sexta-feira, 29 de março de 2024

"Homens em tempos sombrios" - Hannah Arendt

Ilustração criado pela IA do Bing - Microsoft

        "Homens tempos sombrios" é um livro de Hannah Arendt, filósofa, que nele traça perfis biográficos de pessoas que a fascinaram e resistiram, com capacidade crítica, aos "tempos sombrios" do século XX.

        Lembrei-me dele e principalmente de Hannah Arendt, porque li livros que escreveu onde eu buscava uma explicação "lógica" para as ações dos nazistas. Nessa busca, quase agoniada, esbarrei com dois livros que deram a percepção da maldade, de se ter poder para o bem e se fez o mal, da insensibilidade para atos ruins como se caracterizou o Imperialismo. 

        Um desses livros lidos foi Origens do Totalitarismo - Antissemitismo, Imperialismo, Totalitarismo. Para quem se interesse pelo tema, a análise histórica traz muito mais que uma narrativa.

        Outro livro lido explicou um termo que durante muito tempo foi mencionado por figuras públicas, jornalistas o citaram em artigos fora do contexto original, mas que chamavam a atenção para como situações graves foram transformadas em uma "normalidade banal".  O relato da banalidade do mal virou apenas o termo Banalidade do Mal, que é o que parece estar ocorrendo no Brasil já há uns bons 10 anos.

        Este livro, como o outro que aqui é citado tem uma profundidade que no correr da leitura impõe reflexões, que se aprofundou ainda mais quando virei a página final, pois fiquei muito tempo pensando na sua mensagem, não só as implicações históricas que o nazismo provocou naquela janela do tempo, como do modelo criado por esses seres maus, que tem inspirados muitos poderosos para dominar as massas. Vale a leitura para conhecer o que Hannah Arendt concluiu como Banalidade do Mal, também vale muito pela compreensão que podemos ter para os atos políticos ou das omissões que da política emanam. Da leitura de Eichamnn em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal, uma obra primorosa, pode se espraiar para outras reflexões, como o que ocorre nas perseguições que ocorrem na internet.

        Ainda deixando a minha mente correr sobre este nosso tempo, fez meses, mais de três anos, desde que pensei um romance que terá por base a internet, os haters, as fakes news, as "verdades inventadas", a maldade programada e disseminada sem nenhuma preocupação quem vai ser a vítima. 

       Passei semanas imaginando que escrever um texto curto sobre tal tema seria arriscado para minha tranquilidade, por isso relutava, pois não queria abrir o falso debate que caracteriza nossos tempos sombrios.

        Hoje parece que a realidade, que escrever o que pode estimular a uma reflexão é uma quimera, pois intuo que muitos dos que têm o prazer de criar e de  fazer a maledicência rodar a internet para atingir pessoas, não estão nem aí. São tantas, que se um for atingindo por um processo judicial não faz efeito, como se diz, pedagógico, educativo. É que o conceito de sociedade para tantos, é o conceito de conflito, de confronto, de briga. É na briga que se energizam, não na paz.

        Por causa desse tipo de Banalidade do Mal que muitas pessoas, muitas, muitas, muitas que sequer conheceremos, que sequer nos darão bom dia ou serão indeferentes a nosso boa noite, por estarem voltadas para o celular, serão atingidas pela maldade que corre sem freio pelas redes sociais. 

       Nestes tempos sombrios, em que os algoritmos das redes sociais amplificam e dão uma velocidade absurda à maledicência, que logo se transforma em um destilado de maldade. Como se tivesse sido armazenada por 80 anos, para ser desgustado pelos apreciadores de bebidas deste tipo. Só que não há tal maturação, a malediência gera maldades uma atrás da outra, sequer dá tempo para o defunto esfriar.

        Para milhares de pessoas, ser maledicente já basta. "Ser maledicente já basta em si mesmo."

        Não se importar com o mal que possa fazer a outras pessoas é regra nos dias de hoje. Isto é banal, né?" Para elas e são muitas, isto já preenche a sua "gana de ser gente", de ser parte de "algo maior".  É hoje, foi ontem. 

        Na infância algumas pessoas vizinhas chegavam para conversar com meus pais e eu ficava ouvindo parte daquela conversa, várias vezes papai ordenava que me afastasse. Mas uma das vezes tive a oportunidade de ouvir a conversa inteira, não entendia, mas muitas pessoas tinham em si uma expressão de prazer, quase de gozo ao fazer certos comentários e os levar a maior quantidade possível de pessoas. Era o tempo da pré-história da internet, coisa de 50 anos atrás.

        Livros, pesquisas acadêmicas, artigos jornalísticos, pesquisas qualitativas, percepções dos mais observadores, comuns, como nós, nos dão conta que tal velocidade ocorre por causa da forma de condução das Bigs Techs ao buscar audiência das redes sociais,  onde estimulam o ódio, a discordância, o conflito, o caos* como ferramentas para sequestrar a atenção, transformando a realidade em que vivemos para pior desde que elas ganharam o mundo.

        Como se dizia há muito tempo: Notícia boa não vende. 

        Então? 

        O que fazer?

        Quem pode fazer?

         O que você pode melhorar?


        Por hoje é só, Abraço. 

        Marconi Urquiza

               

                "Sugestão de leitura: A MÁQUINA DO CAOS - Max Fischer".

                 A máquina do caos derruba a cortina dos likes e comportilhamentos e mostra uma sociedade  perigosamente à mercê de forças contrárias a seus interesses (Trecho da quarta capa do livro).

        

6 comentários:

  1. Tema pesado, em dia de paixao de Cristo, em tempo de sofrimento. A maldade e a manipulação parecem permear a história da humanidade, desde o tempo de Jesus, quando a turba foi inflamada a condenar o Cristo e soltar Barrabas.

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  2. Brilhante crônica Marconi. O mundo vivência tempos sombrios há milhares de anos. Guerras, perseguições, busca do poder pelo poder, briga por domínios territoriais, as verdades inventadas, as mentiras arquitetadas a partir de meias verdades, ... Enfim, são tantas emoções que chegam a desnortear o indivíduo que absorve tudo, convicto de que são "verdades", e que tudo isto passa a ser normal, infelizmente.

    Leonardo da Vinci, dizia:
    "Surgem alguns tiranos, principalmente afetados pelo orgulho e a ganância, mas há homens que nasceram para se tornar tiranos."

    Simbora, vivendo e refletindo sobre alguns ensinamentos deixados por Cristo e assim buscando viver em harmonia.

    Abraço fraterno

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  3. Tema contundente em várias rodas de discussões mundo afora. Parabéns pela abordagem e pelas dicas de leitura. Abraços

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  4. Infelizmente, a História da Humanidade mostra que o egoismo, a maldade, as maledicências, a sede pelo poder não respeitam limites. O que importa para muitos é a satisfação pessoal; "os outros que se danem". É claro que existem exceções. Existem pessoas que se regem por valores que não se compram. Elas jamais serão maioria, mas ainda assim fazem com que ainda haja esperança. Que ela não seja totalmente perdida!

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  5. Excelente enfoque, meu Caro Marconi.
    A intrínseca maldade humana, encontra na compulsividade das pessoas em consumir conteúdos que detrate os seus semelhantes, as redes sociais só exponicializam o que já se praticava desde sempre.

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  6. A sociedade humana atual continua organizada tal como descreve Platão em "O Mito da Caverna". Incrível que, com tantas tecnologias disseminadas, acessível a todos, há os que vivem acreditando nas sombras, presas a elas. (Lúcia Ribeiro)

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