sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Vamos lá fazer o que será!!!!

 


            Fé na vida, fé no homem, fé no que virá

            Nós podemos tudo, nós podemos mais

            Vamos lá fazer o que será.

                                            Gonzaguinha


            Você já esteve em alguma reunião que corria alguma energia, como um rio subterrâneo, até que ele apareceu iluminando a natureza, criando vegetação e dando vida. Foi assim, foi quase desse modo, foi o que senti.

            Três anos atrás fui a uma reunião parecida, de posse de uma diretoria. Naquela noite tudo curto, sisudo, muito formal e até, tenso.

            Na última quarta fui com Cida, formos o segundo casal a chegar no Salão Capiba da AABB Recife. Mesas separadas, conforme o protocolo da Covid-19.

            Os amigos e os conhecidos foram chegando aos poucos e sentando às suas mesas, e foram se juntando, a afinidade aflorando, a saudade matando o desejo de se reunir, de contar sobre com passaram, como estão hoje, compartilhar de sua vida. 

            Eita vontade de abraçar. Eita!

            Os presentes, todos adultos, já puxados nos anos, presumo, vacinados. Havia entre eles amigos que não se viam a um e meio. Muitos ali já haviam rompido os dois anos sem se encontrarem, gente que se encontrava regularmente.

            Eita vontade de abraçar. Eita!

            A reunião prosseguiu, sisuda, como deve ser um ato solene e chegou a hora do discurso do presidente da AABB Euler, reeleito.

           Euler, ao contrário de suas intervenções curtas, trouxe um texto longo, formal. Começou a ler, em certo momento, fez imagens de um sentido mais filosófico, mas o discurso foi ganhando outro tom, que a sisudez de um discurso escrito não costuma permitir e foi ganhando o colorido da emoção.

            Ontem um menino que brincava me falou

            Que hoje é a semente do amanhã

            Para não ter medo, que esse tempo vai passar

            Não se desespere não, nem pare de sonhar

            Quando ele cantou essa estrofe de capela, o papel já repousava no púlpito, era na sua voz a força da esperança e da superação. Fé no homem, fé na vida, fé no que virá. Foi nesse momento que os presentes começaram a vibrar, como aquele rio subterrâneo, e os aplausos protocolares, sem entusiasmo, foram ganhando o colorido da vida e já não eram mais de pessoas educadas, mas de fãs. E a energia correu todos nós.

            Fé na vida, fé no homem, fé no que virá
            Nós podemos tudo, nós podemos mais
            Vamos lá fazer o que será
            Vamos lá fazer o que será

            Vamos lá fazer...

            Olha o sol nascendo!
            Viva o Sol! Viva o mar!
            Viva a saúde!
            Viva o vento! Viva a vida!

            Vamos fazer o que será!!!

            
            Abração, Marconi Urquiza



        Clique no link e veja o vídeo com Erasmo Carlos cantando a canção.

        SEMENTES DO AMANHÃ

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Abuso, abusado, abusivo

 


A primeira vez que li algo a respeito eu fiquei, assim, meio parado, refletindo sobre o conteúdo. Era como se tudo tivesse se juntado em uma palavra: Tóxico.

Tóxico. Era assim que papai falava sobre pessoas viciadas em drogas, especialmente a maconha, nos anos da década de 1960 em diante. Outras drogas ilícitas não estavam ainda infestando por Bom Conselho, naqueles anos da minha infância.

O tempo passou e um estudioso do trabalho escreveu sobre ambientes do trabalho tóxicos. Aqueles ambientes que provocam tanto desconforto que levam ao adoecimento psíquico de muita gente e o sofrimento mental para a muita gente.

Ansiedade, insônia, alcoolismo, isolamento, irritabilidade, baixa produtividade, entre outros problemas.

Na esteira que aquela leitura me despertou, vieram outras e mais outras, até que li sobre a Síndrome de Burnout. Em uma imagem simples e direta, é como se a pessoa queimasse por dentro como um fósforo aceso.

Tempos depois, esbarrei em uma matéria sobre comunicação não violenta. No contraponto disso, a comunicação agressiva é bem comum. Não precisa gritar, até em voz baixa pode se xingar, diminuir a autoestima, minar a confiança.

Hoje se sabe que a violência doméstica, física, vem precedida da comunicação violenta. É um processo lento e crescente de abuso entre pessoas. É semelhante ao que ocorre na parábola do sapo que ferve junto com a água, sem que esboce qualquer reação. A temperatura vai subindo e o animal morre sem fazer nenhum movimento para sair da panela.

Vários anos se passaram até que definisse uma percepção, a partir de uma lembrança de um jogo de futebol.

Em 1995, nós fomos jogar futebol de salão em uma cidade vizinha. Em certo momento, um jogador foi ao árbitro e disse que estava levando pancadas de um adversário. O árbitro fez ouvidos de mouco.

Na jogada seguinte levou outra e compreendeu que do árbitro não haveria nenhuma ação.

O tempo correu e o jogador, que gostava de ser duro levou uma trombada que o jogou no chão. O que deu o troco, olhou para o árbitro e esperou que ele apitasse falta e até o advertisse. Não apitou e o jogo prosseguiu sem que aquele, que andou lhe dando pancadas, tentasse de novo lhe machucar.

Mais de 20 anos depois, estava em casa, muitas recordações vieram na esteira da reflexão sobre relacionamentos abusivos, após ver uma sucessão de notícias sobre feminicídios.

Puxei o assunto na hora do café, em uma das conversas se falou de uma pessoa pública, notório por não respeitar limites. E dá indicações que o que coloca um freio momentâneo nas suas atitudes, é uma reação na mesma altura da sua agressão.

O modo abusivo de ser é desse modo, não adianta contemporizar, pois lhe dar força para o seu comportamento. É não deixar o medo tomar conta, mesmo em desvantagem. Sobretudo, não tentar agradar o abusador, que quase sempre interpreta isso como fraqueza, aumentando a sua maldade.

Esse tipo de pessoa é como se estar diante de um vampiro, ele se move e se sente forte ao sugar o nosso sangue espiritual. Não é para se consolar e parar de lutar, tal pessoa, vai sempre atrás de uma vítima, pois é um predador.

Às vezes a luta parece impossível, se isto é o que se tem no momento, se prepare, pode ser que tenha que ter uma reação “abusiva” para se livrar do abuso.

Há um risco, o risco de se tornar uma pessoa abusiva ao reagir. Mas isso é comigo ou com você e não com o abusador.


Abraços, Marconi Urquiza

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

UM GÊNIO BONDOSO



            Às vezes a gente não se dar conta que conviveu com um gênio e destes, de bom coração, altruísta. Essa constatação só veio muito tempo depois, muitos anos já havia se passado desde o primeiro encontro.

            Vou correr na memória e parar em um Sete de Setembro. Acho que foi em 1969. A época está imprecisa, a memória forte.

            O desfile de Sete de Setembro em Bom Conselho havia se transformado em um evento, evento que atrai, até hoje, multidões para vê-lo. E isto começou com essa pessoa.

            Desejando ver o desfile, eu saí de casa e corri para a praça, arrumei uma vaga em cima de um banco e fiquei vendo as escolas desfilarem. De repente, um grupo de estudantes, vestidos com batas, como cientistas, vinha trazendo a representação de um foguete em um balão. Tudo artesanal. Pode ter sido o foguete Apollo 11. Não sei o que plateia sentiu, eu fiquei extasiado.

            O pelotão de cientistas caminhou mais um pouco e entrou a banda marcial. Quando ela tocou e bailou, com seus membros tocando e fazer coreografias o público vibrou.

            Pense que ela foi embora? Acho que ela ficou de lado, tocando até todo o colégio passar.

            Foi o primeiro espetáculo popular que assisti.

            Anos depois o conheci como autoridade. Diretor do colégio estadual. Um ser inquieto, enorme nas boas intenções e um líder, que só vim a me dar conta, quando tentava ser um.

            Muito, muito tempo depois, eu soube que ele estava vivendo em Catolé do Rocha, na Paraíba e eu e Cida morávamos em Caraúbas, RN. A 70 quilômetros.

            Na manhã de um sábado o encontramos. Nos recebeu com um sorriso discreto, conversamos um pouco. Eu o achei triste. Logo depois saiu mostrando às suas criações, detalhando em cada quadro a técnica utilizada, como se nós entendêssemos daquilo.

            Mas ele era mesmo assim, fazia questão de incluir as pessoas.

            O tempo passou e nós fomos visita-lo em Bom Conselho, para onde havia retornado uns 15 anos depois. De novo, ele nos levou a um ateliê, onde ensinava a jovens, a técnica de construir vitrais com cacos de vidros. Cada obra linda. Outra vez nos deu uma aula de como utilizar a técnica. Estava contente por ter formado vários jovens, entre eles, mais de um já se desenvolvia como profissional. A sua alegria era visível. Feliz.

            Saí do encontro contente. No dia seguinte ele chegou na casa do meu sogro, coisa que fazia todos os sábados. Neste dia,também quis saber se o cunhado Pedrinho, que morava em Natal, havia chegado.

            Cinco minutos de conversa, cinco minutos de alegria e foi cumprir as suas missões de vida.

            Encostei no portão e fiquei vendo a rua e seus transeuntes, quando ele voltou com o carro na direção do centro da cidade, ao passar por mim, levantou a mão em despedida e sorriu.

            Posso dizer uma coisa, ele fez a diferença para várias gerações e para toda a cidade.  

           Fiquei por ali refletindo. Só tardiamente reconheci que Frei Dimas era um gênio. Um gênio bondoso e compassivo.

            Viva Frei Dimas. Um ser que com suas atitudes passou a vida iluminando por  onde ia.

            Abraço, Marconi Urquiza


sexta-feira, 13 de agosto de 2021

AMBOS TINHAM RAZÃO


 

            Estava sem assunto, nas últimas duas semanas ando tão voltado para esse novo trabalho que não sobra espaço no pensamento para criar textos significantes. Pode-se dizer que estou em uma seca criativa.

            Mas essa semana ocorreu algo, comum para muita gente e forte para nosso pequeno grupo de amigos. 9 pessoas. Um se irritou e saiu.

            Desde a saída dele, dentro do grupo de Whatsapp, ninguém havia postada nada e nem comentou sobre a sua atitude. Poderia entrar no detalhe e traçar um longo histórico de postagens, onde expressa a sua opinião sobre o momento político. Em outros instantes, tentando dissimular, usou o argumento que portador não merece pancada. Aqui e ali, alguém dizia algo que o contrariava e à sua visão de mundo. Eu fui um. Várias vezes.

            Ontem, quando me deslocava de casa para a AABB Recife, lembrei de uma frase, que era mais sonora que a que vou escrever: 

            "Não se argumenta com radical, não peça calma a cliente irritado. Ambos vão explodir".

            Aí, ao abrir o Whatsapp do grupo e vi que um dos amigos postou uma frase de Fernando Pessoa, linda, que lida com espírito calmo, pode trazer o bom senso e a conversa para um tom de ser apenas opiniões diferentes.

            Olha que coisa maravilhosa:

            “Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou...”

            Estimulado por ter lido tanta sabedoria, corri e fui procurar no mesmo site algo significativo, nem pensei, peguei uma frase de Millôr Fernandes e postei:

            “Ninguém sabe o que você ouve, mas todo mundo ouve muito bem o que você fala”. 

            Onde as duas se complementam?

            Foi isso que me levou algumas horas, o caso batendo cabeça nas minhas lembranças.

            Amigos ou ex-amigos que se prezavam. Bons de conversa, os vi conviver com papos alegres, encontros felizes.

          O que ou por que opiniões reiteradas e divergentes provocaram tal conflito?

         Sabe, a frase de Fernando Pessoa me levou a recordar de uma quase briga, física, aos murros, pois dois homens se irritaram a um ponto, que um, para não se esmurrar com o outro foi embora. Não houve nenhuma agressão, apenas divergência de opinião e "um deles queria ser o dono da razão", e o outro, "tinha certeza que estava com a razão".

        Muito tempo depois, eu ouvi essa frase, em resposta a uma grosseria dita: 

"Você diz o que quer e, ouve o que não quer!"

         Tal frase me acompanha desde então. Se expresso um ponto de vista, devo estar preparado para ter pessoas que vão dizer a sua opinião. Pode ser a favor, neutro ou contra o que se pensa naquele momento.

      Então, é assim. Os dois amigos têm razão em opinar, só falta o que saiu do grupo querer conversar.

      Não subestime uma amizade,  nem superestime uma divergência.  Em qualquer circunstância, se apoie na humildade.


Abraço, Marconi Urquiza


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Elixir do Longo Prazer

 





         Me tornei um fã tardio da escritora Clarice Lispector. Outro dia escrevi, que ao ler parte dos seus contos foi libertador. Ela escreveu sobre si mesma, sem transparecer qualquer dúvida e com uma beleza capaz de tornar aqueles minutos sublimes. À partir daí comecei a escrever sobre a minha história. 

        Nesta semana, nem pedi licença a ela, me socorri de uma de suas crônicas, onde falou de sua infância. Até recordei, que em algum momento da minha, chega aos vinte anos, era como uma eternidade, o que dirá aos 61 anos, saindo do dez, Quando corria descalço no calçamento da Rua João Alfredo. Lendo os gibis de Tio Patinhas, Mickey, Pateta ou admirando as fotografias lindas da Revista Manchete.

       Então Clarice disse: 

- Medo da eternidade -

       Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. (Fenomenal)
       Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
      Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:

      - Como não acaba? 
      - Parei um instante na rua, perplexa
      - Não acaba nunca, e pronto
      - Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas.               
      Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.

      - Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
      - E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.
      - Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
      - Perder a eternidade? Nunca.
     O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
     - Acabou-se o docinho. E agora?
     - Agora mastigue para sempre.
     Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
     Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
     Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
     - Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais!
     A bala acabou!
    - Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
      Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.

Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.


Abraço, Marconi Urquiza

sexta-feira, 30 de julho de 2021

No trabalho, de novo



            Saber o que vai fazer, preencher o tempo, fugir da depressão, ser e se sentir útil no pós-aposentadoria é um desafio diário. Isto é, quando possível.

            Sendo possível. O aposentado, como regra geral, vai tentar se ocupar de muitas maneiras. Por experiência pessoal, com pedaços de atividades, trabalhos entrecortados e quase sempre de curto prazo. Coisa de dias. É um picadinho medonho a cada dia. Diria, que este aspecto é o normal.

            Os laços corporativos ou profissionais, regras, rotinas, amigos, colegas se esgarçam, tanto que às vezes estranhamos, em muitos momentos, ao se ver um antigo colega. Parece que uma ponte se rompeu em um rio largo, onde só vozes lançadas pelo vento chegam e ainda assim, fracas. Esse também é um quadro geral.

            No meu caso, a aposentadoria foi um duplo choque. Primeiro, por ter projetado uma saída em certo período e as circunstâncias me empurraram para fora do trabalho, rompendo esse planejamento. Depois, porque o que desejava fazer foi interrompido ao concluir o mestrado, dois anos antes.

            Achei, após muitos meses de aposentado, uma salvaguarda na escrita e que me ajudou a ir atravessando os dias, me tornando, de certo modo, um pequeno especialista na escrita criativa. Esse negócio de criar histórias me enche de satisfação.

            Aí, neste último mês comecei a atender, no home office, os clientes da Safe Clean João Pessoa. Tendo o Whatsapp como a forma prioritária de comunicação. Raras são as ligações.

            Como tudo, é um aprendizado. Descobrir como “falar” no zap. Aos poucos vi que usar emoji não é comum. Retirei. A fala dos clientes é pura objetividade, nos cabe mudar o enfoque, tirando do preço e tentando levar para o valor (qualidade) do serviço. Ainda não sei como fazer, estou tentando.

            Certos aspectos da comunicação oral, valem, mas não excessivo. Pedir desculpa e agradecer é essencial. De certo modo, ser veloz na resposta é fundamental. Entender o momento do cliente, tem que ser coisa de um ou dois minutos. Também estou aprendendo. Tem muita gente boa nisso, por causa deles comecei a praticar o Follow Up. Em resumo, é não desistir. Se não der naquele momento, voltar a falar com o freguês. Aliás, veja a pessoa sempre como freguês.

            É uma venda de varejo e a atividade, serviço. O essencial e ter atendimento na ponta de excepcional qualidade. Serviço primoroso. A gestão das expectativas é mais que exigida. Muitos fregueses contratam o serviço porque querem tirar manchas, mais que a limpeza.  Tem mancha que não sai. Nem com o melhor produto, técnica, tecnologia e o melhor profissional. Este é um dos aspectos dos mais difíceis, comunicar o que o cliente deseja e o que o serviço pode oferecer.

            Não sei dizer se isso é vantagem ou não. Passei a vida inteira, desde a infância, trabalhando no varejo e vendas de baixo valor, considerando o segmentos nos quais atuei. Primeiro foi na farmácia de papai, depois nas agências de varejo do Banco do Brasil.

            Uma mentalidade eu levei para essa vida de bancário. Naquele tempo da farmácia, cachete era sinônimo de comprimido. Muitas vezes o freguês só queria um Sonrisal (antiácido). Só um. Era o varejinho diário. Na nova atividade, da pós-aposentadoria, eu ajo com a mesma mentalidade. Cada negócio, cada cliente, cada consulta, não tem rosto, condição social. A fala, raríssimo, apenas o digital. Atendo como se fosse único, como a maior venda do planeta, sempre pensando que as pessoas são diferentes. Esta é uma vivência antiga que aplico no novo, adaptando ao meio e à oportunidade. Independe de tecnologia. É experiência e feeling.

            O pior nessa atividade, é que não existe venda recorrente, repetida em curso prazo. Se ocorrer, é de no mínimo 12 meses. É pedindo ao cliente que nos indique, pedindo que nos avalie no Google e nos esmerando em ser o melhor a cada atendimento. Nos comunicando incessantemente nas redes sociais. 

            É preciso, em serviço, ser obsessivo com a qualidade. Para tudo que for relacionado.

            Só o bom nome faz esse negócio prosperar. 

            Pois bem,  estou me sentindo como o personagem de Robert De Niro, em ambiente que não é propriamente estranho, e é a mesmo tempo é tudo novo. 

           A linguagem digital,  as imagens que devem ser trocadas a cada postagem,  as avaliações renovadas como em um Uber, aí,  de vez em quando alguém liga e que ouvir a voz, nisso vem a velha tecnologia da conversa que inspira confiança. 

          Bem, eu sou o novo Senhor Estagiário e estou me descobrindo.

Abração, 

Marconi Urquiza 


sexta-feira, 23 de julho de 2021

É vida explodindo como por milagre

 


    Depois da primeira
    chuva
    Na terra dos Tabajaras
    Muda cor da
    vestimenta
    No sertão das
    espinharas
    Sai o cinza das 
    rolinhas
    Entra o verde das
    araras.
               Ademar Rafael Ferreira

     Kleber Mendonça Filho escreveu no Instagram: "Acordei de um sonho no sertão, a natureza explodindo fora de controle depois de chover. Acho que lembrança de filmar BACURAU. Achei bonito."

     Essa é a legenda de uma postagem de vídeo.

     Vivi no sertão de Pernambuco. A caatinga tem essa força. Parece tudo sem vida, ao receber a chuva tudo se transforma em pouco tempo. É vida explodindo como por milagre.

     Aí não me segurei, escrevi alguns comentários e deles está crônica.

     Olha essa imagem. 

     Saí de Recife para Bom Conselho e ao passar por São Caitano, olhei para o lado e a vista se perdeu na imensidão do cinza. (Tudo seco).

     Corria com o carro na direção de Cachoeirinha. O cinza se estendia em tudo. Aqueles açudes da beira da rodovia nem tinham mais lembrança de uma lama ressequida. Inerte. Apenas o vento, quando queria ser caridoso, soprava e dizia: Levanta; mas sem força a poeira saia cambaleando pelo solo seco.

     Três meses depois voltei para o mesmo destino. Ao longe a Pedra do Cachorro (em São Caitano) apontava o seu verdor. Subo o viaduto da BR 232 e entro na BR 423. O verde mostrava a sua força e os açudes agora eram espelhos onde as nuvens se penteavam, belas, prontas para animar a cantoria nas lagoas.

     Naquela viagem o tempo verde dura mais uma hora e meia e, vou encostando em Bom Conselho, olho para frente e vejo a natureza mais forte subindo as serras ao redor da cidade, que escurecia naquele final de tarde. 

     Entro por ruas calçadas com pedra, da praça Frei Caetano de Messina a imponente igreja matriz aponta a direção. Ali, no alto, deixo o carro escorregar lento pela ladeira do Colégio das Freiras, o vento suave cortando as folhas das árvores.

     Não precisava, nem sei explicar, mas abri a janela do carro e o friozinho da minha infância veio me abraçar.


Abração, 

Marconi Urquiza.

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...