sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Era hora de me despedir ... de Afogados da Ingazeira


Havia chegado a hora de despedir dos colegas da agência do Banco do Brasil de Afogados da Ingazeira  e ganhar a estrada.  Dias depois teria que pegar um avião para Tabatinga,  AM.

Voaria pela primeira vez e acharia, lá do alto, que o barrento rio Solimões era um pouco mais largo que o rio Papacacinha em cheia, até vê-lo bem de perto, quando o Boeing 727 da Varig fez um sobrevoou pelo rio para aterrissar no aeroporto de Tabatinga.  Nessa hora ainda balbuciei, se cair vou morrer afogado. Não sabia e nem sei nadar até hoje. Mas me tranquilizei quando o piloto aterrissou como se estivesse passando a mão em um tecido de seda. Assim começava o segundo capítulo dessa aventura chamada de "vida de bancário."

Meses antes, a vontade manifesta e algum destaque no meu desempenho profissional me rendeu um convite de Inejaim para ser supervisor em Carnaíba.  Não seu certo.  Mas a gana e a ambição me movia. Após a frustração de não ter ido para Carnaíba, PE, eu fiquei naquela agonia, farnizim para os do agreste. Queria e não sabia como me encaminhar na carreira.  Aí, em uma das edições do BIP do DESED. BIP, Boletim Interno ao Pessoal, foi divulgada três vagas para supervisor em agências de difícil provimento.  Em resumo,  que ninguém queria ir.

Buriti, no Maranhão,  tinha outra Buriti em Minas e Tabatinga no Amazonas.

Dentro do que era disponível de informações eu me decidi por Tabatinga.  Ter exército na cidade era garantia que haveria alguma estrutura na cidade. 

Quando eu me decidi fui conversar com Dionísio.  O pedido tinha os seguintes campos: FUNCI/ASSUNTO/RAZÕES. Quando cheguei até ele, que era Gerente Adjunto, falei do que desejava, em poucos segundos começou a escrever seu parecer e sua indicação.  Me surpreendi pelas palavras elogiosas e pelo tamanho do texto. Bem maior que o meu. Fax pronto, transmissão feita, ansiedade agoniada por uns dois meses.

Creio que em abril de 1987 saiu a nomeação para Tabatinga. Começamos a nos preparar, aí a chegou a informação de que eu precisava fazer o curso de grafoscopia. Quando o material chegou eu estava de férias, uma semana de curso.  Victor,  bebê, já estava em Bom Conselho na casa dos avós.  

Então todo dia eu ia para agência fazer 5 horas de estudo.  Chegava por volta da 10 horas da manhã e sai, três,  três e meia. Na medida que aquela semana foi passando, meu coração cada vez mais ficava apertado.  Eu fazia uma força imensa para não me emocionar e ainda maior para não chorar.  Mas as lágrimas ficaram uma semana boiando nos meus olhos.

     Chegou o dia de fazer a prova.  Acho foi Daniel Evangelista que me entregou os envelopes com as provas teórica e prática e saiu. Foi cuidar dos seus afazeres.

Hoje,  a sensação é de que naquelas poucas horas eu me tornei invisível.  Eu já me encaminhava para concluir as provas. A pequena mudança residencial já tinha ganhado a estrada.  Eu havia combinado com Cida que ela viesse me pegar perto das três da tarde na frente da agência. 

Peguei as provas respondidas, a emoção fez meus gestos lentos, as coloquei dentro dos envelopes. Olhei ao redor.  Todo mundo estava concentrado.  Me levantei e fui saindo, desci a escada do primeiro andar e olhei para saguão do térreo,  me deu vontade de ir onde estavam os colegas para me despedir, mas senti que me derreteria em lágrimas. De fininho saí,  cheguei na frente da agência do Banco do Brasil e vi nosso carro, ao entrar não tive forças, o choro desceu com força.  Encerrava naquele instante cinco anos e quatro meses de um sentimento de que  vivíamos no meio de uma amorosa família. 

Abraço, 
Marconi Urquiza 

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