OUVI UM TOQUE DA SANFONA
Antes desta
Quarentena
Junho era maratona
Mas como não tem
Forró
Por causa desse
Corona
Durante essa
Pandemia
Ouço em sonho todo
UM TOQUE D’UMA
SANFONA.
Poeta Ademar Rafael Ferreira
Cronista: Djalma Xavier
Fazia tanto tempo que não se via uma coisa assim. Os assuntos são pandemia, falta de vacinas, falta de muita coisa... Só tristeza, só dor, mas ocorreu algo muito alegre, muito bom. Bom demais!
Véspera da festa de Santo Antônio. Acordei cedo e fui tomar meu café pra espantar o sono e esquentar o friozinho gostoso que raras vezes aparece em Recife. Pela janela da cozinha ouvi um som que fazia tempo que não escutava. Olhei pra rua e, daqui do 12º andar, vi o pátio de uma escolinha infantil, todo embandeirado e enfeitado com balões de papel. É de lá que vinha o som da sanfona, acompanhada pelo triângulo e a zabumba.
O sanfoneiro e cantor entoava a todos pulmões: “Olha pro céu, meu amor...” Vixe Maria! Isso arrepia o coração de quem tem alma nordestina! Começaram a chegar lindas menininhas de trancinhas e vestidos de chita e matutinhos com bigode pintado de lápis, camisa xadrez e chapéu de palha na cabeça.
Os pais pareciam orgulhosos e felizes por suas crianças estarem no clima junino e com esperanças renovadas de que as coisas voltem ao normal.
Enquanto isso, o sanfoneiro continuava a tocar e cantar, animando a escolinha e as proximidades. O som era alto, de boa qualidade, e chegava a mais de um quarteirão de distância. Ao longe, vi uma senhora que limpava sua calçada e, ao escutar uma música de Gonzagão, perdeu a vergonha e começou a dançar forró com a vassoura. Em frente à escola, na varanda de um edifício alto, um casal se animou e começou a dançar o xote “Ana Maria”, gravado pelo forrozeiro e cantador Santana.
A emoção veio à flor da pele quando o sanfoneiro executou com maestria, do mestre Luiz Gonzaga, arrepiando-me ao ouvir “Quando o verde de teus olhos, se espalhar na plantação...”, emoção que se completou quando o cantor entoou “...mas felizmente Deus agora se alembrou// de mandar chuva pr’esse sertão sofredor//... Terra molhada, mato verde, que riqueza... Ai, ai, o povo alegre, mais alegre a natureza.” Frases de duas das mais belas canções até hoje gravadas no nosso cancioneiro: Asa Branca e A Volta da Asa Branca. Impossível não se emocionar com esses versos, com sua beleza poética.
E as crianças continuaram a chegar. Os pais com celulares registrando tudo, deu pra sentir que há uma esperança no ar.
Nós, nordestinos em geral e sertanejos em particular, aprendemos a conjugar o verbo esperançar desde pequeninos! Ouvimos de nossos pais que a seca não é pra sempre, que a chuva vem, que o verde recobrirá a caatinga árida e que haverá fartura à mesa. Esse sanfoneiro anônimo, com sua arte e sua emoção, fez-me um bem enorme e deu-me a certeza que isso tudo vai passar!

Após essa tempestade/Nós cruzaremos a ponte/Ganharemos liberdade/Junto com novo horizonte.
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
Obrigado. Abração
ExcluirSua bela poesia emoldurou e abrilhantou a crônica, Ademar. Valeu.
ExcluirQue texto gostoso e leve de ler! Precisamos mais disso hoje em dia. Fiquei arrepiada só de imaginar a cena... Muito orgulho do meu pai cronista!
ResponderExcluirCom fé e o choro de uma sanfona, temos a certeza de que tudo isso vai passar!
Obrigado, Laisinha! Você é seus irmãos foram fonte de inspiração para a crônica. Bjs
ExcluirUma das melhores coisas do mundo são as descobertas. E a maior que tive hoje foi meu tio cronista. Parabéns meu querido Tio, belo texto, leve como sua alma e profundo como seu caráter
ResponderExcluirObrigado, meu sobrinho Claudio! Eu também estou me descobrindo, me reinventando o tempo todo. Abc.
ExcluirQue texto lindo meu irmão não sabia que tinha um mano cronista estou orgulhosa de você, prepare-se para fazer uma crônica do nosso reencontro e o fim da pandemia,vai ser muitos beijos e abraços do reencontro da família 😘❤️👏👏👏
ResponderExcluirObrigado, Fátima! Faremos festas, crônicas e muitos reencontros, com fé em Deus.
ExcluirValeu amigo Djalma, nunca é tarde para deixar florar esse espírito de escritor, nativo dos sertanejos nascidos nas beiradas do velho Pajeú, berço da poesia pernambucana. Parabéns pelo belo texto para momento que vivemos!!! Abração!!
ResponderExcluirObrigado, amigo Morato
ExcluirLinda crônica, foi de arrepiar, parabéns e um bom dia.
ResponderExcluirEsqueci de colocar meu nome no agradecimento, Lucineide Vieira Barros.
ResponderExcluirObrigado, Lucineide
ExcluirNossos parabéns Djalma. Que grande alegria vê-lo escrevendo com tanto sentimento. Abraços e grato pela generosidade do Marconi em compartilhar o espaço.
ResponderExcluirObrigado, amigo Walmir
Excluir