sexta-feira, 20 de abril de 2018

Saudade dos meus fantasminhas

Só posso escrever o que sou. E se os personagens se comportam de modos diferentes, é porque não sou um só.... Frase de Graciliano Ramos.     
     Praticamente há três meses abandonei o meu povo, nem bom dia, nem boa tarde, imagine boa noite! Nada.

     Tresontonte me dei conta que senti saudade. Foram dois cursos, dezenas de plantões, uma enormidade de rascunhos de crônicas, revisões e mais revisões, muitas leituras de cronistas renomados, viagens, filmes e leituras diversas na internet e tudo foi ficando do jeito que a mente preguiçosa gosta, só receber e nada de criar.

       Pois bem, também tresontonte, cheio de tédio, nesse trabalho que me serve como uma terapia, eu abri um site de livros gratuitos e tentei ler algumas crônicas. Só que esse tédio matou a iniciativa junto com o mal que a internet provoca, a inconstância e a fragmentação de qualquer concentração mínima para a leitura de um texto, mesmo curto, como uma crônica. A maioria, nos dias de hoje, mal consegue ler e compreender os 280 toques de um Twitter. Não que falte cultura ou vocabulário, falta mesmo é paciência.

     
Na semana passada o colega Bráulio falou que ao ir a igreja fica imaginando  como foi a vida dos fiéis. Contou, que certa vez, se surpreendeu ao ir a uma missa na Igreja do Rosário dos Pretos. A missa foi em uma quarta-feira ao meio dia. Ele comentou abismado que a igreja estava cheia e nesse dia soltou a sua imaginação, que eu chamo de preencher lacunas  literatas. A imaginação flui e vamos criando amiguinhos que cabem na nossa mente e no "papel", se a gente despejar tudo que a cabeça imaginou. É um exercício fabuloso para se divertir. 

     Sabe, penso que todo mundo tem seus fantasminhas e que em algum momento da vida tentou preencher na mente as lacunas das informações de pessoas que viu uma vez na vida, imaginando como que poderia ter sido as vidas delas antes desse encontro.

      Mas amigo que é amigo reclama quando a gente não fala mais com ele, aí turma, meus fantasminhas começaram a reclamar.


   "Mas rapaz, você nos abandonou"; outro disse: "Sei que você não gosta de mim (Eu...), você sabe eu sou meio mala mesmo, compreendo o seu abandono" (Cá, comigo, eu disse: imagina ...). Teve uma, meio pedante, "Você tem me feito heroína, mas me deixou com aquela roupa cafona". Porém, sempre há na vida os nervosinhos. Este, todo abusado, me xingou e eu quase o peguei pela abertura da camisa, foi quando disse: "Que é isso camarada?" Ele respondeu: "Por que você me deixou levar uma surra daquela quenga?" Eu  nem quis dizer a ele: "Mas homem! É só uma história". Eu sei, ele não, mas bem que saiu da refrega todo machucado. Não esperava que a bonitona lutasse Krav Maga.

    Depois disso passei uma meia hora pensativo, até que saí do mutismo e disse a eles: "Me aguardem, na próxima semana nós vamos conversar muito. Tá bom assim amigos?" Alguns ficaram sério, outros sorriram, o único que falou foi o abusado: "Vê se não me faz levar outra surra daquela. Ainda me dói tudo". Eu sorri para ele e disse: "Foi só aquela vez, mas é bom para você não se achar macho demais." Foi a vez do escritor moralista e tomei o troco: "Você deveria só conta a história, sem juízo de valor." Sabe, pensei, é melhor não se meter com algum personagem, vai que arrumo uma briga feia e ele contamina os outros.


  Já que eu matei um pouco a saudade, vou me despedir. Até a semana que vem.


Abraço,






PS: Só lembrar de quais fantasminhas me refiro. Estão neste livro.

    Santinha ou Dora ou Tereza, é a bonitona; Marcos Vaqueiro,  foi o que levou a surra e Antonio Carlos, o mala, de marca.      

    
     
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário.

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...