sexta-feira, 11 de junho de 2021

O CONCLAVE

 



            A primeira coisa que chamou a atenção foi o tamanho descomunal, melhor, a largura descomunal.

            Seis da manhã, casa de praia e aquele equipamento estava inoperante. As vinte pessoas hospedadas começavam a despertar.

            O primeiro a tentar uma solução desceu o primeiro andar e disse ao dono da casa:

            — O banheiro está entupido.

            — A descarga é fraca. Tenta várias vezes

            — Já tentei.

            — Vamos lá.

            O anfitrião subiu na frente e o hóspede em seguida. E tome descargas, quando chegou na sexta, a desistência. Se correu para o balde. O choque de força não funcionou.

            Nessa altura o caso tinha virado uma celeuma, um conclave se formou, pelos menos quatro, cinco pessoas vieram olhar o que estava gerando tanta preocupação.

            Em certo instante o anfitrião disse:

            — Já sei.

            Foi no quintal, por lá procurou uma ferramenta, subiu e começou a cutucar. Mas o negócio resistia, até que um disse para o conclave:

            — Quem terá sido?

          Aí um observador, que havia chegado para saber que reunião era aquela, respondeu:

            — Tem cara de painho, ele faz uns negócios desse tamanho.

            Por trás, pisando de fininho, chegou o pai, fazendo caras e bocas, mão aberta sobre o peito, olhos esbugalhados e balançando o dedo ao dizer:

            — Eu, eu não! Vou torando devagarinho.

            Nessa altura o caminho já estava livre e perfumado e as pessoas rindo.

*

            Essa é uma história que prometia narrar há muito tempo e não é nova. O tempo corre com ela há 21 anos. Ela veio do lado alegre de uma família onde o bom humor é a ordem das coisas, uma família que se despediu de um dos entes mais amados nesta semana. Até fiquei imaginando D. Edite, serena como sempre, alertando o esposo, se tivesse visto aquela cena: Sissi! 


4 comentários:

  1. Essa é como a propaganda de seguros: "Os possíveis acontecem." Cada vaso seu caso."

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  2. São em textos assim, carregados de simplicidade mas com imaginação e força na emoção do diálogo, que nossa cultura sobrevive. Parabéns!

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