sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Dona Neia

     
Foto extraída do perfil do Facebook: Neia Leduc

Quantas vezes a gente se encantou com alguns exemplos de vida? Muitas, poucas,  algumas?
     O assunto poderia ser o voluntariado,  mas o que li vai além deste termo e não representa toda a essência da história de Dona Alcidineia. 
     Sou voluntário para revisão das entrevistas realizados para vários projetos do Instituto Museu da Pessoa (https://museudapessoa.org/). Li e revisei 16 entrevistas.  Algumas longas, entre 20 a 30 páginas de A4, chegando algumas delas a 10.000 palavras. Outras bem reduzidas,  mal dava 5 páginas do mesmo tamanho. Na maioria havia pretensão de que pessoas trouxessem fatos significativos: para elas, para as empresas,  para os leitores. 
    Li várias do projeto Memória da Petrobras.  A maioria delas, as pessoas estavam tão amarrados ao dia a dia da empresa,  temerosos como poderiam ser interpretadas na sua fala que, se não fosse o contrato com as empresas,  o Museu da Pessoa poderia dispensá-las. Nada ou pouco acrescentam.  Em tempo: As que revisei.
   Um outro grupo foi do Laboratório Aché. Nestas ficou claro a extrema preocupação em falar bem e pouco. São as mais reduzidas. Na minha opinião, vazias de significados. Para mim se tornou evidente que os entrevistados estavam, para lá de vigilantes. Como se os entrevistadores fossem o braço mais severo do lado punitivo da empresa.  Sou eu interpretando. 
    Teve uma entrevista realizada com a gestora da Associação do Edf. Conic, de Brasília. Foi a primeira de uma gestora social em que um braço empresarial não estava por trás e o que percebi: respostas soltas,  pensadas pela mulher sem outras preocupações. Também senti que o trabalho que ela faz tem profundo significado para a sua vida. Interno. Do seu âmago.  "Conic, a praia de Flávia." Dei este título à entrevista. 
   Nesta semana recebi a entrevista de Dona Alcidineia dos Santos Leduc. É preciso que a leia quando estiver disponível.  Não dá para resumir. É o voluntariado e liderança social no sentido mais puro. Da entrevista sai um sentimento profundo de uma atuação alegre, de onde se sente que a sua energia busca o engrandecimento de outros semelhantes, na recuperação de pessoas tragadas pelas drogas, capaz de criar uma escola de samba onde a música não é acompanhada pela bebida. Carnaval sem bebida alcoólica. Já viu um negócio desses?
     Na entrevista precisamos levantar palavras-chave e marcarmos passagens que nos chama atenção. Uma das frases me fez lembrar de um poema que inicia assim: "Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade". Aí, quando encerrei a revisão eu fiquei pensando e disse para mim, esta frase tem um sentindo mais profundo que apenas a interpretando pelo lado físico.
      Veja:
      - "Carregar mudança é carregar entulho (isto no sentido físico)" 
    Você já pensou, no sentido metafórico, que levar mudança é levar entulho? Já imaginou,  já? 
      Já no final da entrevista há uma pergunta padrão, o que a pessoa entende de mais especial na sua vida, no seu local, no que faz. É uma pergunta aberta e ampla. 
     Dona Neia foi na lata ao responder:
   - Aqui em Sete Barras (SP) o que tem especial é o "bom dia" e o "boa tarde". Fora daqui não tem isso. Falamos de 2011.
   Quase de imediato lembrei de um sinhozinho, caminhante do Parque Jaqueira, caminhando ao contrário do fluxo e a cada pessoa ele dizia: "Bom dia ainda existe". Uns minutos depois veio como um filme os gestos e voz de Padre Arlindo, de Tamandaré,  aqui em Pernambuco:
    - Bom dia! Boa tarde! Boa noite! - Assim mesmo, vibrando.
    Não sei se já pensaram nesta indagação.  Qual o impacto positivo de um "bom dia" dito com vibração no humor de uma pessoa? Você mesmo.
   Quem sabe eu não tenha um tesouro, outra entrevista para revisar, como essa de Dona Neia , repleta de significado, na próxima semana!

Semana Iluminada, abração!!
Marconi Urquiza 

LINKS DAS CITAÇÕES
A entrevista de Flávia:
Link do Museu
Poema de Edson Marques
Neia Leduc
Vídeos do Padre Arlindo

3 comentários:

  1. Bom dia! "mude, mas comece devagar". Filosofia profunda, que prevê não desistir dos nossos sonhos. Parabéns Marconi

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  2. Neste caso sempre defendo que a forma está muito acima do conteúdo. O bom dia automático como do "motorista" de elevador e das vozes da IA (Inteligência artificial) perdem para um aceno mudo, que seja humanizado.

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