar.
Por hoje é só. Abração.
Marconi Urquiza
Excelente e descontraída crônica.
ResponderExcluirBelo texto amigo, crônica do cotidiano. O Rio de Janeiro acolheu os mestres do assunto.
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