quinta-feira, 7 de junho de 2018

A matemática do jogo

Resultado de imagem para em futebol, o pior cego     
     Com a Copa do Mundo da Rússia já perfumando meu cérebro, a vontade de escrever sobre futebol se intensificou, até me assanhei para voltar a comentar alguns jogos dessa copa, mas de concreto veio a saudade do tempo em que fui comentarista de futebol de carteirinha, cronista esportivo em 2006 oficializado pela Rádio Integração FM de Surubim.

     Quando em 2003 vim do Paraná para Pernambuco eu aportei naquela cidade. Naquele ano eu havia despertado o interesse em estudar cientificamente a liderança e achava que estuda-la a partir do trabalho dos treinadores de futebol era um bom começo, pois este ambiente altamente volátil no Brasil me daria uma percepção como desenvolver esta habilidade em ambientes menos voláteis, mas que estava rapidamente se transformando em alta volatilidade: meu trabalho como gerente do Banco do Brasil. 

     No entanto, pouco meses depois, estudar futebol deixou para trás estudar sobre liderança e saí montando uma pequena biblioteca sobre futebol, como: Universo tático do futebol e Futebol total. Em tempo: este livro não trata do futebol aplicado pela seleção da Holanda em 1974, mas de todas as disciplinas de preparação física e fisiológica de um atleta de futebol.

     Voltando para a história daqueles momentos, alguns meses depois da minha chegada, já frequentando a AABB Surubim, em um desses sábados que eu ia lá tomar umas cervejas eu encontrei Neto Surubim, ex-jogador profissional. Conversa vai, conversa vem, demonstro para ele o meu gosto pelo futebol e ele, quase de bate-pronto, me convida para comentar a rodada de futebol na segunda-feira seguinte no seu programa na Rádio Tambor. Empolgado aceitei. Era para eu ligar para o telefone fixo da rádio a cinco minutos para oito horas da manhã.

     Ansioso, suando as mãos eu liguei. Sem nunca ter comentado nada em uma rádio, nem gravado, nem ao vivo, então eu entrei no ar depois de breve orientação de  Neto Surubim. Ele logo me fez uma pergunta sobre o Palmeiras, então líder da Série B, nem respondi direito e ele me socorreu, depois fez uma sobre o jogo do Flamengo, igualmente fui socorrido e dei graças a Deus.  Senti que precisava me preparar mais, anotar algumas coisas para comentar e por causa desse novo prazer me enfurnei no futebol, via, estudava, anotava, respirava futebol depois do trabalho no Banco do Brasil.

      Em 2004, acho que foi neste ano, o Surubim Futebol Clube entrou para disputar a série A2 do Campeonato Pernambucano e Neto Surubim foi contratado pela Rádio Integração FM para ser o comentarista principal da rádio e eu fui de quebra.  Nas primeiras rodadas nós dois comentávamos em conjunto, mas já no primeiro jogo eu vi que Neto estava mil anos na minha frente. Ele enxergava um mosquito no escanteio do outro lado e eu não via um boi na lateral do campo perto de mim. Não demorou muito eu deixei de lado esse comentário específico de campo e comecei anotar algumas coisas que não apareciam, os passes errados, roubadas de bola, chutes a gol, etc. O famoso escalte (scout) que a gente vê nos intervalos e finais de cada jogo.

      Fui observando que nos jogos mais truncados a incidência das roubadas de bola são mais intensas, também notei que se há muitos passes errados eles podem ser causados por uma intensa marcação, pela má qualidade do campo, pela falta de espaço de um campo pequeno e/ou tudo isso mais a baixa qualidade técnica dos jogadores. Demorei, mais notei que a falta de ensaio, poucos treinos, treinos ruins provoca a falta de desenvolvimento da inteligência do jogador para o jogo e tudo isso vem junto, a pelada, vira ainda mais pelada e ainda mais, sem gás, pouco se aplica a qualidade técnica durante um partida de futebol. 

     Vamos voltar para os comentários ao vivo. Acostumado a ser sucinto, eu fui ainda mais sucinto por uma tremenda insegurança no primeiro jogo do Surubim Futebol Clube realizado no estádio do Coqueiro. Logo nesse jogo eu ouvi  Neto Surubim comentando, pensei: "E agora?". Fluente em falar ao vivo, radialista profissional e ex-jogador do Náutico ele via a movimentação facilmente, a mesma que levei anos para ver com muito esforço. Diante disso eu me encolhi, quando chegou o intervalo o locutor passou o microfone para mim. Larguei de mão as questões táticas e comecei a dizer: roubada de bola, tantas, escanteio, tantos, chutes, tantos, etc. Para cada estatística eu fazia um pequeno comentário e aí comecei a enxergar coisas em um jogo de futebol que nunca havia me ligado.

     Não é que me empolguei, conheci um programador que estava na incubadora da associação comercial de lá e encomendei um aplicativo para utilizar no notebook durante as partidas, mas usei-o pouco, terminou não sendo prático. Ainda hoje guardo comigo o CD de instalação.

     No final daquele jogo, no comentário final repeti a estratégia, não deu outra, o narrador esperto e acostumado a jargões já criou  um, me transformei rapidamente no comentarista da matemática do jogo. 

     A história seguiu e eu, prazerosamente, comentei futebol para a Rádio Integração FM de Surubim mais um ano e meio.
    
     Sem um padrão pessoal eu começava cada comentário diário imitando Galvão Bueno, "amigos da Rádio Integração, bom dia!

     
Amigos da Crônica da Sexta, um abração!
    


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