sexta-feira, 10 de julho de 2020

Normalização de um estado de guerra


Um dos livros mais instigantes que li foi Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalização do mal³, da filósofa alemã e judia, Hanna Arendt. Livro famoso que lhe rendeu muitas críticas. Livro, no qual,  Hanna, fez o perfil de Adolf Eichmann,  que ele esperava encontrar um indivíduo medonho, toda a estampa de uma pessoa má e se surpreendeu ao encontrar um burocrata, "cumpridor dos seus deveres" na máquina de matar nazista. A toda a acusação ele respondia, mais ou menos assim: "Não na forma como estou sendo acusado", pois ele acreditava que estava cumprindo ordens, apenas isso. Tal coisa, entre outros argumentos, fez Hanna Arendt criar a expressão "Banalização do Mal".
    
Há muitas outras banalizações ruins. Marolinha, gripezinha; etc. As pessoas esgotadas pela "prisão" da quarentena enchendo os bares no Leblon, no Rio. Shoppings em Blumenau. Pessoas vão morrer. Guerra de facções, extorsão lá distante de nós, pelas milícias. Tantas mortes nesta pandemia, criando um modelo para os nosso vizinhos de bairro pobres. Racismo. Discriminações. Feminicídio.  Corrupção. Sobrepreço. Estresse. Síndrome de Burnout. Assédio de tudo que é tipo. 

Desde que li uma notícia, alias, já consigo ver alguns noticiários onde a estatística das mortes pela pandemia da Covid-19 não me choca mais, às histórias narradas pelos atores da Rede Globo de alguns dos mortes pela pandemia escritas no site Inumeráreis, sim. Me lembra da minha própria vulnerabilidade, me lembra que eu preciso ir preenchendo a minha mente, meu espírito, meu tempo, minha verve de coisas boas, sadias, de ter uma luta "heroica" contra a desesperança, a falta de fé, o medo, a angústia.

Duas noticias me deixaram dias a fio pensativo, uma me deprimiu, foi quando o pai comentou que o filho (25 anos) disse que não aguardava mais o sufoco do tratamento contra a Covid-19 e pouco depois ele morreu. Me choquei, pois havia lido no trecho do livro Em busca de Sentido, de Viktor Frankl, médico psicanalista, preso em Auschwitz, onde ele constatou que a falta de um sentido para a vida fez milhares de prisioneiros morrerem, inertes, sobre uma cama. Lembrei, quando vi uma reportagem, da cena que ele descreveu de um homem que havia sonhado com a liberdade, que ocorreria para ele, neste sonho em 31 de março e ele morreu em 30 de março de 1945, pois dois dias antes, ele se prostrou sobre a cama dura, sequer saia para fazer as necessidades fisiológicas. E antes cheio de esperança, desistiu e em 48 horas estava morto. Esta constatação me chocou. Fiquei dias pensando e ao mesmo tempo, tentando me livrar dessa agonia.

Na semana passada, eu vi no site G1, uma pequena reportagem de um rapaz de 19 anos, que mandou um áudio para a namorada dizendo que iria ser entubado e depois de três dias iriam desligar o aparelho. A reportagem não transmite todo o medo daquela pessoa. A matéria, entre tantas outras, milhares, entrou na mesma barca do comum. 

Ontem à tarde estava na área de serviço aqui do apartamento e vi pela calçada um senhor, andando ao lado de uma jovem. Ele sem máscara, ela com máscara. Na outra calçada, vi cinco jovens, todos eles andando sem máscara.

Curioso comecei a ler e a escutar programas, comentários, lives sobre como as pessoas serão, sobre como a economia será, sobre como as empresas serão, sobre como o cuidado com a ecologia será, sobre como as pessoas serão tratadas, sobre como os sentimentos degradantes, como o racismo, discriminação de gênero, violência contra a mulher, contra as crianças, como as minorias, etc. Etc.

Alguns dizem que certas mudanças, uso de máscara, processos de proteção nas empresas, preocupação com a saúde dos funcionários, dos clientes, serão mais fáceis, outros que os sentimentos entranhando na cultura não serão alterados do modo que se imagina, os mais otimistas e que é desejável, por exemplo: o racismo estrutural. Eu estou nesta corrente. 

Na quarta-feira ouvi em um programa de rádio, do Geraldo Freire, a afirmação de um médico neurologista, autor de um livro a respeito da Biologia dos Hábitos, que mudar pensamentos consolidados exige um esforço deliberado e consciente, persistente, sobretudo, para que novas sinapses dos neurônios sejam criadas,  pois, do contrário, o pensamento antigo, que está automatizado por sinapses neurológicas no cérebro, toma conta das suas atitudes sem que o indivíduo perceba.

Isto me fez lembrar de um livro que ganhei de presente: O Mecanismo de Vida Consciente¹. Tio Marlos Urquiza dizia que os pensamentos eram autônomos, ele havia estudado com afinco a Logosofia² e eu era cético quando esta afirmação, quando o médico falou, ao responder ao radialista Geraldo Freire, de imediato não pensei nesta minha experiência de vida. Escutei com o espírito de curiosidade, mais aberto ao que se dizia naquele instante do que quando ouvi do tio em 1990 que os pensamentos têm vida autônoma, como os pensamentos que tornam as nossas ações automáticas, como dirigir, conversar ao mesmo tempo, acionar a alavanca de câmbio, a sinaleira, etc. Mas o pensamento valorativo obedecem a mesma lógica. A pessoa julga sem perceber que julgou. Age no automático sem perceber que foi oriundo de um pensamento entranhando nos neurônios.

Aí, eu pensei. Venho pensando, como se portar dentro dessa realidade que o risco está em todo lugar. Como se portar quando uma pessoa já passou pela Covid-19 e escapou: Continuar usando máscara; se sente invencível, imortal e não se preocupa com as outras pessoas. Ficar um um medo atroz, estampado no rosto e na mente, no coração, sobretudo. Traumas causam medo. Quem ainda não passou por ele, pode achar que a refrega dessa pandemia diminuiu e afrouxa os cuidados.

Ainda há um estado de guerra. Você não mata o inimigo, mas ele pode te matar.

Abração, Semana Iluminada
Marconi Urquiza 



Links com as citações:










sexta-feira, 3 de julho de 2020

Oração para um amigo


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Ronaldo Tenório - 54 anos.

"O meu time de amigos
A COVID desfalcou.
Se foi Ronaldo Tenório
Um amigo que marcou
Pelo tanto de
sementes 
Que em vida semeou."

Poema do amigo Ademar Rafael



O poeta Mário Quintana lecionou:

Esta vida é uma estranha
hospedaria,
De onde se parte quase
sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas
estão prontas,
E  a nossa conta nunca está
em dia.

Desta uma estranha hospedaria, o amigo Ronaldo se foi. 

"Bom dia primo!" ou "Bom dia primo, que Deus te ilumine!"

Em algum momento a sua verve cativante nos aproximou. Lá de longe, dos ancestrais o sobrenome Tenório nos tocou, ele com o sobrenome de batismo, eu pela derivações da família. 

É fácil elogiar um morto e criticar um vivo. Era um bom homem e coisa e tal. Era um pai valoroso e coisa e tal. Mas o que dizer de uma pessoa que ano após ano, mês após mês, dia após dia te desejou Bom Dia. BOM DIA!!!!!

Sabe, na semana que deixou de desejar bom dia eu pensei: Se abusou da minha frieza. Como me enganei!

Gostaria, antes de me despedir, de me lembrar dele pelo seu jeito alegre de ser e de tanto cutucar, eu achei: (Clique em) Linguajar obsceno, com Ariano Suassuna 

"Bom dia primo", que Deus de te conceda conforto, carinho e atenção tanto quanto não medisse em vida.


Abração, Semana Iluminada.

Marconi Urquiza

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Foi tudo tão muito, e imensamente, tão pouco.

Mensagem em Homenagem Dia do Amigo, a vida é só alegria para quem ...

Foi tudo tão muito, e imensamente, tão pouco. 

Por muito pouco eu não iria para um reencontro com amigos. A pandemia já dava as suas caras e eu pensei, no duro, eu pensei: "E se não eu não tiver outra chance?" Por causa dessa pergunta, ganhava em mim uma dimensão, que sempre esteve por aí na vida: a da urgência, do querer fazer tudo que fosse possível. 

Pois bem, só fechei a viagem quatro dias antes da data. Mandei revisar o carro e nos preparamos para viajar. Eu e Nega.

Então dois dias antes, pegamos a estrada para o Primeiro Encontro dos Ex-Funcionários do Banco do Brasil em Afogados da Ingazeira. A viagem, com estrada conhecida, muito conhecida por mim até São Caetano. Não sei contabilizar quantas vezes passei por este trecho. Cem vezes, é bem provável. Então foram cerca de 150 quilômetros só olhando para a rodovia da BR 232. O túnel da Serra das Russas já havia ficado para trás.

Caruaru nem via mais no horizonte, quando passamos de São Caetano,  a viagem se transformou para mim. A memória começou a comparar o presente com as minhas lembranças e eu comecei a narrar para minha esposa a primeira viagem para Afogados da Ingazeira em janeiro 1982. Naquela tarde de sábado, eu ofereci  a um policial militar uma carona, minha companhia até Sanharó, naquela primeira ida, trinta e oito anos antes. Era um jovem de 22 anos.

Uns quilômetros à frente, chegamos em Belo Jardim. Do lado cá, meu sogro teria dito, se referindo do lado direito da rodovia, estava tudo quase do mesmo jeito, mas do lado de lá, esquerdo, muito havia mudado.

Lá na frente, eu me lembrei:
- Você se lembra quando viajamos com três grávidas para Recife? 
- Lembro, - foi a resposta de Nega. 

Eram as esposas de dois outros colegas. Um dos casais, da Bahia, colocou o nome do seu primogênito de Marconi. Uma honra nunca agradecida. Não lembro do nome desse colega, nem sei onde moram e como está o filho.

Ainda mais à frente, em Pesqueira, fiquei em dúvida e comentei:
- Nega, tem um hotel por aqui, - mas não lembrava de qual lado. Era do lado direito, indo para Afogados. Quando eu vi, exclamei: "Olha, é esse!" Menos de um quilômetro, viramos à esquerda, descemos a ladeira e cinco quilômetros depois a estrada estava na mesma. 

Chegamos em Arcoverde, visualizei a Chevrolet Tamboril do lado esquerdo, busquei com os olhos um antigo arquivo geral do Banco do Brasil, do lado direito, até lembrei do dia em que a cruzei o centro da cidade, chovia forte e o velho Chevette jogava água  para dentro, por um buraco aberto do canto do para-brisa, pela ferrugem.

Deixamos Arcoverde para trás e vimos Cruzeiro do Nordeste. Aquela vila em que foi rodado parte do filme Central do Brasil. Na frente de Polícia Rodoviária Federal, pegamos a direita e seguimos para Sertânia. Qual não foi o desapontamento, aquele pedaço de rodovia estava congelado no tempo. Asfalto remendado, pintura apagada, beirada da pista comida pelo trafego, acostamento de terra. Tudo bem semelhante a 1994, a última vez que havia passado por ela. 

Alguns quilômetros depois de Sertânia, seguimos para Albuquerque Né. Depois do trevo, aquele pedaço rodovia também estava ruim, quase igual a rodovia que a gente passava em 1987. O piso permanecia todo carcomido. Quando a vila apareceu, diminui a velocidade e fui procurando com avidez a bodega, onde perdido em 1982, parei para perguntar como faria que para chegar em Afogados da Ingazeira. Até disse a Nega que pedi uma Coca-Cola antes de perguntar. Naquele nove de janeiro, a noite já havia nos abraçado.

Me lembrei que segui tateando a estrada e vi um povoado, mas ele estava distante da dela. Ao olhar para a esquerda eu vi uma casa grande, fui até lá e gritei uns três boas-noites. Já estava desistindo, quando sorrateiro, um homem alto, magro, apareceu, deu a informação  que eu precisava, mas quando vi o enorme revólver encostado na sua perna, agradeci e quase correndo, entrei no carro.

Nessa ida agora, a casa estava pintada, recuperada, até corrimão havia sido colocado. 

Depois de Irajai, meia hora mais tarde a gente já tinha passado por Iguaraci e entrava em Afogados da Ingazeira, mais um dia e uma noite, rolaria a festa.

Após o check-in no hotel, nós descemos para o centro da cidade. Irremediavelmente a minha lembrança me levou àquela antiga praça, cheia de areia nos canteiros, passeio arenoso. Estava em janeiro de 2020 arrumada, cuidada, arborizada. Mais um pouco eu ouvi uma voz conhecida e comecei a me sentir energizado, como nos diz o poema de Ademar Rafael:

"Sinto-me energizado
  No  dia que eu consigo
  Reencontrar um amigo
  Que me apoiou no
  passado.
  Recarrego a bateria.
  Na troca de energia,
  Gerada em cada 
  abraço."

Na festa nos reunimos com Alcyr, Jéferson, Tarciso, chegou Ivanílson, Belo chegou depois, cumprimentamos tanta gente. Jéferson comentou sobre uma crônica que escrevi, depois Alcyr começou a falar, vinte anos da sua vida, contada em vinte minutos. Sabe, como faltou conversa! Ficou incompleta, quase nada falei da nossa vida. 

Então a música entrou, alta, a conversa foi minguando e a saudade nascendo, dos amigos que vi por lá. 

Na troca de energia gerada em cada abraço, foi tudo tão muito, e imensamente, tão pouco. 

Foi tudo tão muito, e imensamente, tão pouco.



Abração. Semana iluminada.
Marconi Urquiza



sexta-feira, 19 de junho de 2020

Taquicardia a dois.



clarice-lispector

Amiga leitora, amigo leitor. Eu tive várias ideias na semana, mas ao escrever, em todas elas, a alma ficou devendo. Assim me socorri de Clarice Lispector. Vá no link, ouça e leia ou leia e ouça esta linda crônica.

Uma crônica de uma suavidade imensa, lírica, amorosa, como neste trechinho:
"E lá ficou com o sabiá na mão. O coraçãozinho do sabiá batia em louca taquicardia. E o pior é que minha amiga estava toda taquicárdica. ..."

Clique neste link:


Semana iluminada.
Abração, Marconi Urquiza


sexta-feira, 12 de junho de 2020

Passarinho tomando banho de sol

Canto do Rouxinol para Android - APK Baixar


O amanhecer do sertão
Sempre teve seus encantos
Aves através dos cantos
Nos dão a exatidão
Dessa belíssima canção
Nascida no arrebol
O minúsculo rouxinol
Arrodeia nossas casas
Cantando, batendo asas
Tomando banho de sol.

Ademar Rafael (João Pessoa, 11.06.2020)


Poderia ser uma metáfora, mas não é.

Sábado fez um lindo sol, eu acordei cedo e seis da manhã estava pegando os raiozinhos na varanda, de um sol gostoso, que acaricia a pele. O forró abanava macio os meus ouvidos, me encostei na mureta, olhando por olhar.  Aqui e acolá passava um  carro na rua. Da varanda eu via a Rosa e Silva e suas amigas vizinhas. De onde a vista alcança, aparecem as folhas das árvores. São tantas que convidam os passarinhos para visitarem e eles vão e vêm, chegam de mansinho ou em voos rasantes. 

Na rua quase ninguém, passou uma funcionária da padaria da frente. Desceu um vivente correndo de máscara, outro passou de bicicleta, meia duzia de carro já tinha passado. O forró tocava gostoso, alteei o som, um som diferente vinha da frente, baixei. Já fazia alguns alguns minutos que os passarinhos voavam, revoavam, piavam e cantavam na sede e árvores do Náutico. 

Nas suas evoluções, que dão inveja a qualquer Esquadrilha da Fumaça, paravam em um canto, noutro e aí eu fixei olhar em ponto e pensei, o passarinho está tomando banho de sol.  Pois bem, o sol bonito, o vento fresco, levemente úmido, a temperatura agradável. Nestes minutos foram aparecendo outros passarinhos.

Um Bem-ti-vi cantou, outro acompanhou, dois pássaros maiores se separaram e um deles voou veloz pela Rua Barão de Contendas. Mal comparando, parecia um pequeno jato em voo supersônico.

Três pássaros verdes voaram de longe juntos e pousaram na placa em frente à entrada do estacionamento do Náutico e nisso eu olhei, junto aos três, havia outro passarinho tomando banho de sol. Paciente, quieto, parecia de barriga cheia e só queria garantir a sua dose solar de vitamina D.

Como meninos buliçosos, os três passarinhos verdes pularam para o muro, do muro para os fios de alta tensão no meio da avenida. Nele ficaram alguns segundos, confabularam alguma coisa e bailaram, lá no solo as espigas da grama, apetitosas os chamavam. Comiam e piavam, era tanto piado que pareciam três amigos contando piadas.

De repente, a minha atenção foi desviada, uma Rolinha cantou, repetiu, sumiu rua acima, passou pela árvores da Rua da Angustura e lá despejou o seu canto junto com os dos Bem-ti-vis, nossos vizinhos do Country Club.

Alguns Canários da Terra chegaram e ficaram revoando de uma árvore para outra, aí eu me lembrei do passarinho tomando banho de sol. Estava impávido, solene, sereno. Olhei admirado e pensei: "Esse Galo de Campina é fera."

De repente a orquestra da vizinhança se reuniu e sem ensaios começou  a tocar, como? Tocava não, cantava. Um coral?  Em alguma árvore perto da Matriz do Espinheiro o som migrava de um lado para o outro e os passarinhos realizavam um conclave musical.

O Galo de Campina lá embaixo nem se mexia, pelo tempo eu fiquei desconfiado. Agucei o olhar, dei uma vaga nos passarinhos e disse: "Ôxe?"

Deixei o sol esquentando a parede e fui no quarto, troquei de óculos e voltei para a varanda. Meu Galo de Campina continuava impávido, sereno, solene, mas não estava lá, nem esteve, devia ter embelezado outras paisagens, pois quem estava lá parado, era um toco de ferro, que misturava a cor da ferrugem com pontos de vermelho e branco. 

Ainda bem que eu coloquei os óculos novos, mas que eu vi, vi, não era um "rouxinol", era outro passarinho, tomando banho de sol. 

(Recife, 06.06.2020 - Entre seis e seis e mais da manhã)


Abração, semana iluminada.
Marconi Urquiza


Conclave musical dos passarinhos: AUMENTE O SOM  NO MÁXIMO.


sexta-feira, 5 de junho de 2020

Perto da alegria

Um casal de ferias

O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. 
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. 
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar. 
                                                            Carlos Drummond de Andrade


Aqui da varanda de casa olho o mundo, o mundo empatado pelos prédios que cercam o meu apartamento. As janelas estão vazias, um, outro, raros moradores chegam e também olham o mundo, apenas alguns segundos, logo voltam. Vêem menos do que eu, não contemplam o que enxergam.

Ouço no streaming uma canção de Chico Buarque, agora um clássico cubano embala os meus ouvidos, não gostei, apertei uma tecla e entrou outra música. Deixei ela embalar até a metade, busquei uma canção que o meu espírito aprove e me deixe contente, perto da alegria e longe da tristeza.

Oitenta dias de quarentena. Levanto a cabeça e fico olhando ao redor, sem procurar nada e tudo, desejando não me entediar, por isso passeio com olhar. O sol a pino deixa as cores vivas, bonitas, não faz calor na varanda. O sol está nas costas do prédio. Olho a taça de cerveja, está quase no final, daqui a pouco irei abrir outra minicerveja.

Os meus olhos voltam a passear de novo pelos prédios, esbarro durante poucos segundos, vejo uma pessoa, em um apartamento alto, bater um tecido na janela, jogando pó ao vento, que irá longe, o vento sopra suave.

Continuei sentado e passeando pela vizinhança, com aquela preguiça de quem vê a mesma coisa toda vez que olha no horizonte, aí o meu olhar esbarrou em uma janela, vi alguém como se estivesse bailando, agucei o olhar e vi uma mamãe embalando o seu bebê ao som daquela música, que só está no seu coração.

                                           O amor é grande e cabe no bailar de um ninar
هو هبه بين يدي (com imagens) | Arte de mãe, Pintura bebê, Mãe e ...
(Recife, domingo. 31 de maio de 2020. Entre às onze horas e o meio-dia)


Abração, semana iluminada.

Marconi Urquiza

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...