sexta-feira, 28 de março de 2025

Descobrindo pessoas - Botei no Waze e veja o que achei

 



Botei no Waze e veja o que achei. 

        Um amigo sugeriu escrever uma crônica sobre o que se expressou a presidente do México. Se de fato foi ela que disse não dá para saber, mas está na esteira do atual Trumpismo: a América Grande de Novo. Passeando pela internet li uma matéria acerca do comportamento da presidente mexicana, que ao reagir ao aumento das tarifas e outros apertos contra seu país não reagiu como um homem, na matéria há a ênfase, mais ou menos assim: Claudia Sheinbaum  afasta a testosterona ao tratar com Trump. Evidente que este é um resumo do resumo de uma reportagem mais extensa. Mas serve para um vislumbre que a sabedoria, habilidade, bom senso e senso de psicologia cabem em negociações difíceis.

        Há muito tempo faço uma ponte rodoviária para João Pessoa, vou pela manhã e volto à tarde. Nesta semana fiquei três dias por lá. Havia um planejamento de coletar quatro tapetes grandes e cuidar do carro da empresa. Algumas coisas nele que foram se degradando com o uso intenso.

        Os retoques na pintura exigiram nova adesivação do carro, programada para a última quarta-feira às dez horas.  Mas o carro estava todo sujo, fezes de passarinho, manchas de frutos de árvores sobre o teto e capô do motor. Não daria para adesivar o carro daquele jeito. Lembrei que no Manaíra Shopping tem um lava jato. Etapa concluída às 20h da terça-feira.

        Dias antes, a chave de seta havia quebrado, o ar-condicionado do carro estava falhando e o banco do motorista, há muito tempo, mais de ano, estava afundado. Ruim demais.

        Na quarta cedo fui à oficina Jhon, que havia trocado o recipiente do líquido de arrefecimento e informado que a chave de seta estava estragada. Não havia tal peça nos fornecedores da oficina em João Pessoa e foi sugerido que comprasse no pelo Mercado Livre. Peça conosco, fomos à oficina assim que abriu, ao sermos atendidos chegou o veredito: não colocamos peça comprada fora. Nada de mais. Naqueles cinco minutos de conversa, eu disse olha aí quem atendeu? O carro foi atendido aqui. O atendente viu no computador e até disse: Fui eu que atendi. Ele insistiu: Não colocamos peça comprada fora. Aproveitei o ensejo e disse: Por que você não avisou ao nosso funcionário? E também: Por que você não encomendou para a gente vir aqui trocar quando chegasse? Não obtive resposta, só o mantra: não trocamos peça comprada fora.

        Você procura um eletricista. Você pode indicar um? O atendente não conhecia nenhum.  Você mexe com ar-condicionado? Não. Pode me indicar uma empresa? Vá no Kokota, na avenida José Américo, em frente ao Hospital da Unimed. Cujo nome deve ser de um parente distante: Hospital Alberto Urquiza Wanderley. Olha!

        Botei no Waze e saí à procura da Kokota. No meio do trajeto lembrei que o problema do farol era mais importante e escrevi, eletricista, o primeiro que apareceu foi Júnior Eletricista. Cheguei e perguntei se trocava a chave de seta do Renault Sandero. Estava atendendo, me deu uma cadeira e pediu para sentar e aguardar.  Tinha tempo, pois o próximo compromisso era às dez horas. 

        Como toda pessoa observadora, o mecânico solo é multitalento, mexe com eletricidade, com uma parte da mecânica e até é vendedor ocasional de algum carro. As bancadas dele estavam repletas de restos de alternadores, sua especialidade. Em um olhar apressado fiz uma conta no olho que não havia ao menos de cem carcaças da peça.

        É uma garagem dupla. Vi um carro bege estacionado no fundo de uma garagem ao lado da oficina principal. Fiquei olhando para aquele carro e a curiosidade me dominou e fui até perto dele, após hesitar, abri a porta do carro e passei a mão nos bancos. O veludo bege, original, ainda persistia. Vi um detalhe que não recordava em carro daquela época. Tem uma trava na porta, um ponto específico para travar a porta por dentro. Farol quadrado, penso que é da segunda geração. Estava na minha frente um Dodge Polara Gran Luxe, perfeitamente conservado, motor ótimo segundo o mecânico. E o maior detalhe daquele carro, ainda estava com a placa original dos anos 1970, amarela e com quatro números e duas letras.

        Voltei para minha cadeira, dez minutos depois Júnior foi trocar a peça, mais dez minutos o carro estava pronto. Olhei o horário, ainda havia uma hora e quarenta minutos para o compromisso das dez horas. 

         Quanto é: R$ 50,00. Paguei contente. Foi até barato para a conveniência de um atendimento tão rápido. Agradeci, entrei no carro e botei de novo no Waze: Kokota ar-condicionado. Em mais ou menos dez minutos estacionei o carro na frente da oficina.  Esta era em parte mais organizada, mas tinha restos de peças espalhadas pelo espaço.

        Queria um diagnóstico para agendar a volta. Começaram os testes: gás em ordem, compressor também. Mais dois testes. O mecânico falou que o ar quente estava atrapalhando a refrigeração, resolveu isolar o ar quente. Espero que não dê problema no futuro. A resistência está queimada. Para cada indicador de velocidade há uma resistência. Podemos fazer agora. Você faz até dez horas? Fazemos. Pode fazer. O senhor quer um cafezinho? Quero. Vá ali naquela sala. Fui, tomei um gole de cafezinho que era destinado ao lanche dos funcionários da empresa. Quanto vi, pensei em não tomar, mas tamanha cordialidade cabia-me aceitar. Tomei.

        Em poucos minutos chegou Kokota, o dono da oficina. Falou também da resistência. Pode trocar, disse. Bem, às nove e cinquenta o ar estava gelando de novo. Confesso que não esperava tanto. Os dois principais problemas do carro estavam resolvidos em menos de duas horas. Coisa que, na minha expectativa, eu esperaria pelo menos uma manhã. R$ 300,00. Paguei feliz e pedi para dividir. 

        Segui para a adesivação do carro. Sem muita surpresa, às onze e meia  o carro estava bonito de novo. A logomarca, o nome de fantasia e o telefone de novo estampados nos lados do carro.

        Mas faltava o banco. Olha, estava pior do que péssimo. De novo botei no Waze, umas três horas da tarde encostei em uma capotaria no bairro do Varadouro de João Pessoa. Fui no rumo, a oficina que o Waze indicou eu não achei, rodei o quarteirão e parei no Júnior Capoteiro. Ele olhou o banco, não disse o valor, não perguntei. Isto vai levar umas duas horas. Olhei a hora e tinha um compromisso. Vem amanhã, às seis e meia eu estou aqui. Estava, cheguei ontem às seis e trinta e sete e estava tudo aberto. Mais uma vez passei o olhar pelo ambiente, dois espaços grandes.  Por lá estava repleto de restos de móveis, de bancos de carro. Restos colocados na frente, na rua. Enquanto esperava peguei o computador e fui dar conta de orçamentos solicitados. Fiquei observando os transeuntes e olhando os prédios ao redor. Muita coisa fechada e degradada. Moradores de rua. E ali perto uma boca de fumo, um ponto de venda de droga. 

        Na região há muitos profissionais com valores mais populares, com preços mais em conta. Na rua Maciel Pinheiro, após a subida da antiga Bolsa de Mercadorias da Paraíba, há inúmeras  lojas de autopeças e lojas de ferramentas diversas. Tudo sem nenhum item de conforto, umas poucas com um banheiro limpo.

        Enquanto digitava, desceu uma mulher jovem vestida com short vermelho com a camisa do Flamengo. Depois ela voltou subindo a rua. Depois que o dono da capotaria falou do ponto de droga, imaginei que aquela jovem em pouco tempo estará completamente degradada e se prostituindo desesperada, sem que tenha mais cliente que queira seu corpo acabado.

        Mais uns minutos subiu um travesti, obeso, meio popular, pois homens se aproximaram para fofocar; logo depois passou uma mulher, também subindo a rua. Short curto, preto, bustier preto, com a aparência de quem tomou banho, mas um corpo de quem era bem idosa, um rosto acabado e com aparência que faltam dentes. Todavia, ela aparentava ter um vigor físico a mais perante a sua aparência acabada.Também foi abordada na rua. Parecia ser conhecida dos homens da região.

        Perto de sete e trinta da manhã pelos menos três homens, com mais de 50 anos,  chegaram na capotaria e sentaram nas cadeiras que ficam na calçada. Um deles tentou puxar conversa comigo, mas eu estava ocupado, não lhe dei atenção e ele também estava mais interessado no que se passava na rua.

        Às oito horas o banco do carro estava pronto. O conforto ao dirigir havia voltado. Júnior Capoteiro deu a conta, paguei e saí pensando nestes profissionais desorganizados e cheios de talentos que ganham mais para sobreviver e que os negócios deles andam de lado, quando não regridem, cuja aparência não atrai clientes novos. Fui pela necessidade, se fosse por uma escolha com base nos princípios da imagem, da organização aparente, teria passado longe deles.  O resultado é que em três horas e trinta minutos consertei três itens do carro, que com muita boa vontade teriam levado pelo menos dois dias se aquelas pessoas não tivessem sido solícitas.

        

        Bem, mais algumas lições para a vida.

        Abração, Marconi.

5 comentários:

  1. A tecnologia a serviço da humanidade e o Wase a serviço de todos e de tudo, dando vez até para os informais com qualidade de atendimento não verificada mas que no final dá certo. É o antigo boca a boca dentro da internet.
    Dr. Google, Dr Wase, e vários doutores da interação humana com os diversos tipos de negócios e de quebra aparece até o vuco vuco e as bocadas perigosas do entorno.
    Uso sempre o Dr Google mas é bom saber que o Dr Wase está pronto para servir e trazer soluções rápidas que em situações normais demoraria uns três tantos e com custos de cinco tantos.
    Simbora Marconi, montar no Dodge Polara Gran Luxe e multiplicar suas crônicas.🤝🎯

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  2. Estou ficando "viciado" no Waze, como aparenta também estar o Marconi. Mesmo fazendo trajetos conhecidos e habituais, acabo ativando o aplicativo, para verificar se há problemas de congestionamento e qual o tempo estimado da viagem. Só lamento que ainda não tenha sido implantada uma opção que permitisse escolher o caminho mais seguro ou com menos subidas e descidas. A primeira opção do Waze é pelo caminho mais rápido e, depois, pelo caminho mais curto, o que, às vezes, não é a melhor opção, pelas condições das vias. Sei que é o "algoritmo" do aplicativo, que faz as escolhas. Ele até aprende. Se você fizer o mesmo caminho, várias vezes, ele vai mostrar este caminho como opção principal. Nesse sentido, eu só tenho uma dúvida: afinal, o que é algoritmo???...

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    1. Brandão, Waze é muito útil, mas o Google Maps desperta a curiosidade de olhar a aparência das coisas.

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  3. Saiu tudo como manda o mundo moderno: prático e rápido. As buscas, sua decisão e o trabalho dos profissionais. Carro pronto para o trabalho e você no exercício das crônicas e afins.

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