sábado, 5 de agosto de 2023

"Deus proteja de mim" *

Estava no restaurante de um hotel em João Pessoa quando li três frases de artistas paraibanos. Uma do personagem Chicó, de Ariano Suassuna, outra do cantor Chico César e a terceira que reconheci a frase, mas não lembrei do nome do autor.

A frase de Chico  César "Deus  me proteja de mim e da maldade de gente boa". Li, reli, lá pela quarta vez que prestava atenção na frase de Chico César um redemoinho tirou do arquivo escondido da memória lembranças arquivadas, recente e de mais tempo.

Meu pai tinha uma frase, que hoje posso sintetizar como agir com Boa Fé,  mas ele nunca falou este termo, em muitos momentos ele se expressou assim: "Ser honesto de principio". Para mim 100% ambígua,  não fora o convívio e suas atitudes jamais chegaria a esta conclusão.

Sempre achei ela de difícil interpretação, o fato é que ele nos criou sob um rigoroso principio de ser Honesto,  sem nenhuma margem para não ser assim.

Quando estava concluindo a faculdade de Direito fiz o trabalho de conclusão de curso no Direito do Consumidor e neste ramo a Boa Fé é princípio fundamental nas relações de consumo.

Pesquisando para este trabalho achei um livro que estudava a Boa Fé no Direito Civil e o autor dizia que a Boa Fé não depende de circunstância ou da vontade de alguém, a Boa Fé é objetiva.  Em resumo: As partes devem agir por lei com Boa Fé.  

É uma questão que me interessou tanto que inclui um capítulo no trabalho ligando esta Boa Fé com a Boa Fé do Direito do Consumidor. 

Na vida mundana o que mais se ver é a Má Fé, empresas e pessoas que não dizem tudo que pode afetar a decisão do consumidor,  que prometem o que não pode cumprir,  que fazem puxadinhos nos preços,  não informam defeitos e se aproveitam do dogmatismo da Justiça para se livrarem de suas más intenções  

E quando a Má fé se reveste de um sorriso aberto, de olhos que brilham, enquanto nos perscrutam para identificar nossas fraquezas, fica difícil para um espírito de boa fé identificar. 

Em tempos recentes eu convivi com alguém que me deu nós cegos,  parecia que eu estava sempre dez passos atrás ao identificar uma maldade,  essa pessoa já tinha 10 outras sacanagens para por em prática. Era como se tivesse um arsenal de maldades.

Era como um estrategista a enganar um general em campo de batalha com ações que desviavam o foco, enquanto os suas tropas ia pelo flanco mais fraco do outro general.

Com minha fé imperdenida que aquilo era temporário eu tomava tombo em cima de tombo, imaginando que tudo aquilo fosse passar e não ocorria, eu convivia com um ser maldoso, até que usei o silêncio para não sinalizar o meu pensamento. 

Sabe que Chico César tem razão:
"Deus me proteja de mim
 E da maldade de gente boa
 Da bondade de pessoa ruim
 Deus me governe e guarde
 Ilumine e zele assim"

Apesar dos tombos, continuo tendo a Boa Fé como um princípio para minhas atitudes todos os dias.

Por hora, é só.  Na Boa.

Abração,  Marconi Urquiza. 

PS:
(*) O título da crônica retirado na canção Deus me Proteja, de Chico César.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Enigma de uma vida

 

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       Sabe um desejo de uma explicação, até mais que isso, da descoberta de um enigma que está aí na vida, na minha. Certa vez, adolescente,  caminhando para ser um adulto jovem comecei a prestar atenção na intrigas que pareciam ser fruto das posições políticas locais antagônicas. Via apenas por este ponto de vista.

        Nesta época observava os arranca-rabos da política da minha cidade natal, o que também ocorria em muitas cidades circunvizinhas. Havia um padrão. Após muito refletir e observar, acreditei que fosse ódio. Um ódio enraizado, uma raiva entranhada. 

       Desde esse tempo procurava entender esta situação, só não sabia por onde procurar, de onde provinha esta raiz.

        O comportamento flutuava, para mais raiva a menos raiva fora das eleições. Fora das eleições, naqueles anos de minha estranheza, muitos contendores até pareciam amigos, quando a rinha da eleição era colocada no meio da praça, a raiva voltava com toda a sua insanidade.

        Passei anos refletindo sobre muitos acontecimentos, muitos diálogos e casos que chegaram até a mim, das leituras que fiz, especialmente do fenômeno do coronelismo nordestino e até dos barões do café no Sudeste.

        Até que esta inquietude foi aos poucos se transformando na busca incessante por uma resposta, mas ela não vinha completa, eram fragmentos de compreensão que aportavam na minha mente, mas não explicava a razão fundamental daquela raiva entranhada.

        Para mim uma liderança forte, com sabedoria, pode provocar mudanças comportamentais em muitos homens, mas hoje vejo que é uma parte da realidade, até esse líder (o coronel José Abílio d`Ávila Albuquerque) foi influenciado por uma cultura em que a mediação de conflitos que não passava apenas por uma vingança ou em impingir no desafeto a força da sangria.

        Como resposta para mim mesmo, escrevi em livro de ficção, nele contei a minha percepção a partir do estudo da biografia do coronel José Abílio e também me baseando em conflitos reais. Tem muito daquela história não escrita, colhida como nos ancestrais que não sabiam escrever, tudo oral. 

        A partir de um narrador, esta realidade foi sendo mostrada nas páginas do livro. Misturando realidade e ficção, fazendo amálgama que aos poucos foi me dando convicção que havia encontrado o conforto para minha inquietude.  Tanto que parei de pensar a respeito.

        Feito isso relaxei, a minha versão de uma parte da história de Bom Conselho estava explicada, ponto final.

        Mas o que pensei que estava encerrado em mim, não foi bem assim!

        Há anos que queria ler um livro e ele estava esgotado, quando pesquisei na internet, seu preço estava exorbitante, abandonei a busca e fiz uma em alguma biblioteca, mas não achei o livro. Meses atrás ele foi relançado, por circunstância adversas não pude ir ao lançamento, acabei esquecendo. Nesta semana ao passar próximo ao Museu do Estado em Recife, lembrei que a Editora CEPE tem nele uma livraria, e ela  havia lançado um nova edição daquele livro desejado, então fui até lá e comprei o livro.

        Horas depois comecei a ler, cheio de ansiedade quis pular a introdução para ir para as partes iniciais que estão relacionadas no sumário. Mas resisti e fui ler o prólogo do autor. Longo, por vezes me cansei, mas muito rico de informações.

       Ao continuar lendo Guerreiros do Sol - o banditismo no Nordeste do Brasil, de Frederico Pernambucano de Mello, fui me aproximando de uma perspectiva para aquele ódio entranhando que eu sentia em Bom Conselho da minha infância e juventude. Não procurava nenhuma resposta, pois para mim isto estava respondido nas páginas do romance O Último Café do Coronel. 

        Então pela curiosidade de conhecer o cangaço continuei a leitura, estava perto de terminar este início do livro quando li sobre uma parte sociológica, histórica e da formação da cultura dos homens do sertão. 

        De uma população que entrou para o sertão no início da colonização e descobriu que não podia voltar para o litoral por falta de recursos, que 100 anos depois deste início era uma população isolada, mantendo os costumes e valores medievais. Além disso, criando uma cultura própria para superar a escassez de recursos (água e alimentos, principalmente), que caracteriza aquele região, de resistir a uma economia destroçada a cada seca.

        Valores que induziam a resolver divergências com a violência. A macheza, o destemor, a valentia e principalmente a resolução de conflitos de forma peculiar, fora dos parâmetros legais. A Justiça lá, como conhecemos, não tinha seu espaço no sertão mais antigo, nele os ritos eram feitos pelos costumes apenas, desconectados do ambiente do leste, da área costeira. 

        Foi então que compreendi que aquela raiva entranhada em Bom Conselho e que se mostrava por inteira nas eleições era resquício do padrão de conduta da cultura do sertão ancestral e que para mim é ainda forte em alguns bolsões do sertão dos dias atuais.

        Não sei o que mais encontrarei no restante do livro, mas conhecer um pouco da história pode nos permitir compreender nuances que ficam em nossas mentes como nozinhos a serem desatados. Acho que destei um desses.

        Abraço, Marconi Urquiza

        

PS:

A linda capa da 1ª edição.


Link da CEPE Editora a 6ª edição atualizado do livro para quem pretender ler - Maiores de 60 anos tem desconto.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

É mais que futebol, que jogar bem

             

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            Hoje acordei pela madrugada e de repente me lembrei de uma observação feita por um companheiro de pelada em 1995: "Como você é bom zagueiro!" Ela me deixou feliz no momento em que ouvi. Fazia muitos anos que não jogava de zagueiro nas peladas, minha paixão era jogar de lateral esquerdo, posição em que me sentia livre para atacar e tentar fazer uns golzinhos.

         Na década de 1980, de 1982 a 1985 eu jogava na AABB de Afogados da Ingazeira e eu em muitos momentos, por ter um preparo físico e uma capacidade de marcação excelente eu fui muitas vezes o primeiro jogador a ser chamado para uma das equipes que disputaria a pelada noturna. Isto de certo modo me deixou orgulhoso ao me recordar destes fatos, muitos anos depois. Um zagueiro como "craque" de um time. Menos, né, muito menos.

         Aí o tempo passou, já com mais de sessenta anos, sem jogar futebol regularmente, lá vou eu treinar para os jogos de aposentados do Banco do Brasil e um amigo, generoso, saiu com algo assim: "Olha ele, faz tempo que não joga e quando vem treinar joga muito". Qualquer coisa nesse sentido.

         Vou espalhar estas observações para outros pontos da vida. Muitas vezes nós não percebemos como seres com algum talento mais desenvolvido, muitas vezes, não é incomum, vivemos sob a influência de pessoas que dizem cotidianamente crenças limitantes, que terminam por minar, reduzir a nossa capacidade de perceber o que cada um tem de excepcional, minam a confiança própria que podemos ser mais, que em algum momento nos pareceu ser impossível ir adiante.

         Estes três momentos do futebol são para mim, no alvorecer dos 64 anos, um alerta e um despertar que em algum canto de nossa mente, de nosso coração, há um talento excepcional para ser mostrado, não pelos outros, mas por nós mesmos.

           Pois bem, por hora é só.


            Marconi Urquiza

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Quem faz do sorriso ...

 

                  Ilustração criada por por mim na IA do Bing

        Hoje depois de acordar, após 10 minutos, veio este impulso de escrever, só com um pensamento. O tempo mudou, bem que cabe um pequeno poema, inacabado, haicai e aforismo de minha lavra:

Tantas vezes chegamos,

Tantas vezes precisarmos ir além,

Quantas vezes pulsamos,

Quantas vezes amargamos,

Quantas vezes desistimos, ...

            19.08.2000

Tantas vezes lutamos,

Quantas vezes vamos além...

            14.07.2023


SORRISO

Quem faz do sorriso

uma regra de vida

alumia sempre a sua alma.

            26/10.2000


Ser eterno enquanto dure, 

uma frase sábia, 

implica em ver os limites das coisas, 

da vida.

           Algum dia de 2003


VENDO DIFERENTE

Meu Deus! Que Dia!

Diga assim:

Meu Deus, que belo dia!

            26/10/2000



Abraço, Marconi Urquiza


Comentário: 

Os escritos de mais de 30 anos estão em um pequeno caderno (Have a Nice Millennium), em que, antes de dormir, durante algum tempo eu tentei escrever um poema por dia, depois vieram os Haicais, inspirado na poetisa paranaense Helena Kilody:

Deus dá a todos uma estrela.
Uns fazem da estrela um sol.
Outros nem conseguem vê-la.

terça-feira, 27 de junho de 2023

Estranhos fogos de São Pedro

        
    

       Hoje é u
ma pequena história que as festas juninas fizeram sair do sono das memórias adormecidas. Estava fazendo uma pesquisa sobre a origem das festas juninas quando um estalo me fez lembrar desse episódio.

     Eu tinha de 16 para 17 anos. Já sabia dirigir. Papai nesse tempo tinha dois veículos,  um Corcel I e uma Rural 1971, cujo apelido era Sofrida.  Ela tinha passado pelas mãos de um primo e quando papai a comprou estava muito maltratada.

        Papai era festeiro e eu um adolescente para lá de tímido, fugia das festas e só me entrosava fácil ao jogar futebol.

        Um dia papai colocou como meta, imagino, me estimular a participar das festas e do meio festeiro. 

        Na época em Águas Belas (PE) havia uma baile de São Pedro que atraia gente das cidades vizinhas. Sei que papai e mais alguns amigos fizeram uma caravana para ir nessa festa. Era meados dos anos 1970.

        Na véspera do São Pedro os homens adultos e casados foram para esse baile sem as esposas e fui junto, convidado por papai.

        Sabe, passei a noite sentado vendo papai e seus amigos dançando e bebendo. Só não beberam eu e os motoristas.

        No dia de São Pedro, amanhecendo o dia, a banda acabou o baile e papai saiu na Rural com o outro carro atrás, onde estavam seus amigos, acompanhando a Rural Sofrida.

        Tudo ia tranquilo, carro saindo da cidade devagar,  já distante do centro, bem pertinho da rodovia, papai resolveu ter a última comemoração daquele São Pedro.

        De surpresa ele abriu o porta luvas e pegou o revólver e deu vários tiros para o alto, em uma estranha comemoração de final de festa junina e; não sei foi o eco dos disparos, ou se foi a memória reproduzindo, mas eu ouvi mais disparos do que os feitos por pai, não sei se algum amigo no outro carro o imitou com esses estranhos de fogos de São Pedro.

        Abração, Marconi 

        



terça-feira, 20 de junho de 2023

DAS PROFUNDEZAS DO SEU CORAÇÃO

 

Arte: Munique Brum

                                                                                 A Arnon Pinheiro ✝✝


        A Arnon Pinheiro pelo momento único, especial e profundo que nos proporcionou.

        Tive com ele uma curta convivência, um ano, dois anos, se muito, logo ele foi trabalhar como Menor Aprendiz no Banco do Brasil e por isso mudamos de sala no Colégio Estadual. Assim chamávamos o Colégio Estadual Frei Caetano de Messina. Depois saí de Bom Conselho e mal lembro tê-lo encontrado em mais de 5 minutos de conversa nos 50 anos seguintes.

       Aqui, ali, espaçados eu ouvia alguma notícia dele. Nesta altura éramos colegas efetivos do Banco do Brasil e ele havia tido dificuldades trabalhando na empresa. Apenas isso sobre ele. Família, filhos, onde residia, onde trabalhava, se conseguiu se aposentar. Nada, nada de informações.

        No entanto, todas, todas as vezes que seu nome era lembrado, qualquer coisa que citasse Arnon eu recordava daquela manhã no Colégio Estadual.

        A canção era conhecida e havia se espalhado pelo Brasil inteiro, ela contava uma história dolorida e deixava antever um amor imenso. Houve até filme, também de sucesso, a narrar aquela história. Era uma sensação recente naquele tempo.

        Aí naquela manhã. A lembrança do que houve antes e depois é fugídia, então vou criar.

        Pode ter ocorrido na aula de Português ou na aula do professor Clívio Cavalcanti ou na apresentação dos alunos. Na vez de Arnon ele pediu licença, levantou-se e então começou a cantar à capela, afinadíssimo, aquela canção emocionante, que com sua voz límpida entoou:

    "O maior golpe do mundo

      que eu tive em minha vida

      foi quando com nove anos

      Perdi minha mãe querida."

        Acho que todos nós, alunos e professor nos surpreendemos e o silêncio imperou durante a canção. Depois que ele encerrou, bem que merecesse minutos de aplausos, mas foi o silêncio que perdurou.

        Não tenho como dizer o que ele sentia ao cantar Coração de Luto, sei apenas o que senti, que ele entoou aqueles versos com o amor das profundezas do seu coração.

        50 anos é tempo suficiente para apagar quase tudo na vida, mas essa lembrança não apagou. Está vívida.


        Feliz São João. Abraços.

        Marconi Urquiza

        (1973 - 2023)

LINK:

Coração de Luto

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Aventuras no caminho para Palmas


Às vezes uma viagem se transforma em uma aventura ruim.  

Há uma semana,  sem aviso prévio e nenhum piu, a Azul mexeu em nosso voo, transformou uma viagem de 11 horas em 24. 

Era para sair na quarta 14h, foi para 17:40h e findaríamos em Palmas (TO) na quinta às 17.30h.

Sabe, aquela indignação, "não é possível!!" Foi possível, ou aceitava a imposição da Azul ou desistia.

Não desistirmos, sabequei telefonemas, chats, até que reli o aviso da Azul: Comprou em agência? É ela que pode alterar seu voo.

Na maravilha da comunicação atual, fui no chat da Zupper, em 10 minutos a ida veio para terça 17.40h e chegamos 24 horas depois. 

Queríamos ir aos jogos dos aposentados do Banco do Brasil em Palmas. E víemos. Dormimos em Campinas, como vivedor em cidade grande, fomos a um shopping e não vimos nenhuma rua de Campinas,  só as belas rodovias paulistas. 

Duas e meia da tarde o bichão voou, repleto de colegas indo jogar no CINFABB de Palmas.

Quando chegamos no hotel,  lotado,  uma falha na comunicação,  nos deixou sem hospedagem.   Acionei a reserva moral normal,  apelar para o hotel arrumar um local para dormirmos.  Nada feito. Fui atrás de sair do sufoco,  achei um apartamento no AIRBNB, deu BO, a dona estava viajando.

Pronto, voltamos a ficar sem teto, então o atendente deu o quinto telefonema, desta vez certeiro,  tivemos onde dormir.

O resto dos dias foi curtir o evento e os amigos de agora e de outrora,  como se as coisas difíceis não tivessem ocorrido. 

Não filosofo,  vou andando e andando desejando solver as energia da vida. 

Nem quero falar do drible que a bola que deu em mim. 

Vocês conhecem o ditado: "Da-lhe bola!"?

Ano que vem vou fazer ela amiga.

Até lá!!

Abração,  Marconi Urquiza 

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...