sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Inspirador de personagem

 

                              
Quem aprende
prevenir
nunca vai remediar.
Quem não amola a
foicita
Pouca cana vai cortar.
Ao caminho fique
Atento
Pra não gritar por São
Bento
Depois que a cobra
picar.

(Por Ademar Rafael Ferreira)

Sabe uma daquelas perguntinhas que coloca a gente para pensar? Foi o que me ocorreu, quando me perguntaram como eu havia criado os personagens do romance  A Puta Rainha

Pois bem, meses atrás conversando pelo Instagram com uma leitora prévia do romance, ela disse que assim que tivesse oportunidade queria conversar sobre os personagens do livro, como os havia criado. A pergunta me fez pensar, eu criei mesmo ou foi a intuição que me conduziu? 

No início confesso que fui tudo intuição. Tudo saiu de supetão da minha mente.

Quando pensava nessa crônica, eu recordei de um livro de Mário Vargas Llosa, cujo título é: Cartas a um Jovem Escritor. Em certo trecho deste livro ele observa que toda ficção começa autobiográfica. Em miúdos, um escritor começa um livro à partir de um ponto da sua própria vivência.

Não fugi a esta regra. Eu comecei A Puta Rainha por causa uma lembrança que me deu o motivo e o impulso naquele início*. Durante semanas esse impulso me conduziu, a história parecia que era ditada, no entanto, em certo ponto dessa trajetória da criação do livro eu me vi perdido, sem saber como encaminhar o livro para o final. 

Então, em certo dia, eu fui para a Livraria Cultura do Paço da Alfândega, aqui em Recife. Agora fechada. Saí zapeando entre as estantes e em um dos móveis, que expunham as capas dos livros, eu vi A Jornada do Escritor (Christopher Vogler). Comprei e fui ler, na medida em que lia, eu fui remoldando a narrativa. Nesse livro descobri que um bom personagem, além de um conflito que precisa resolver, precisa de um mentor.

O mentor, também um personagem de ficção, que tem a função de ajudar  o personagem principal a ser forte, valente, superar a si mesmo, superar as dificuldades e chegar no fim do livro diferente. Bem, tudo isso dentro de uma lógica chamada de verossimilhança, e que significa que tudo que está escrito no livro parece ser uma história verdadeira. Olha!!

Imagine amigo, pense no dilema. "A mentira" precisa ser bem contada, se a narração parece irreal pode cair no descrédito e o livro fracassar. Agora imagine, um escritor cair em uma situação de descrédito na era do cancelamento, das redes sociais viralizando tudo.

Com base no livro de Vogler eu comecei a pensar em um mentor para Dora. No perfil de uma pessoa que fosse capaz de dar um rumo para uma jovem de 14 anos.

Matutei, matutei para lá, para cá, passeie pelas minhas lembranças, pelas dezenas de livros que li, pelos exemplos do livro A Jornada do Escritor, até que um dia acordei pensando em um, o Coronel Zélio.

Veja o que ocorreu. 

Nos primórdios do site Estante Virtual eu fui à caça de um livro antigo que tinha ouvido falar, de um uma pessoa real da nossa cidade - Bom Conselho. Uma liderança política que se manteve ativa mais de 50 anos, até falecer aos 84 anos. Essa pessoa era o coronel Zé Abílio - José Abílio de Albuquerque Ávila. Ao caçar, eu achei dois exemplares do seu livro: Um Coronel do Sertão. Era a sua autobiografia. Em 2010 eu li o livro, há uma frase nele que me soou  como um aviso que o coronel dava aos seus desafetos: Não adianta o cabra gritar por São Bento depois da cobra picar.  Achei tão significativa que incorporei no romance A Puta Rainha.

Por causa da leitura desse livro eu comecei a lembrar de um monte de comentários sobre o coronel Zé Abílio, da sua inteligência agregadora, da sua liderança pessoal e política,  do seu jeito ardiloso de fazer as campanhas, do seu famoso cafezinho das cinco horas da tarde, mantido toda a sua vida. Aí, aos poucos, com base nesse personagem histórico eu comecei a imaginar quem seria o mentor para Dora, então fui construindo-o na medida em que escrevia, assim surgiu o Coronel Zélio. Ele não é o espelho do coronel Zé Abílio, mas tirei dele, o que mais me impressionou, a sua sabedoria de vida.

Bem que eu poderia incorporar uma chamada bem humorada para quando o coronel Zélio mandasse um aviso, frase costumeiramente dita pelo Padre Arlindo de Tamandaré quando encerra os seus vídeos: Mas menino! 

Pois então!

Mas menino!
Ao caminho fique
Atento
Pra não gritar por São
Bento
Depois que a cobra 
picar.


Mas menino!
Semana Iluminada.
Marconi Urquiza


     

Coronel Zé Abílio          Um coronel do Sertão

* Entenda lendo a última crônica: 










sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Escritor .... Hum !!!!!


Capa de Milena Carvalho

O ideal nesta vida
É poder filosofar
E com imaginação 
Aprender e ensinar.
Jamais ficar deprimido 
Em tudo buscar sentido
Ser dinâmico sem surtar.
(Por Ademar Rafael Ferreira)

Algumas vezes fui perguntado o que eu sou nessa quadra da vida e após juntar a coragem do mundo, eu disse:
- Sou escritor. 
Alguns olharam e não disseram nada, outros exclamaram:
- Ah! Escritor! ... Hum!!!

Escritor por aqui, é como sonhar em monetizar o impossível, por isso quero compartilhar essa fascinante aventura de fazer da imaginação o dia a dia e não perder  o juízo.

Há quase um ano venho adiando o lançamento do livro A Puta Rainha, sonhando com o impossível, sonhando que um editora de porte de uma Companhia das Letras se interessasse pelo livro. Não tinha ilusões, mas tinha a esperança do verbo esperar, agora estou transformando a esperança para o verbo esperançar. Resolvi agir. Meses atrás criei uma marca: Galo Prosador e ela foi contestada pelo Clube Atlético Mineiro. Desisti dela e criei outra: Prosa Books, imaginando ir além. Vamos ver o que vai dar.

Diante do dilema de me dedicar durante quatro anos ao livro e o risco de não ser lido, me vi tentado a estudar como fazer o lançamento e a sua divulgação nas redes sociais. Sou modesto nas minhas expectativas, a leitura do livro por alguns amigos deu-me a convicção que há uma boa história para o leitor, com um personagem interessante. Mais de um, na verdade.

E a divisão do livro? Em capítulos, com partes, sem partes, e a escrita, como começar o livro, as primeiras frases, como encerrar o livro. Se o cara não cuidar, fica uma viagem que se sabe como começa e não se sabe qual destino que ela vai chegar. Em suma, escrever o fim do livro: é tão difícil quanto começar.

Nessa aventura, cujo custo mais barato foi o meu tempo, foram horas de pesquisa, dinheiro gasto em alguns cursos mixurucas, horas em lives que me enganaram nas boas intenções, queriam me vender outros cursos. Achei uma consultora, que não me consultou em nada, disse o que eu já sabia. Frustrei-me com ela. 

Um escritor auto publicado, é antes de tudo um belo sonhador, é por conta do seu sonho, um empreendedor em potencial. Por causa dos custos de arrumar um livro, para tê-lo pronto para o leitor apreciar, eu decidi fazer tudo sozinho. Então fui aprender, pedi socorro, gastei o couro sentado em busca de entender como deve ser um livro de qualidade. 

Levei muitas horas, muitos dias para escolher a melhor tipografia, digo, a melhor e gratuita fonte e fazer a capa? Não deveria dizer, foram três meses. Três meses para acertar um esboço que me parecesse profissional, só pareceu. Mais estudo. Imitação, peguei uns dez livros com edições caprichadas por editoras de renome e fiquei olhando como ele faziam. Aprendi alguma coisa e copiei demais.

Achando que o livro estava pronto, imprimi um enorme catatau de quase 400 páginas de papel A4 e pedi para cinco amigos lerem. Depois de alguns dias, eu fui reler, estava tão ruim, mas tão ruim, que eu compreendi ligeiro que a falta de feedback era a péssima qualidade daquele texto gigantesco.  Então voltei a trabalhar no livro, sabe, tive um desespero. Mas uma alma bondosa corrigiu 152 páginas e me fez entender, que tudo o que tinha imaginado precisava de muitas "vírgulas" para virar uma história apreciada.

Eita, é agora, esse agora foi em novembro do ano passado, agora vou lançar! Parei, descobri que estava cansado do livro e ele ainda não estava pronto. Ainda assim fui aprender a usar o site KDP, da empresa Amazon, para publicar como e-book. Foi só o começo. 

O livro como experiência de uma boa leitura, ainda estava longe. 

Tentei ser eu mesmo o revisor, o copirraite, o leitor crítico. Toda a cadeia de produção de um livro, faltou uma coisa, ser o diagramador, além de ser seu próprio editor. Capista! 

Se o ser não for dotado da extrema autoconfiança ou um rematado arrogante, ele vestirá a insegurança como segunda pele. No meu caso, acho que já virou a quarta pele. 

AÍ veio a pandemia, tudo que era gasto extra foi sendo reduzido e sobrou algum dinheiro no orçamento, que andava apertado. Quando vi a sobra, contratei duas professoras de português especialistas na Leitura Crítica e na revisão e copirraite. Bom, agora eu tinha o livro arrumado.

Voltei para treinar as capas, nessa altura o livro original tinha virado, três, voltou a ser um, e já tinha terminado um romance iniciado em 1999 e escrito um livro com 22 contos.  Mas o dilema continuava e continua: Como promover o livro para que os leitores se interessem por ele?

É agora sair da criação de uma história para criar um plano de ação para promover o livro, ampliar meu horizonte de criador para o de empreendedor, de certo modo retornarei ao horizonte que me vestiu durante mais de 23 anos como gestor do Banco do Brasil, planejar como vencer os objetivos e executar as ações para que eles sejam superados.

Agora estou esperando o orçamento de um profissional de marketing digital, se não couber no bolso, agregarei mais uma função ao meu ofício recente de ser escritor, o de marqueteiro digital e aí incluirei na minha Bio no Instagram: escritor, capista, diagramador de livro e marqueteiro digital de livros. Como no real, a nossa unicidade como pessoa é cheia de facetas, ganharei essas de quebra.

Serei uma pessoa com um "moi" de personas. Bem, falar disso, fica para outro dia, é melhor me concentrar em D. Santinha, em Dora, no Coronel Zélio, Antônio Carlos e outros personagens que estão doidos para se apresentarem aos amados leitores.

Abração, Semana Iluminada.

Marconi Urquiza





sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Foi na inauguração do campo

 Frases marcantes do futebol que servem pra vida toda!

Sabe, alguns dias atrás estava zapeando pela tevê e parei alguns instantes em um jogo do CRB, na série B, em Maceió. Em certo instante o câmera correu pela arquibancada vazia e aí eu me lembrei que meu pai me levou para a inauguração do Estádio Rei Pelé, em setembro de 1970. Pelé estava lá, o Santos inteiro, goleando a Seleção Alagoana.

Três anos depois, em algum domingo ensolarado de 1973, acho que Bom Conselho estava no maior frisson. Campo de terra arrumado, terraplanagem recente, traves novas, rede de náilon e viria um artista nacional para inaugurar.

Pedro de Lara, famoso por atuar no Programa Silvio Santos. Filho de Bom Conselho, saído como retirante, era o convidado ilustre. De longe todos vimos ele entrar no campo de paletó, com seu sapato social, preto, brilhando ao sol. Se aproximou do grande círculo, junto com o prefeito e mais uma ou duas autoridades e inaugurou o campo com um curto chute.

Ao redor do campo, atrás das linhas, havia uma multidão e eu estava lá, logo depois da linha de meio de campo na direção do cemitério. O campo não era no sentido norte-sul, para que a luz solar ficasse na lateral das barras, ele era no sentido leste-oeste e o cemitério ficava a oeste. Perto dele ficava um dos gols, o outro, ficava perto do muro que dividia o campo, o antigo campo do ABA, que era fronteiriço com uma rua.

Acabada a inauguração, iria começar uma melhor de três. CSB - Centro Sportivo Bomconselhense, era um e outro time, se a memória não me engana, era o Vera Cruz, do Alto de Zé Flexeiras. 

Antes de falar do jogo, vou falar do campo. Ele estava lisinho e macio, a raspagem com a motoniveladora tinha deixado o terreno duro, bom de jogar. Naquele dia não ventava muito, no entanto, quando o vento fazia a sua graça, quem estava do lado da linha que ficava perto do hospital sofria, todavia, a gente ficava de costas para o sol e era melhor de ver o jogo.

A primeira coisa que a memória registrou, foram os ternos (camisas, calções, meiões) novinhos e parecendo engomados. As pernas dos jogadores lustravam com os raios solares. Parece que havia, naquele tempo, o costume de passar terebentina ao se massagear. A camisa do CSB lembrava a do Palmeiras de 1972, a do Vera Cruz, a memória falha, mas penso que era preta, listrada de amarelo, listras verticais. Tenho enorme dúvida a esse respeito.

Começou o jogo, jogo aberto. Uma correria enorme. Jogo franco, bom de ver. Aí o CSB fez um gol, depois fez outro. Aí veio o terceiro gol. Nessa hora o CSB atacava para o gol do cemitério, o gol a oeste. 

Bem leitor, tudo aqui é de memória. Só de memória. Vou reavivar a minha localização na torcida. Nesta hora eu e a muita gente tinha caminhado mais para perto do gol do Vera Cruz, mais ou menos a 35 metros da linha de fundo. 

Aí, em certo momento, o CSB armou um contra-ataque e a bola foi passada para Elisênio, jogador de passadas largas. Ali, logo  depois do círculo central, ao receber a bola, imagino que ele viu um corredor, com os marcadores distantes, ele correu rápido com a bola dominada. A cada passada dele e dos defensores um rastro de poeira foi se criando, quando ele se aproximou da entrada da grande área, já havia se formado uma pequena nuvem. 

Não lembro direito, se ele chuta e cai ou caindo chutou. Mas lembro que ele  ficou olhando do chão a corrida veloz da bola até ela entrar no gol. Afinal, nós torcíamos pelo CSB e vibramos com o gol.

Aquela queda me deixou curioso, tempos depois eu me encontrei com Elisênio e perguntei para ele a razão da queda, não lembro a resposta: não sei se disse que caiu para se proteger ou se levou um tranco. Só sei de uma coisa, foi um gols dos mais bonitos que já eu vi. 


Abração, Semana Iluminada.

Marconi Urquiza


Elisênio:

Blog do Tiago Padilha: Atuação do Vereador Elisênio Borges na Legislatura  2005 a 2008. Para melhor compreensão de toda a população explicitamos  inicialmente as atribuições do Vereador. (Parte 1)

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

PRESENTEAR, O QUE VOCÊ FAZ?

 Fotos: Veja como presentear cada signo neste Dia dos Namorados - 10/06/2014  - UOL Universa


Fiquei imaginando a expressão de quem me deu um presente que não me agradou, a minha cara eu sei, de decepção: "Que cara mais mal agradecido, quando dei um presente e ele mal recebeu", fora outras intermitências.

Nada mais justo que evitar a decepção do presenteado e ainda mais a própria, que dá um presente que desagrada, não é mesmo?

Suponho que isto ocorra com muitos. Então o que se faz, combinar o presente, combina-se, compra-se e entrega ao presenteado um almoço frio. Mas é assim mesmo, evita o desgosto que pode durar uma vida de mágoas.

Uma dos modos de presentear é conhecer a pessoa. Os seus gostos e dar um presente entre as preferências, captado de um comentário fortuito, por exemplo, e fazer uma surpresa agradável. Só que isto é quase uma impossibilidade mundial, pois quase todos nós não olhamos desse jeito para as pessoas.

Outro modo de presentear e eu já fiz, é chamar a pessoa a ser presenteada e levar para uma loja que você possa pagar e ficar ouvindo os comentários. Isto funciona melhor, imagino, ao se tentar presentear uma mulher. Pois bem, quando ela se agradar, você diz, escolhe o seu.

A arte que mais utilizo de presentear é sair com o amigo, o filho, beber uma cervejas e rachar a conta. Fraquinho, né?

Certa vez conversando com amigo ao telefone, ele comentou sobre um livro de um jornalista, falou loas e disse que me mandaria uma cópia, pois não achou o livro impresso, agradeci e uma semana depois chegou a sua carta e a fotocópia do livro. Comprei um original e mandei para ele. Não sei a cara dele e nem ele viu a minha, meio desgostoso com o que eu entendia ter sido uma ideia ruim, a fotocópia. Tempos depois recebi o livro original. 

Tempos atrás, outro amigo deu-me um livro de poemas, livro bonito, mas como não é o meu gosto literário mais forte. Acho que não fui agradável.

Destes dois exemplos, vem a outra parte de um bom modo de presentear: Não fazer expectativa.

E agora vem a de ser presenteado: Não fazer expectativa. 

O ato de presentear, é, na maioria da vezes, uma representação, a demonstração de afeto, então receba o afeto e só olhe o presente depois.

Para finalizar, muito anos atrás eu estava em uma conversa de amigos, quando um deles disse:
 - Comprei um livro de Estatística para a minha esposa. 

O professor Cidão, que estava na roda, olhou para aquele colega de faculdade e disse: 
- Olha, ele gosta dela! 

Todos olhamos para ele sem compreender o que ele queira dizer com a sua afirmação, até que alguém perguntou:
- Professor, por que você acha isso? - Cidão pareceu surpreso, deu um sorriso leve, olhou para cada um daqueles três alunos e então respondeu:
 - O livro é um presente nobre, ele reflete muito mais o caráter de quem presenteia do que quem é presenteado.

Na verdade, penso que, tirando os presentes de pura conveniência, o ato de presentear é um ato nobre e deve ser entendido como a demonstração de apreço e afeto.

Por fim, se tem dúvida com o que presentear, faça algo semelhante a esta frase de um autor desconhecido:
"Se não sabes o que presentear a teus seres mais queridos no Natal, presenteie-lhes teu amor."¹

Abração, Semana Iluminada.
Marconi Urquiza

¹Link da frase:





sexta-feira, 28 de agosto de 2020

CELEBRAÇÃO DE AMIZADE

Paraibana vence concurso de cartas dos Correios e maranhense fica em sexto  lugar - Maranhão Hoje

Desde a antiguidade
E do tempo de Esparta
Que existe troca de carta
Em nome da amizade.
Mesmo na 
Modernidade
Muitas cartas tenho
lido.
Tenho livro recebido
Como retribuição
Em forma de gratidão
A um livro remetido.
        "De Ademar Rafael Ferreira"


A literatura nos aproximou. No início do anos 1980 eu o conheci e nada sabia sobre o seu talento de escritor e poeta. Eu gostava de ler e lia pouco. Tinha saído da faculdade para ir trabalhar no Banco do Brasil, em Afogados da Ingazeira. 

Aqui e acolá eu escrevia memorandos e certo dia ele me encarregou de redigir um para uma diretoria, em Brasília.  Datilografei e levei para ele. Como bom professor,  à antiga,  deu vários riscos e definiu que o memorando estava ruim. Eu não entendia assim e me chateie.  Na segunda tentativa,  ele ainda encontrou erros e eu quase dizia que ele escrevesse. Por fim, escrevi da forma que era o costume na empresa. 

Um tempo depois ele começou a falar dos escritores clássicos da Rússia e eu, que nada sabia deles, fiquei sem jeito.  Leitor de bang-bang, FBI, de gibis e por aí vai, tinha lido pouco autores gabaritados de literatura.  Isto aos 23 anos.

Certo dia uma pessoa me apresentou Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Márquez) e eu tive a ousadia de ler o livro de uma sexta- feira à noite para o domingo à tarde.  

Por esta época, esse amigo das letras me presentou com um livro, acho que foi o Discurso do Método.  Li alguma coisa e abandonei a leitura por não entender nada do que havia lido.

Saí de Afogados e ganhei o mundo,  mas a leitura só fez crescer. 

Em setembro do ano passado eu espalhei entre os amigos que havia acabado o romance  A Puta Rainha.  Beleza! Nem tanto. Mas pouco causa disso, ele me telefonou desejando comprar o livro. Obra que só conclui em março deste ano.

Em março mesmo enviei para ele um exemplar, que me respondeu com a carta carinhosa e repleta de erros do livro para eu corrigir.  Assim fiz.

Dias depois eu voltei a pegar o envelope. Retirei a carta e fui reler.  A linguagem primorosa revelava uma pessoa que, nem de longe, eu suspeitava.  Primeiro: os elogios; depois: a atenção de ler o texto como um professor que gosta de ajudar os alunos. 

A forma,  o conteúdo,  o presente valioso: um livro.

Assim, desde então, nós usamos um meio, saborosamente anacrônico, para conversamos.  Vai carta, vem livro, vai livro, vem carta e nas entrelinhas o apreço de um amigo.


Abraço Ronald, o velho Rona Bancaro.



Semana Iluminada,
Marconi Urquiza




sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Troll

 Portal da sua empresa, o que não pode faltar? - Bluecore

Acordei pensando naquele aluno do colégio, que ao descobrir uma apelido de outro colega, não deixava de dizer em voz alta, para quem estivesse por perto, o apelido que incomodava o desavisado. Ele era agradável, simpático e de vez em quando escolhia um para as suas intermináveis galhofas. Um dia esse aluno "brincou" demais, um amigo se impacientou e o esmurrou. Não escapou da suspensão. No dia seguinte, Serinho contava vantagem e já olhava quem seria seu próximo alvo.

Muito tempo atrás ouvi falar de um tal de Dr. Serius, afora a sua profissão liberal, ele tinha uma verve forte. Diziam, não conheci essa particularidade, que Dr. Serius facilmente tirava um interlocutor do sério, bastava esse, entrar no seu radar. A sua eloquência poderia ser um caso de estudo.

Com a voz poderosa e argumentos falsos, começou a instigar intrigas e as arengas foram crescendo, o seu instrumento para espalhar as suas veleidades eram homens que adoravam espalhar fofocas, mas um dia isto estourou e cinco homens, que gostavam da política, contrariados, invadiram o seu escritório e o surraram. Dr. Serius sumiu da cidade. O alcance das suas provocações estavam apenas naquela comunidade de 40 mil habitantes. Não em toda, apenas em uma parte.

Você conhece um Troll de carne e osso? Já conviveu?

Nesta semana, ganhou a mídia em geral, o caso da menina grávida do Espírito Santo que a Justiça autorizou o aborto. O caso passaria despercebido se não tivesse havido a recusa de um hospital de Vitória, a capital do estado, em fazer o procedimento autorizado e muito menos, se Sara Winter não tivesse gravado um vídeo. 

Foi o caso da garota de dez anos, que vinha sofrendo um estupro continuado desde os seis anos. A ocorrência em si mesmo, já era uma tragédia, uma situação que vai marcar a vida daquela garota profundamente, só isto, já deveria ser suficiente para que as pessoas tivessem compaixão. Muitas têm, muitos são indiferentes, é mais uma desgraça no meio de tantas que são noticiadas.

Eu, em particular, li a notícia e não a processei como destaque e nem dei o peso que ela deveria ter. Era uma notícia justa, lida em um site jornalístico que tenta recuperar o seu protagonismo e que faz um esforço grande para ter credibilidade.

A discussão sobre a situação da menina coincidiu com a leitura de um livro: Os engenheiros do caos. Este livro versa sobre as pessoas que impulsionam conteúdos, quaisquer que sejam, com o objetivo de influenciar o voto. O nosso voto. Tais "engenheiros" provocam na internet a adesão às suas ideias, catalisam as raivas dispersas e criam turbilhões, em cima de turbilhão. Tentam e conseguem uma incessante provocação em cima das pessoas que estão insatisfeitas com algum ponto sócio-político, sócio-emocional ou apenas emocional, o que significa: Mobilizar as massas. 

De 1933 para frente: o rádio e o cinema, na Alemanha. 2013: o Facebook no Brasil contra Dilma; 2014 no Brasil: a mídia tradicional com a Lava Jato. 2016 nos Estados Unidos: Twitter e Facebook na eleição presidencial.  2018 no Brasil: o uso do Whatsapp na eleição presidencial.

Estas situações não ocorreram por acaso, foi tudo organizado, concatenado, articulado, sempre com um propósito de dominar, ter poder, sujeitar, de mobilizar as massas e embotar no nosso pensamento crítico.

Mas vamos voltar para o caso da menina. Sara Winter descobriu, alguém disse a ela que a menina estava em Recife, em qual maternidade ela estaria para fazer o aborto necessário. Fez um vídeo no You Tube, os seguidores de Pernambuco aceitaram a provocação dela e foram para a frente do hospital. Perturbaram, chamaram a menina de coisas pouco santas, perturbando os doentes e o sossego das demais pessoas. Estas pessoas deveriam ter ponderado se os estímulos eram justos ou não, rezaram por uma espécie de fanatismo "religioso", que se mostrou ruim, mas que exemplificou como as redes sociais funcionam nestes mobilizações.

De modo geral, se conhece este fenômeno que a internet propicia e potencializa. A distância física não existe, só temos a distância do pensamento, ele que aproxima ou distancia.

Já se sabe que as redes sociais são programadas para fazer a gente ficar constantemente ligado nelas por meio da incessante distribuição de mensagens que impactam a nossa psicologia, provocam as nossas emoções justamente em um ponto que, em regra, há muita dificuldade em controlar: O ÓDIO.

Isto é o que faz um TROLL. São os provocadores da internet. Às vezes são apenas um instrumento de uma estrutura organizada: às vezes ele mesmo, é o líder dessa estrutura. Trump é um por excelência. 

Já conviveu com um provocador? Já conviveu com um manipulador? Já? 

Pois bem, tais pessoas são TROLLS e têm uma capacidade imensa de cutucar as insatisfações e na atualidade, usam os ALGORITMOS das redes sociais para os seus propósitos, pouco sacrossantos, para mobilizar as massas, estritamente para atender a estes interesses e com isso, costumam fazer muitas pessoas de bestas. Uma das bestas do algoritmo, podendo ocorrer dois, dos vários sentidos da palavra besta: o popular trouxa (bobo) ou o bíblico, no simbolismo do Apocalipse.


Abração, Semana Iluminada.

Marconi Urquiza


Link da imagem:

https://liu.se/-/media/liu/2015/12/07/electronic-identification/e-government.jpg?mw=1120&mh=1120&hash=BEF5533758CF3DD9E77BED3A804D8C99

Uma das notícias a respeito do caso:

https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/08/17/sara-giromini-estupro-vulneravel-prisao.htm

O livro:

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Foi assim, foi o título do convite: FEIJOADA BENEFICENTE.

 Solidariedade – Wikipédia, a enciclopédia livre

Quase sempre é

altruísta

Toda ação solidária

Busca ajudar o

próximo

E tem a lógica

gregária.

Da omissão nos 

redime

Pessoa que forma o

time

Nunca é beneficiária.

Poema de Ademar Ferreira Rafael


O momento, de tantas ações  solidárias, exemplificadas constantemente desde março, reforçando o caráter solidário de muitas pessoas na busca de ações coletivas para minorar o sofrimento de muita gente.

Eu estava atrás de uma inspiração para escrever a crônica desta semana, mas não pensava em nada que se assemelhasse a esse despertar do altruísmo, no entanto, eu achei esta história prontinha. Escrita na forma de um relatório, impessoal, escondendo todo o sentimento que nos moveu:

________________________________

13/10/2008

7:42

Foi assim, foi o título do convite: FEIJOADA BENEFICENTE.

     Caraúbas, 1990.

     Soubemos por vigilante da agência do Banco Brasil que a filha do vigilante do Banco do Estado do Rio Grande Norte tinha problemas nos olhos e que já havia perdido o olho direito. Um mal que levaria à cegueira total. Como notícia, como dor estava distante de nós, sentimos naquele momento apenas compaixão.

     Naquele época, discreta, minha esposa fazia entrega mensal de cestas básicas, havíamos adotado cinco famílias para as auxiliar nos alimentos.

     Cerca de dois meses após saber a notícia da garota de 13 anos, a filha do vigilante, eis que ele vem na agência, conversa com seus colegas de profissão e depois se aproxima de mim e faz o seu pedido. Conta-me a sua história e a sua falta de condição de curar a filha. Digo-lhe que não tenho dinheiro para lhe ajudar e fico por aí. Mas pedi que voltasse no dia seguinte.

     A noite converso com a minha esposa, [Cida], lhe narro o problema e juntos buscamos uma alternativa para conseguir o dinheiro. De um estalo surgiu a ideia de uma feijoada beneficente.

     Assim escolhida a alternativa, bolamos em casa mesmo os convites e tratamos de vender, 150 convites.

     Começamos a preparar a feijoada na sexta-feira anterior ao evento, fomos dormir de madrugada, no sábado cuidamos da organização da AABB, de como se faria o atendimento, do local em que ficaríamos com as panelas, a que hora lá chegaríamos, assim por diante.

     Do sábado para o domingo ficamos toda a madrugada cozinhando a iguaria lá no quintal de casa, conversando, cuidando do fogo de lenha e  usufruindo da fresca da madrugada, no quente Rio Grande do Norte.

     Sem experiência da quantidade que se colocaria em cada panelinha, fomos vendo com preocupação se acabar a feijoada antes das 14:00h, hora informada nos convites para o término do serviço. De 10 em 10 minutos a gente contava os ingressos, ainda faltam 40, ainda faltam 30, ainda faltam 20, refizemos a contagem e de fato apenas 120 pessoas vierem pegar a sua feijoada. 

     Frequentemente a gente chamava o vigilante [o pai da jovem]: como tá de gente lá? Tem muita gente, está chegando mais? Sim. E aí ficamos coletando esta informação e avaliando o que poderíamos fazer e ainda mais, torcer que não aparecesse todos os que haviam comprado o convite.

     14:00h. "Vamos encerrar logo, pois, do jeito que vai não sobra nem para o nosso almoço" e realmente, sobrou bem pouco, que  só deu para a gente almoçar, oito pessoas [que trabalhavam no evento], sem encher a barriga. 

      Feitas as contas e pagas as despesas repassamos ao vigilante 90% do lucro e 10% para uma senhora, que sem a gente dissesse que lhe pagaria algum valor, se propôs a nos auxiliar na empreitada.

      Dois meses após o evento vem o vigilante e nos informa: "Seu Marconi, a doença estancou, ela não vai ficar cega, mas ainda tem seis meses de tratamento, muito obrigado." 

    Apareceu e Agradeceu todos os meses até a nossa missão terminar naquela cidade, [em março de 1992], sempre trazendo informações acerca do tratamento da sua filha. 

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Quando eu pensava naqueles dias, em certo momento, alegre com essa recordação, me veio a imagem do dia em que o vigilante, do qual não lembro o nome, chegou onde eu estava e disse: 

- Ela está curada, agora só precisa ir de seis em seis meses para acompanhamento.

Passados 30 anos, espero que aquela menina seja uma mulher feliz, pois me sinto muito contente ter feito parte daquele esforço para salvar a sua visão.  

Esse altruísmo que a gente tem visto se aproxima do que disse Paulo Freire sobre a Esperança do verbo "Esperançar,  ... o esperançar de juntar-se com os outros para fazer de outro modo ..."

Abração, Semana Alegre.

Marconi Urquiza

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...