sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Da violência retórica à violência real

                 Fonte: REUTERS

     Eita coisa corriqueira,  o homem subir ao palanque, seja ele físico ou virtual, e nele propagar toda a virulência que as palavras podem conceber. 

     Homens comuns, cá embaixo, na plateia real ou virtual, no mais das vezes nem ponderam.  Tudo dito de forma tão simples que pensar a respeito dos assuntos não é importante. Assim, sem um mínimo de reflexão, as "verdades" viram certezas.

     Tudo que muita gente deseja é de certezas, pois diante de tanta instabilidade, quem diz qual caminho a ser seguido ganha adeptos, fãs fervorosos.  E basta, isto já capaz de dar um sentido para a vida de tantos.

     Quando li o artigo  

Atentado a Trump: da retórica violenta à violência real

..., eu parei. Me pus a pensar.  E quase de imediato pensei naquele impacto na alma do Trump quando sentiu que a morte esteve bem próxima. Será que sentiu mesmo?

     Vamos admitir que Trump não seja um ser humano comum, que a bala que feriu a sua orelha foi o espinho tinhoso de uma laranjeira. Um simples acidente. Então ele nada sentiu e nem sentirá.  Ponto e pronto.  Todo o resto será especulação da minha parte.

     Do artigo que cito e que deu o título desta reflexão separei algumas frases: 
     A retórica divisiva, emocional e violenta surgiu no centro da cena com a ascensão de líderes populistas de extrema direita.
.. 

(É uma opinião, mas pode ser uma constatação. )

     Por fim, arremesse essa liberdade para odiar em uma sociedade de cultura armamentista (EUA). Eis o previsível contínuo que começa com o uso de retórica violenta e acaba em violência real. A imensa maioria não vai passar da ideia à prática. Mas basta um para a tragédia.

     Da violência retórica à violência real. Essa frase me levou a passear por muitas lembranças, tantas quantos foram reavivadas quando saí à procura do Processo Penal da morte de papai, na esteira do desejo de escrever sobre seus últimos meses de vida.

     Na eleição de 1968 eu tinha 9 anos. Fui a muitos comícios com papai, mas não compreendia nada do que se passava.  

     Em 1972, só soube que haveria um candidato único e uma paz momentânea ocorreu. 

     Em 1976 eu já era adolescente, vi papai andar armado, o que não era habitual, fazer as refeições com a arma por perto, ir para a sua empresa e manter a arma perto da mão. 

     A tensão estava presente e o medo me abraçou.  Foi neste ano que um panfleto, com uma violência retórica imensa virou uma violência real contra quem se imaginava ser o idealizador do "documento" apócrifo.  A pessoa levou uma surra pesada. 

     Em 1982 a violência retórica foi veloz para a violência real e saiu vitimando pessoas. 

     Uma coisa é estar na beira do campo estimulando um time a dar porradas nos jogadores da outra equipe.  A figura muda completamente quando o castigo que prega para os outros é aplicado a si mesmo. Pode até reforçar este aspecto virulento, mas o medo vai cobrar o seu quinhão, o pau que dá em Chico Francisco dá em Francisco.

    Nestes tempos de Internet, quando o pau pega o Chico, Francisco não diz. Se cala.Tem medo.

     Fiquei pensando quando a gente se destempera e expele a nossa virulência verbal, o pior que ela pode ser um bumerangue a nos arrebentar a cara.

Por hoje é só. 

Abração, Marconi Urquiza 

Artigo:



Um comentário:

  1. Ótima reflexão Marconi.
    A intolerância, em suas diversas formas, vem aumentando em alta velocidade e de forma assustadora. O uso de ARMA deve ser transformado em AMAR, respeitar o diverso, dialogar, tolerar, ....
    Infelizmente, a violência está por todo canto e, muitas vezes, precisamos nos passar por cego, surdo e mudo, para evitar conflitos.
    Simbora viver com paz, harmonia, amor e muita serenidade.

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