sexta-feira, 15 de novembro de 2024

O SOM DO GOL

 


        Esta crônica tornou-se essencial quando Euler me disse: não tem imagem do gol. Como apresentar um gol, tido por golaço, com palavras, vírgulas e pontos? Como tornar as palavras em imagens?

        Foi na quarta-feira (06.11.24), treino de futebol preparatório para a Jornada de Integração dos Aposentados do Banco do Brasil, que será neste mês em Fortaleza.

        Nos reunimos no meio do campo para os avisos de costume, qual seria a estratégia daquele treino, nas palavras do treinador Júnior, uma simulação de jogo. Então a primeiro tempo foi o time de hipermaster (entre 65 anos e menos de 70 anos)  contra uma equipe de ultramaster (de 70 anos para frente).

        Eu fiquei no banco vendo o jogo rolar, aí acabou o primeiro tempo e se decidiu que dois times do ultramaster iriam treinar, incluindo alguns jogadores para completar uma das equipes. Eu entrei nessa hora. Fui para a lateral direita, não digo ala, pois fico mais recuado, avanço pouco. E o jogo estava pegado, ótimo para participar, com ataques e defesas constantemente acionados. Eu estava me divertindo, fisicamente não sentia a habitual falta de elasticidade muscular, que prende meus movimentos.

        Estava fazendo tudo que um peladeiro faz: cortar a bola, acertar passes, errar mais ainda, tentava não dar chance para toma gol. De tanto dribles de corpo, acertei a marcação de um atacante. Nessa hora só jogava e pensava defensivamente. E o jogo corria com todos em campo se esforçando para acertar o ataque.

        Em alguns momentos avancei um pouco no início do campo de ataque e logo me posicionava, para junto com os demais jogadores defensivos não tomar gol de contra-ataque. Pois bem, nosso time ataca e ganha um escanteio. Era o começo de uma aventura.

         Atenção!! O ultramaster raiz ataque, Dilson corta, escanteio para o time azul. Lá vai, caminhando para o canto do campo Araken. Valter Araken coloca a bola no gramado e se prepara para bater escanteio. A área está congestionada. Tem gente demais. Dá para contar oito jogadores naquele quadrado do minicampo que ficou pequeno. Valter Araken, arrumou a bola, olhou para a área, parou, está pensando o que vai fazer. 

        Nisso o treinador Júnior, disse: Vai Marconi.  "Eu dei uma corrida curta para a intermediária, quase de frente para o gol, mais pela direita."

        Atenção, o escantei vai ser cobrado, é sempre uma jogada pouco aproveitada. Marconi avançou, o que será que vai acontecer. Ele não é de ir para ataque. Ele olha para trás, viu Zé Maria dando cobertura, do lado esquerdo, marcando alto, esta Renazico. Araken, Araken dá dois passos para trás, dois passos, levantou a cabeça, escolheu para quem cruzar. Ele tocou, tocou para trás! Quebrou toda a defesa! O ataque não entendeu.

        "E a bola veio serena, queimando a grama, nem devagar e nem muito rápida, no ponto. Quando vi a bola na minha direção eu corri, corri e peguei ela em cheio, com o pé direito, com todo o impulso do corpo. Não vi a bola voando, apenas vi o goleiro Edvaldo levantando as mãos e a bola já empurrava com força a rede. Quase instantaneamente."

        Lá vem a bola rasteira, rápida para Marconi, ele vai dominar e lançar pelo alto para ver se encontra uma cabeça que faça do gol. Ôxe, o que ele fez, isso não foi um chute, foi uma explosão. Torcedor, você ouviu? O microfone captou a explosão, quase atômica, da bomba do chute de Marconi. Repórter, encosta nele e pergunta como foi isso. 

    Sim, Osvaldo, assim que terminar vou perguntar o que ele sente por fazer um golaço.

        O repórter chegou e eu disse: 

        — Olha, fiquei contente. Tinha mais 3 anos que não fazia um gol.

        — E como foi isso? Você fez algum sinal para Araken passar a bola? 

        Nada, fiquei até surpreso da bola vir para mim, só não fiz o normal, que era parar a bola, mas me deu um impulso. Para ser sincero, não lembro se pensei em alguma coisa, apenas agi. De repente era para chutar e eu chutei. Foi assim.

        — Você tem ideia da velocidade do chute? 

        — Eita rapaz, sei não. Rápida, né?

        — No minha experiência de repórter esportivo, foi mais de 70 km/h. 

        — Isso tudo? 

        — Tudo. Não arrisco dizer que foi mais para não passar por mentiroso.

        Sabe, muitas coisas na minha vida eu tive desejo. Alguns realizei, a maioria ficou pelo caminho, mas um tinha um sonho. E esse era fazer um gol de fora da área em um campo grande e fiz perto dos 40 anos lá no campo do seminário de Terra Boa (PR), depois de mais de 20 anos de peladas. Tanto que a partir dele acreditei que poderia chutar de longe, esse gol da quarta, vem desses 24 anos em que o sonho se tornou uma alegria em um domingo frio do inverno paranaense.

        Por hoje é só, Marconi Urquiza

 

 

 

 

5 comentários:

  1. Caro amigo, Apenas quem tenta faz. Siga atacando que outros momentos similares surgirão. Relate em detalhes.

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  2. Quer imagem melhor do que essa?! Podemos chamar, literalmente, de um gol de letra. Parabéns, Marconi, pelo gol e, mais ainda, pela crônica.

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  3. Já disse mais de uma vez que a crônica esportiva de Marconi é diferenciada. E quando ele junta a emoção da ponta na chuteira com a emoção na ponta do lápis nasce essa cronica maravilhosa. Dos cronistas que admiro acho que somente Tostão foi jogador de futebol e cronista. Juca Kfouri e Armando Nogueira escrevem sobre futebol, mas nao creio que tenham a emoção e o conhecimento de causa que o amigo Marconi tem, capaz de transformar imagens e instantes em pura arte.

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  4. Emocionante, mesmo para quem não curte futebol. Para mim, o grande lance é saber jogar as palavras. (Lucia Ribeiro)

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