quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Castigo da empolgação


Amigos,

Estava aqui pensando. 

No futebol, na próxima quarta-feira, dia 14.08, vamos começar a nossa jornada Campeã para Fortaleza.

A minha realidade pessoal é que na maioria dos últimos 5 eventos eu cheguei no final do período de treinamento machucado. 

Neste último procurei ser moderado, comedido nas disputas e sustentando a musculação. 

E fui me sentindo cada vez melhor, com mais fôlego, mais rápido, com melhor tempo de bola. Enfim, um pouco melhor que no início dos treinamentos. 

Nessa sensação que estava melhor, fui me empolgando  e cheguei a dar carrinhos para cortar chutes no campo da AABB durante os treinos. Coisa que  não fazia desde os tempos do Paraná, já há quase 30 anos.

Pois bem, todo o cuidado foi pouco e a imprudência cavalar.

No último treino, no Clube da Caixa, ao ver a triangulação do ataque adversário, dei um carrinho para livrar nossa equipe de um gol.  Até que livrei e tomei um puta prejuízo. A entorse do tornozelo direito foi violenta e me empurrou para o DM mais de 60 dias.

Só voltei a jogar futebol após quase 4 meses daquele carrinho de um empolgado peladeiro de 64 anos.

Bem, para que tudo isso. Para dizer que a moderação nesse início de treinamento vai nos permitir chegar a Fortaleza inteiros e poder participar da brincadeira jogando bola.

Por hora é só.

Grande abraço. 

Marconi

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Da violência retórica à violência real

                 Fonte: REUTERS

     Eita coisa corriqueira,  o homem subir ao palanque, seja ele físico ou virtual, e nele propagar toda a virulência que as palavras podem conceber. 

     Homens comuns, cá embaixo, na plateia real ou virtual, no mais das vezes nem ponderam.  Tudo dito de forma tão simples que pensar a respeito dos assuntos não é importante. Assim, sem um mínimo de reflexão, as "verdades" viram certezas.

     Tudo que muita gente deseja é de certezas, pois diante de tanta instabilidade, quem diz qual caminho a ser seguido ganha adeptos, fãs fervorosos.  E basta, isto já capaz de dar um sentido para a vida de tantos.

     Quando li o artigo  

Atentado a Trump: da retórica violenta à violência real

..., eu parei. Me pus a pensar.  E quase de imediato pensei naquele impacto na alma do Trump quando sentiu que a morte esteve bem próxima. Será que sentiu mesmo?

     Vamos admitir que Trump não seja um ser humano comum, que a bala que feriu a sua orelha foi o espinho tinhoso de uma laranjeira. Um simples acidente. Então ele nada sentiu e nem sentirá.  Ponto e pronto.  Todo o resto será especulação da minha parte.

     Do artigo que cito e que deu o título desta reflexão separei algumas frases: 
     A retórica divisiva, emocional e violenta surgiu no centro da cena com a ascensão de líderes populistas de extrema direita.
.. 

(É uma opinião, mas pode ser uma constatação. )

     Por fim, arremesse essa liberdade para odiar em uma sociedade de cultura armamentista (EUA). Eis o previsível contínuo que começa com o uso de retórica violenta e acaba em violência real. A imensa maioria não vai passar da ideia à prática. Mas basta um para a tragédia.

     Da violência retórica à violência real. Essa frase me levou a passear por muitas lembranças, tantas quantos foram reavivadas quando saí à procura do Processo Penal da morte de papai, na esteira do desejo de escrever sobre seus últimos meses de vida.

     Na eleição de 1968 eu tinha 9 anos. Fui a muitos comícios com papai, mas não compreendia nada do que se passava.  

     Em 1972, só soube que haveria um candidato único e uma paz momentânea ocorreu. 

     Em 1976 eu já era adolescente, vi papai andar armado, o que não era habitual, fazer as refeições com a arma por perto, ir para a sua empresa e manter a arma perto da mão. 

     A tensão estava presente e o medo me abraçou.  Foi neste ano que um panfleto, com uma violência retórica imensa virou uma violência real contra quem se imaginava ser o idealizador do "documento" apócrifo.  A pessoa levou uma surra pesada. 

     Em 1982 a violência retórica foi veloz para a violência real e saiu vitimando pessoas. 

     Uma coisa é estar na beira do campo estimulando um time a dar porradas nos jogadores da outra equipe.  A figura muda completamente quando o castigo que prega para os outros é aplicado a si mesmo. Pode até reforçar este aspecto virulento, mas o medo vai cobrar o seu quinhão, o pau que dá em Chico Francisco dá em Francisco.

    Nestes tempos de Internet, quando o pau pega o Chico, Francisco não diz. Se cala.Tem medo.

     Fiquei pensando quando a gente se destempera e expele a nossa virulência verbal, o pior que ela pode ser um bumerangue a nos arrebentar a cara.

Por hoje é só. 

Abração, Marconi Urquiza 

Artigo:



Sport Club Caraúbas e outras aventuras

        
FONTE: 
 pt.pngtree.com
       
        Era uma camisa comprada no meio da feira. Cada uma comprava a sua e entregava ao criador  do time, que se comportava como dono. Depois cada um arrumava uns trocados para paramentar as camisas. Escudo colorido, número nas costas pintados à mão. Os calções eram encomendos em uma costureira. Os meiões também eram comprados por cada um, com recomendação de comprar na loja certa, que teria boa qualidade. E tinha. O meião aguentava quase um ano de uso.

        Terno pronto, era esperar a inauguração do padrão em um jogo do nosso tope.

        O material era tão frágil, peba, na gíria da nossa adolescência, que na primeira lavada perdia a cor e esgassava ao menor esforço. 

        Dia de estréia das camisas era uma maravilha, dava para sentir a satisfação dos atletas, só menor do que a de entrar em campo.

        Se o time sobrevivesse, daí a uns seis meses era juntar grana para comprar outra bola, a bola do jogo em nossa casa.

        Se o time sobrevivesse e o jogador sobrevivesse no time, daí um ano era hora de substituir o terno, o padrão. Lá vinha nova cota, e muitas cotas eram para comprar o equipamento para o craque que não tinha grana, ou o craque que sabia do seu valor e fazia charme ou exigia a retribuição para continuar no time.

        Um dia, com 30 anos, depois de uma seca de quase dois anos sem jogar futebol de campo, organizei um time, o Sport Club Caraúbas. Viajei para Recife, comprei todo o terno, da melhor qualidade, camisa azul, calção e meião brancos, bolas Penalty, da melhor qualidade. 

        Aventura que nos levou a jogar em Catolé do Rocha (PB), Felipe Guerra, Apodi, Dix-Sept Rosado, Janduís, Campo Grande (Ex-Augusto Severo), acho que Mossoró e a própria Caraúbas, tudo no Rio Grande do Norte.

        E um dia se organizou um jogo entre o time antigo da cidade, tradicional, cujo terno era preto e amarelo com listas horizontais, com o Sport Club Caraúbas, novato, a estreia do time. O melhor árbitro da região foi convidado, afinal aquele jogo foi denominado a semana inteira de clássico. Véio, foi demais.

        Naquele 1989 foi um evento e tanto, entrevista na véspera do jogo na rádio Caraúbas, jogo narrado para a rádio ao vivo e no carro de som à beira do campo de terra, sem alambrado. Muito gente vendo o jogo. Foi uma maravilha. Foi estranho também ouvir o jogo que todos nós participávamos.  Nosso time cansou, mas sustentou aquele 1x1.  

        Para ser sincero, me senti uma estrela naquela quarta-zaga. Mas a aventura acabou 10 meses depois e deixou essa alegria do auê em uma cidade carente de tudo, até de um evento de um futebol vivamente amador, como foi naquele domingo.

        Minhas alegrias de uma paixão que me fez recusar tudo relacionado ao futebol que não seja ser peladeiro.

        Por hora é só. 

        Abração, Marconi Urquiza



sexta-feira, 26 de julho de 2024

Meu emprego devo às folhas

        
Fonte (*)

        Na quarta-feira voltava da academia perto das oito horas da manhã e vinha concentrado na próxima esquina, de parar no semáforo, depois no outro e que este caminho é o mais seguro para voltar para casa.

        No lado esquerdo da Avenida Rosa, quase em frente ao empresarial ETC, fica a FUNASA - Fundação Nacional de Saúde, que duas entradas, uma na Rua do Futura, outra nesta avenida. Nesta entrada há algumas árvores que despejam diariamente suas folhas na calçada. 

        Lembro vivamente como ali era feio, com jeito de abandono.  Sujo. Mato crescende nas frestas da calçada do estacionamento, que não é utilizado. Frutos que caem e ficavam por ali apodrecendo. 

        Então, virei a Dr. Malaquias e entrei na Rosa e Silva, toco as passadas firmes, mas não avexadas. Eram firmes, sem pressa. Pela cabeça também passava a agenda do serviço da nanoempresa que toco há três anos, pensava na capa do romance O Último Café do Coronel, que parece que entrou em looping e eu não me decido escolher uma, entre outras coisas a me preocupar.

        Aquele rapaz seria um ser que sequer guardaria em algum resíduo de memória.  Meus pensamentos eram tão dominadores que ele não receberia o bom dia que costuma dar a quem me dar atenção. 

        Mas ele interrompeu as minhas divagações e sorrindo disse: "Essas folhas, olha essas folhas, a elas devo o meu emprego". Fui surpreendido e não respondi à altura daquele pedido direto de atenção, ele percebeu o meu estado, deu um sorriso, que me pareceu revelar a enorme angústia que sentia quando desempregado, deu seu sorriso aberto e já estava de costas para mim trabalhando.

        Andei mais sete, oito minutos pensando no rapaz. Metade do tempo me preocupando em não ser atropelado. Mas ao chegar em casa ele já era um traço na memória. 

        Assim fiquei quase todo o dia, foi quando a lembrança dele voltou e eu comecei a pensar:
— Quanto tempo ele ficou desempregado?
— Quais dificuldades passou para ser tão grato àquelas folhas?
— Será que ele pensou em tratar bem a natureza antes?
— Será que elevou o pensamento em gratidão?
— O que ele fará quando se sentir entediado em varrer as calçadas, o enorme pátio, em uma repetição quase insana da mesma coisa todo santo dia?

        Não saberei nunca as respostas destas indagações e nem sobre ele. Mas sinceramente torço que perdure no emprego e nele seja feliz.

        Sabe, fiquei tão surpreso em ser escolhido para ouvi-lo, era como se fosse um desabafo.  Poderia ser qualquer pessoa, mas ocorreu comigo. Fui eu que que vi seu sorriso de alívio por aquelas centenas de folhas caírem para ele varrer.

        Com atraso, por hoje é só.

        Abração, Marconi Urquiza


Observação:
— Fonte da imagem que ilustra a crônica:

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Não era mentira e nem era verdade

     
Foto extraída do Facebook

Inspirado no meu próximo romance: 
"O Último Café do Coronel."

            Começou a pesquisar, querer saber das pessoas contemporâneas daqueles fatos. Mas o desejo veio de muito tempo atrás, de uma frase que serviu de consolo:
        "E os meus eleitores? Não posso abandonar."

        Isto acalentava uma alma sofrida. Revelava uma decisão valorosa. Dava uma resposta para não sair.

        Vamos conversar. Vamos perguntar.  Vamos ter certeza.  Mas não havia certeza.

        Nas muitas conversas havia convergência, mas ninguém sabia o que o coração de Mário tinha e sentia. Ninguém nunca soube. Alguém sabia, sua esposa.  Quem mais?

        Nem era mentira, nem era verdade. 

        Verdade foi o que foi publicado em pequeno box do Diário de Pernambuco no dia seguinte: Candidato morto. 

        E a notícia correu pelo rádio, adiantou-se ao telefone, chocou uma cidade.

        O silêncio correu feito um rastilho. Muitos, sem tal consciência, sentiram em seus corações que a disputa passara do ponto, eliminara um ser muito querido. 

        Uma tarde, um dia inteiro, a cidade ficou sem faturar.  Fechar, fechar não foi por medo, mas por respeito. 

        "É ele! É ele...!" "É ele" da disputa entusiasmada jazia no centro da Igreja Matriz.

        Alguém por zelo ou dever profissional enfaixara as mãos despedaçadas por chumbo.

        "É ele" jazia, irremediável.  Naquela madrugada Alguém choramingava ao ver no silêncio da cidade as torres iluminadas da igreja e o corpo dormitando, quase sozinho, no meio da imensa igreja. 

        Bem, por hoje é só. 

        Abração, Marconi Urquiza 


      Mais do projeto:
        Estou preparando o livro com um carinho danado. No final do mês receberei o esboço da capa de uma designer profissional que faz este trabalho para uma das grandes editoras brasileiras, a "Todavia Livros."

        Na medida em que o projeto for avançando informei a todos.

        
        "Leia também", para saber mais:
        

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Bastidores ou quase um Make Off

        
Uma das primeiras capas do livro. Não é a capa escolhida.


        Faz praticamente 8 semanas semanas que quebro a cabeça para organizar o lançamento do livro O Último Café do Coronel. 

        Depois de mais de cem tentativas dei por concluída a capa. Hoje tenho dúvida.

        Capa desenhada. Pera aí!

        Antes disso em dezembro passado contratei pelo Instagram uma empresa para sugerir uma capa, revisar e diagramar o livro, paguei e a empresa quebrou.  Não fez o serviço.  Tinha 90 dias para fazer. Já estava no final de abril. Por ter em mente uma data para lançar o livro, corri. Contratei uma profissional para revisão e diagramação. 

        20 dias depois recebi a revisão. Sem combinar comigo, a revisora e copydesk mexeu na divisão do livro e nos diálogos. Não prejudicando a compreensão, mas o estilo que tenho tentado para o romance.  Refiz algumas partes e fui cuidar da diagramação, que também teve alterações sem conversar comigo. 

        Vou abrir um espaço aqui para uma percepção. Nos serviços digitais, contato apenas pelo WhatsApp, a compreensão do que o contrante deseja e quem vai executar o serviço frequentemente é ruim. São linguagem diferente, quase como um dialeto. Quem está do lado de cá não consegue expressar tudo o que deseja, quando sabe o que quer em detalhes? O mais frequente é o leigo fala de um jeito, o experto não entende, ou não explora adequadamente a mensagem recebida. Em resumo, o serviço não sai como se deseja e criam-se chateações.

        Voltando para a história, aí recebi o livro diagramado, achei que deveria ir em frente. Preparar a divulgação e o lançamento. Aqui estou nesta etapa, um quase copiar e colar em busca de ideias para divulgar o livro nas redes sociais.

        Ando consultando o que as editoras grandes fazem, rabiscando em busca de um estalo que me dê a sensação que aquele será um bom caminho. É neste momento em que me encontro.  Com o prazo que me dei para lançar correndo feito um cavalo desembestado ladeira abaixo: 13 de agosto de 2024. Já começo a sentir como "meu chefe" tivesse minuto a minuto me pressionando. "Vai meu filho!"

        Antes de encerrar, teimava em admitir que em vez de um livro, eu tinha outra coisa. Livro ao qual me dediquei 4 anos de forma intensa, e desde 2007 para quando o título do livro colou no meu coração e eu comecei a escrevê-lo. 

        Pois bem, em vez de um livro, "eu tenho um produto". PRODUTO. Pode ser que o vendo assim destrave a percepção do que fazer para conquistar leitores. Ontem meu filho Victor sugeriu, vá atrás dos influenciadores digitais para viralizar. É fazer o produto ser um viral. O LIVRO ser viral, a história viralarizar.

        Bem, vou compartilhar uma parte romance em que o coronel Jacó chegou à sua antiga casa.

        Aqui e ali levava uma delas (netas) para passear na fazenda. Mostrava os animais, os seus cavalos de raça eram a sua predileção. Nesses passeios ele dizia: “Venha menina, vem olhar e sentir o cheiro da flor de café.” Na época das floradas do café, ele dava um jeito de transformar algumas flores no perfume de Água de Colônia.

        Essas lembranças o fizeram sorrir e ele começou a se balançar na cadeira de madeira clara.


        Por hoje, é só.
        Abração, Marconi Urquiza








sexta-feira, 14 de junho de 2024

Por onde andará Formalidade?

                
Avatar criado no Bing por pedido que fiz.

           Diversas vezes vi um personagem do mundo da bola da AABB Recife ser criticado, em tom de gozação é comum se escutar: Aposto que ele nem suou a camisa. Tal é falta de empenho ou a sua forma de jogar incomoda as pessoas.

        Aí hoje estava passeando por estas e outras memórias  quando parei em um nome: Formalidade. 

        Formalidade foi o apelido que coloquei em um colega da Faculdade de Zootecnia na UFRPE. Estivemos por ali entre 1979 e 1981, quando ao final do ano saí e os rumos não mais se encontraram. 

        Lembro que ele chegava todo arrumado na sala de aula. Camisa passada, colocada dentro da calça, barba sempre feita. Todo alinhado, palavra comum na época para dizer que uma pessoa estava elegante. Destoante das roupas mais desarrumadas dos demais colegas de curso.

        Ele era assim.

        Em uma das nossas conversas no intervalo entre as aulas, ele contou que não tinha mais a mãe, morrido há alguns anos. Passou rápido uma tristeza pelo seu rosto, logo lembrou de algo que o fez serenar a expressão. 

        O papo prosseguiu e ele falou que sua família era praticamente ele e o pai, a quem ajudava, pela manhã, em um restaurante popular na rua de Santa Rita, em Recife. Na época, vizinha a Rodoviária do Recife. Outros assuntos entraram, mas ele deixou escapar que não tinham empregada e que tudo na casa era feito pelos dois. Que era preciso deixar tudo em ordem. Ali comecei a compreender um aspecto peculiar e forte nele, a organização.

        Logo no primeiro semestre tivemos a disciplina de Educação Física, e o professor foi nada menos que o árbitro que apitou o jogo do milésimo gol de Pelé: Manoel Amaro de Lima. Sujeito bonachão, mas que deu uma sova nos novinhos sem nenhum preparo físico. Era gente toda dolorida, dias a fio, eu também.

        Alguns meses depois foi lançado o campeonato interno de futebol de campo entre as turmas e cursos da UFRPE. Eu estive nele e Formalidade também no time de Zootecnia. Um time sofrível, mais lutador que técnico. Até em um jogo contra um dos times de Agronomia ganhamos por 4 x 2. Um jogo memorável. Tínhamos um jogador. Era meia, era meio volante, era meio atacante, com um gás imenso, que fez 2 gols.

        O campeonato atravessou o período das chuvas do Recife. Era muito comum jogar com o campo borrado de lama. Além de tudo isso, naquele primeiro ano, todo mundo era obrigado a jogar descalço. Aja queda, eu mesmo levantei voo quando nosso lateral escorregou e me pegou em cheio.

         Era assim, o mais limpo só tinha a cabeça sem lama, o resto, tinha alguma parte do corpo sujo, menos um jogador de nossa equipe. Era como ele não tivesse em campo, assim era o uniforme de Formalidade. Saia do campo tão limpo quanto havia entrado, ele corria soltando as poças de lama, depois corria em campo sem nem tocar na bola. 

        Na falta de jogador, todo mundo contava. Mas vamos ao apelido. Ser organizado e um tanto formal, era o perfil dele. Aí um dia a gente estava se arrumando para ir para casa após um jogo com o campo seco e eu prestava atenção em como ele tirava a roupa de sua bolsa de couro a tiracolo.  Era tudo arrumado, cada coisa em um lugar, nada deslocado, tudo bem dobrado, tudo era bem organizado, até a roupa usada. Era tão organizado que ele colocava mão na bolsa, sem olhar para dentro e tirava dela o que precisava. 

        Não sei como, de repente veio a palavra Formalidade, dali em diante ele trocou de nome entre os colegas mais próximos na faculdade. 

        Sabe aquele episódio do início, ele me fez lembrar de Formalidade nesta semana. Ao longo dos anos, vez por outra a sua lembrança vinha, exatamente por ele correr em campo saltando as poças de lama e água. O danado é que o nome de batismo teimava em ficar no anonimato e ficou assim mais de 30 anos. Até a última terça-feira.

        Pois bem, por onde andará o amigo Gilson?


        Por hora é só.  Abração,
        Marconi Urquiza. 

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