sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Empilhando livros

                         

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            Ano retrasado, eu empilhei páginas, li quase nada. Em 2023 andei empilhando livros. 

        Li muitos, vou comentar quatro. A cabeça do santo, Vista Chinesa e A palavra que resta.

        Os três são de autores brasileiros contemporâneos. Nunca li tanto escritores nacionais como em 2023. 

        Terminei o ano com Machado de Assis, Casa Velha. Um romance só descoberto em 1944. Não um dos clássicos dele, mas um romance em que o amor se torna impossível. A paixão é primeiro negada, depois acaba por um detalhe letal.

        Vamos ao romance de Socorro AcioliA cabeça do santo é história que tem início com uma quase loucura, uma raiva que tirou um homem do prumo e perpassa a crendice popular, os homens e mulheres que fazem dessa fé um enorme veio de grana, de políticos que veem aquele movimento como ameaçador e escolhem fazer o município encolher até desaparecer. O livro vai correndo por uma voz só escutada na cabeça do santo e uma espécie de paixão vai se formando em que ouve o cantar continuadamente. É uma história que tem tanto de surreal quanto de real, quanto tem de egoísmo quanto de abnegação. Tudo isto em poucas páginas. 

        Do romance Vista Chinesa (Tatiana Salem Levy) li várias resenhas e comentários e passei batido por ele. Até que li um artigo de uma jornalista do UOL. Comprei ali mesmo, no sofá. 
        Dias depois ele chegou, demorei a abrir a embalagem, que  ficou vários semanas esquecida. Quase iria para a pilha dos livros não lidos. Uma manhã de um sábado lembrei dele, o peguei e fui na velha pressa, na costumeira velocidade de quem tem o hábito de ler. Algumas páginas depois já lia de devagar, poucas páginas por vez, a história foi ficando toneladas tensa, com peso psicológico do tamanho da maior dor que uma mulher poder ter. 
        Não imagine que seja a do parto. Continuei lendo poucas páginas por dia, na medida que podia absorver. O fluxo de pensamento da personagem principal vai buscando achar na dor a sua força e a sua sanidade. Tem mais, mas só lendo para compreender toda aquela situação extrema.

        Aí e veio o romance A palavra que resta (Stênio Gardel), soube dele bem antes de o ler, soube através de elogios, mas não li, o gatilho para iniciar a leitura foi o prêmio que o livro obteve ao ser traduzido para o inglês em 2023. Comprei-o. Nesta altura o interesse na leitura era vívido, quase ansioso. 
        Tal como A cabeça do santo, também é um livro pequeno nas quantidade de páginas, com frases que atropelam o leitor apressado, o obrigando a desacelar, ao mesmo tempo em que provoca a vontade de avançar rápido, naquele misto de querer saber o quanto antes o final e do que há na estrada esburacada da vida de muitos homens e daquele personagem que quer, ele mesmo, descobrir o que tem escrito em carta guardada por 50 anos. Já que, até então, é analfabeto. É um livro duro,  é preciso desarmar o espírito para ir além da externalidade e ver a essência. 

        Por fim, comecei 2024 lendo Neupropaganda na tentativa de tirar meus romances da pilha dos livros nunca lidos.

        Por hora é só, ótima leitura de qualquer dos milhões de livros que você tem para escolher.

        Abraço, Marconi Urquiza

6 comentários:

  1. Parabéns amigo, Comentar nossa visão sobre os livros recém lidos é um gesto de nobreza, incentiva a leitura aos pares. Se "rir é o melhor remédio ", ler é o segundo na lista.

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  2. "Empilhando livros" - Gostei da cronica, desde o título. Ando empilhando coisas pra fazer também... Há uma serie de livros correlacionados ao tema: "1000 filmes pra ver antes de morrer", 1000 cidades pra visitar..., 1000 livros pra ler, etc... Então, dona morte, por favor nao me incomode tão cedo, tenho muita coisa empilhada pra fazer! E, mesmo depois de velhinho, ainda terei a famosa resposta pra pergunta: O que você vai dizer a morte quando ela vier te buscar? - Respondo firme e forte, com vontade de viver mais: "Hoje, não!!

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  3. Meu caro, e eu como tenho empinhado livros, páginas nem tanto...leio muitos recortes. A Cabeça da Socorro já lido. A Palavra do Gardel na estante aguardando a vez, e do Arado "torto" do Itamar, não o Rafael, o Vieira.. Leio todos os comentários que encontro, o livro um palmo da mão, mas estou deixando arrefecer para ver se se sustenta.

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  4. Ando empilhando livros também. Mas sua crônica acendeu o desejo de voltar a ler.

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  5. Valeu Marconi, preciso criar o hábito e buscar ânimo para leitura completa dos livros. Tenho ficado com textos, resenhas e jornais. Preciso viciar na leitura de livros, intercalando com caminhada, academia e alguns vinhos. A academia dos livros faz bem.
    René Descartes, dizia:

    "A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados."

    Abração e ótimo final de semana.

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  6. Eita, Marconi, tenho muitos livros empilhados, mas quando vejo dicas de quem gosta de ler, fico tentada a aumentar a pilha. Não conheço nenhum desses.
    Vou lhe fazer cair na mesma situação. Em 2023, entre outros, li: A Filha Perdida - Elena Ferrante; O Avesso da Pele- Jeferson Tenório; Um Nome Para Alice - Marconi Urquiza; Tudo é Rio - Carla Madeira; O Som do Rugido da Onça - Micheliny Verunschk; Lolita - Vladimir Nabokov; Com os Sapatos Aniquilados, Helena Avança na Neve - Marcia Tiburi. (Lúcia Ribeiro)

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