sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Despedida da Infância

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     Nesta semana vi a entrevista de Obama com David Letterman no Netflix, em certo momento ele responde a pergunta como se sentiu quando estava a arrumando o apartamento que sua filha Malia moraria para fazer a universidade. Sua vista entristeceu e seu roto mostrou saudades.

     Isto me remeteu a 1976 quando meu pai foi me deixar em Garanhuns para estudar no Colégio Santa Sofia. Na volta as lágrimas dele foram justificadas pelo sol forte e frontal.

    2018. Uma amiga disse que ela e o esposo iriam com o filho passar o carnaval em Santa Catarina, é o presente de 15 anos dele.

    Mais antigo, eu me lembrei dos meus 15 anos. Ganhei um relógio, o almoço foi com tio Sebastião Tenório e Tia Marlise. Deu uma da tarde, peguei o relógio e saí correndo para assistir um jogo do Centro Sportivo Bomconselhense. Eu não tive consciência que me despedia da infância. 

    Voltando para o presente, fiquei matutando sobre a viagem da amiga, esposo e filho. Sem querer, muito sem querer e tendo toda uma história por trás, a intuição me relevou uma viagem que não fizemos com nossos três filhos, embora tenhamos feito muitas. A intuição me relevou que a viagem da amiga tem duplo valor, um significado explicito, o de presentear o filho nos seus quinze anos. O outro, tão subjetivo, tão sutil, talvez tão entranhado na alma dos pais que esse sentido só pudesse ser percebido por outros pais  que passaram por tudo isso, sem captar o significado dessa passagem.

    Com a licença da ousadia de adivinho, essa viagem é mais que um presente, é a despedida dos pais da infância de um filho.
    
     Espero que tenham brincado com ele, como se crianças ainda fossem!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Novo no trabalho, trabalho novo

      Fez uma semana que iniciei o estágio em uma imobiliária. Tudo muito diferente dos mais de 30 anos da minha única profissão: bancário.

    
    Foram tantas reinvenções que nem sei direito quem sou quando comecei a ser bancário.
       
     Mas a realidade que vivi nos últimos 23 anos de trabalho no Banco do Brasil tromba com um paradoxo entre o trabalho atual de um bancário: de operador de crédito para um vendedor, operador de telemarketing; insistentemente chamado para ser um ultrapassador de metas, como o corretor imobiliário.
     
     Este é também um ultrapassador, com uma distinção: é autônomo; cuja estratégia é frequentemente criada pelo próprio profissional, especialmente para venda dos imóveis usados, ao contrário do bancário que aplica a estratégia pensada por outros, muitas vezes engessando iniciativas criativas.
      
     Carteira de clientes, só se for da imobiliária quando fecha acordos de vendas com as construtoras e incorporadoras.
     
     Uma semana cutucando a internet, levantando textos que me ensinem, minimamente, como ser um corretor "vendedor". Textos básicos, cujo teor já havia ouvido de corretores mais experientes, no entanto, há abundância de ofertas e explicações de como utilizar o Marketing Digital. Bem interessante, estou apenas tateando nesse momento.
    
     Captação do produto, sim produto.  É um lar? Foi um lar? Uma casa para uma família? Uma imóvel de investidor? 
    
     Olha a diferença entre as percepções, que muitas vezes no trabalho de bancário era solenemente "ignorada", com o cliente sempre se transformando em uma meta. Se este não se interessar por um produto bancário, a objetividade do número a entregar brilhando na tela, quase automaticamente, implica em desatenção.
   
     É nesse ponto que achei uma correlação com o trabalho do corretor: a atenção ao cliente que coloca na imobiliária seu "bem" à venda.  Esse freguês às avessas parece negligenciado, a ponto do gerente da área cobrar a atenção para que seja informado a cada 15 dias como anda a sua oferta de venda, como o mercado está vendo seu "produto". E não por um motivo fútil, às vezes o preço está fora da realidade, alto; outras vezes o imóvel está detonado e precisa de cuidados para se tornar "apreciável". etc.
    
        É um novo aprendizado, carregando na bagagem toda uma trajetória de vida, separando, quando der, as roupas que servirem para o novo trabalho. 

  Chuva no lago
  cada gota 
  um lago novo.
      (Alice Ruiz)

  
       

    
    

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Deve ser incomum!

     De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus... Frase de Rui Barbosa.

      Não foi a frase de Rui Barbosa que me inspirou escrever esta crônica, mas serviu de apoio para tratar da quadra atual no Brasil. Se em 1914 ele reclamava da vergonha de ser honesto, 108 anos depois, continuamos iguais.

      A Lei de Gerson é mais nova, dos anos 1980, mas conforme se manifestou Rui Barbosa o comportamento desonesto no brasileiro vem de muito longe, de maneira que a lei de Gerson apenas revelou a faceta esdrúxula da personalidade coletiva do brasileiro. Esse é um dos nossos coletivos. (Palavra de uso antigo com significado novo para expressar uma coletividade, uma unidade de valores compartilhados).

    Aí ocorreu uma situação nova, tão peculiar que vale um ano de observação para qualquer sociólogo ou antropólogo, já que o Homem tem se tornado predador dos bons valores: como ser honesto.     

      O que é essa coisa abissal?

      Bem, hoje participei de uma audiência e ao término da oitiva de uma das testemunhas em vez de um agradecimento formal eu ouvi e vi a juíza agradecer a essa testemunha por ter respondido as perguntas com sinceridade.

      Um pouco depois entra a segunda testemunha.  Vendedor emérito, daqueles que dá um nó em ponto d'água e que muitas vezes  a regra era só um detalhe.

       Pouco antes, papo de depois da audiência, a outro testemunha disse que ele citou a bíblia para dizer ao advogado que diria a verdade.

      Ele entrou e sentou convicto, respondeu todas as perguntas, assim que terminou a magistrada se voltou para todos os presentes e sorriu, seu rosto parecia aliviado, estava contente por ter conduzido uma boa audiência e finalmente disse: as testemunhas não mentiram; e completou, que o que ela conduziu era diferente de tantas outras oitivas, ali houvera honestidade.

        Saí de lá e nem me dei conta do que presenciara, pela expressão da juíza, uma exceção: as pessoas foram honestas.

       Depois de horas sem pensar nada a respeito, esta pergunta veio perturbar meu sossego:
        
       Será tão difícil assim ser honesto no Brasil?  

       Então comecei esta crônica pelo fim.
       

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Quem faz a história?

Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.... Frase de George Orwell.


     A Lava Jato se encerrou.

         Olhando tudo que vem ocorrendo desde 2014 nesta semana tivemos o último capítulo, não estou olhando para o quesito justiça x injustiça; condenação técnica x condenação não técnica, mas a decisão seguindo o censo que haveria de ter uma condenação na amplitude do comportamento, inclusive político, de Lula.

        No sentido de demonstrar que a lei. "A lei". A lei está acima de qualquer poderoso novos cânones judiciais foram criados continuadamente. Quando ouvi trecho do voto do desembargador Gebran, onde citava o mensalão eu pensei: Como na prisão de Al Capone!

        Os EUA não tinham como prendê-lo pelos assassinatos, jogatina, venda de bebidas durante a Lei Seca, então foram buscar o crime de sonegação fiscal. Isto é só uma referência da atuação estratégica inteligente, era fundamental prender o gangster.

        Aí estar um exemplo. Era preciso punir, não podiam deixar Lula escapar de uma punição.

        Alguém se lembra do power point do Deltan colocando Lula no centro do Petrolão? 

       Há que se reconhecer, a história foi contada pelo extenso processo, toda a equipe foi competente, criaram a narrativa, apararam as arestas e mesmo quem ache que teve ilação até elogiou o voto do relator.

       Então: Quem se perguntará daqui a 10 anos se esse mesmo processo esteve cheio se senões?

     

sábado, 20 de janeiro de 2018

Gênero

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    Em um encontro de rapazes na Confraria do Vinho e um Cervejeiro, ninguém com menos de 50 anos, um deles levantou um dos assuntos para evidenciados  e perigosos para os homens nestas voltas de 2018. Mais perigoso, muito mais que a Lava Jato para os malfeitores do erário público.  Das muitas, diversas e antiquíssimas PPP (Parcerias público-privadas) que pululam deste o Brasil colônia.
     
    A assunto chegou mais ou menos assim, "mas vocês estão vendo essa questão de gênero?" Alguém respondeu: o assunto é perigoso, outro; eu nem olho mais e as opiniões eram sempre em frases simples, curtas e preocupadas. Por instantes senti algo próximo ao cuidado extremo e bem perto do desconforto. As vozes foram baixando e logo nenhum dos rapazes falava mais do assunto.
    
    Um curto silêncio se seguiu, acho todos pensaram na nova realidade de gênero, nos sentimentos de força e poder que tem a mulher hoje e na hodierna baixa tolerância, onde muitas se manifestam ao assédio sexual e todo tipo de comportamento masculino que resvale para a sexualidade não consentida.  Situação, creio, que levou a uma reflexão que se seguiu adiante, já puxada por um pensar anterior e talvez,  com reflexo em uma mudança comportamental.
     
Em tempo: 
       "Confraria do Vinho" e completei  "e um Cervejeiro". Nome inventado por um dos confrades com um pitadinha do meu gosto pela cerveja.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Considerações de um chute.

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Considerações de um chute: Reestruturação no BB.

- Vamos partir da premissa que o BB visa, internamente, ganhar eficiência  e o princípio da especialização indica a direção das alocações do pessoal.

- O segundo ponto é "motivacional", chacoalhar os funcionários para os manter ligadíssimos nas suas coisas.

- Outro ponto. Gerar imenso desconforto e insegurança para fazer os remanescentes da geração anterior a 1998, que estejam aptos a saírem do BB pela Previ, pegarem o boné.

- Mais um ponto. Expulsar as "ovelhas negras", os não adaptados e outros indesejados pelo BB para aderirem a "demissão consensual". Haja pressão para esses.

- No âmbito da comunicação externa é mostrar que o BB está se modernizando e ganhando eficiência (maior lucratividade), semelhante aos bancos privados. Arrisco a dizer que a contabilidade vai ser destravada, mais lucro a ser anunciado.

- Os aspectos que possam indicar uma privatização não estão descartadas.  Por hora o governo ainda precisa do BB e da Caixa para auxiliar/forçar a adesão dos parlamentares aos seus objetivos.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

2018

                                     Resultado de imagem para política
                                        Fonte: www.uai.com.br
 

    As vezes decidir o assunto de uma crônica gera uma enorme indecisão, melhor é quando acordo já com uma ideia definida, me sento ao computador e ela já sai pronta, quentinha como o pão da primeira fornada da padaria.

     Mas não é assim, fácil. Há pouco olhei uma pequena estatística deste blog, das 21 crônicas publicadas outras 18 outras são rascunhos. Acho que a autocrítica me impediu de publicar a maioria delas.

    Uma das crônicas, particularmente, foi apreciada por 1740 leitores (O silêncio de uma doença), outras, menos de 40 acessos.  A campeã de leitura trata de uma situação insidiosa, que é a perda de um amigo por suicídio, uma pancada tão grande como um assassinato, da qual tenho experiência.

     O suicídio, uma condição humana extrema. Antes de redigir esta crônica li que o suicídio é uma situação de extremo narcisismo que afeta quem fica vivo. Não sei, achei um conclusão afetada.

    Por estímulo de um grupo de Whatsapp no ano passado passei meses lendo muitas matérias sobre a Lava Jato. Do que a grande mídia empresarial nos queria impingir, da tentativa de ler outras visões da mídia autofinanciada, com poucos recursos, mas que ousava fazer análises mais aprofundadas envolvendo os protagonistas, os fatos e as contradições propositalmente ignoradas pela mídia dos grandes veículos. Queria fugir dos conteúdos tendenciosos e busquei, como ainda busco comparar o que leio com umas poucas matérias jornalísticas mais equilibradas, que comentam os aspectos jurídicos, éticos e fáticos que envolvem as ações da Lava Jato e suas derivações.

    Ocorreram muitas Brasil afora. Conforme vasto noticiário há disseminação do uso dos mesmos métodos da Lava Jato: a condução coercitiva de surpresa; a espetaculização das operações; a convocação de contingente imensos da Policia Federal para atuar contra uns poucos investigados e os enormes vazamentos, seletivos, que parecem ter diminuído.  Por fim, o mais famoso dos métodos: a prisão preventiva para força o acusado a aderir a delação premiada, situação muito criticada pelos juristas. 

     No conjunto uma estratégia nova  no Brasil, um método novo para atingir os encastelados no poder e na força do dinheiro, de reais resultados, tanto pelo lado bom, o da punição, quanto pelo questionável: as reclamações de abuso de poder, com os questionamentos do risco de abrir brechas para o arbítrio. 

     Esta é uma situação típica dos dilemas do tamanho do universo: se pune sob o objetivo de não deixar criminosos sem serem sentenciados, utilizando métodos não agasalhados pelo direito do Brasil e com um processo mais rápido ou segue os trâmites e as filosofias tradicionais e torna o processo mais lento?

     Há muitos a favor da celeridade e outros que veem risco institucional em se quebrar o arcabouço jurídico. 

    Mas uma das operações com aplicação dos métodos da Lava Jato tem me rondado a cabeça desde que li a notícia: O caso da operação (Ouvidos Moucos) que prendeu o falecido reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier. Após a prisão, em 18 dias ele se suicidou. Vergonha, humilhação extrema, revolta, culpa, abuso das autoridades, culpa fática. Quais desses vetores provocou a decisão extrema?
    
    Chegamos a 2018. 

    Ele já iniciou com algumas conjecturas em cima do julgamento de Lula no TRF 4, as análises se repetiram durante o dia de ontem. Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo, colocou que o STJ já discute se a votação for 3 x 0 o destino de Lula estará sacramentado, se for 2 x 1, o recurso poderá ser analisado e ele ter alguma chance de ser candidato neste ano. 

     Eu fiquei parte de ontem matutando, seria uma análise legítima? Seria o desejo de passar recado? Seria uma prévia ou premonição do julgamento ou seria o desejo de influenciar os magistrados do TRF 4?

     Tudo que envolve Lula é cheio de certezas, incertezas, verdades, não tão verdades, tudo tem um quê de dubiedade muito extremo. Qual verdade marcará a história dele? A verdade dos autos? Ou uma pós-verdade garimpada por algum historiador corajoso e uma editora igualmente corajosa?

     Você acredita que ela vá ser candidato? 

     Eu sinto que não será. No entanto,  estou muito curioso como vai se desenrolar a eleição presidencial deste ano se o TRF 4 condenar Lula por 3 x 0. 

 

 
 

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...