Na última quarta-feira estava ouvindo o programa com Geraldo Freire na rádio CBN Recife. Geraldo Freire com Wagner Gomes no quadro Acerto de Contas a partir das 9.00h. É um ótimo programa, diversificado, há momento que é divertido. Muito informativo. São mais 4 debatores, todos eles advogados atuantes.
Logo no início, se a memória não falha, Geraldo Freire colocou para discursão o caso da denúncia da Procurador Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e mais 33 pessoas.
O debate parecia que se encaminharia forte, mas tranquilo, com bons argumentos, tanto a favor quanto contra ao que se colocou o PGR. Maurício Rands abriu o debate, informou aos ouvintes que leu a denúncia até 2 horas da madrugada e que ela contém fundamentos probatórios que justificam a denúncia.
A primeira contrariedade de um dos debatores, a favor de Bolsonaro, foi ao comentar o que o comentárista da CBN Wálter Fanganiello Maierovitch, no seu comentário do dia anterior, já definia Bolsonaro, antes mesmo do julgamento, como culpado. Da denúncia em si nada falou. Achei, enquanto ouvia o rádio, que esse debatador não lera o documento. Nesta hora, apesar da serenidade aparente havia contrariedade na voz desse debatedor.
Logo depois surgiu o primeiro sinal da paixão. Começou a haver interrupções na fala uns dos outros. São dois de direita e dois de esquerda. Não gosto dessa nomenclatura, mas ela é facilita a comunicação.
O programa prosseguiu e nessa altura estava passando pela fábrica da Jeep em Goiânia (PE). O sinal da rádio flutuava de ótimo a mediano, mas ainda era audível e principalmente compreensível.
Então Geraldo Freire lançou outro ponto para as reflexões e análise dos debatores. Vou frisar: homens, creio que passado dos 50 anos, advogados. Estou excluindo Geraldo Freire e Wagner Gomes.
O ponto agora foi uma análise e opinião sobre uma pesquisa recente sobre as instituições brasileiras. Geraldo Freire informou que entre dez brasileiros, sete desaprovam o Exército.
Nisso indagou se isto deveu-se ao 8 de janeiro e aos acampamentos na frente dos quartéis.
Um dos debatedores se posicionou que aqueles acampamentos só existiram porque os comandantes das guarnições militares permitiram, ao ouvi-lo me pareceu ponderado, mas senti uma ponta de ironia, como se sutilmente provocasse um dos debatedores. Nem teve tempo de concluir, foi interrompido com argumentos bem distantes do assunto colocado por Geraldo Freire. Esse debatedor trouxe, nessa altura, cheio de raiva, uma "invasão do MST" ocorrida durante o governo de Temer. Naquele momento pensei: mas o MST não foi pesquisado e não era o foco da pergunta, era o Exército.
A coisa começou a desgringolar no ar e a transmissão saiu do ar para mim, segundos depois voltou e já se ouvia os comerciais. Fiquei com a impressão que Geraldo Freire deu um jeito de encerrar aquela virulenta manifestação no ar.
De certo modo aquela explosão me assustou, acho que ainda mais por se tratar de profissionais que tem em suas vidas o debate e o contraditório como regra.
Nada havia naquele minuto qualquer lembrança da voz pausada de quando faz suas análises com equilíbrio, era como se quisesse abafar qualquer pensamento contrário à sua paixão. Essa "insanidade" tão frequente nos humanos e que provoca desastres e destruições de vidas.
Não deixei de pensar em parte do livro de Jessé Souza, quando analisa a elite de São Paulo. Aquele homem é da elite brasileira, muito diferente do que o autor trata em Pobre de Direita, mas o que senti, tanto lá como cá, que o que moveu o cidadão, pela reação verbal bruta, foi a moral. O sentimento.
Será que ele é um ressentido e humilhado, motor da adesão à direita do pobre brasileiro?
Bem, a minha fase é de reflexão.
Abração, Marconi Urquiza.
Diariamente escuto este programa. O Paulo Perazzo, que é o debatedor de extrema direita que vc se refere, apesar de não citar seu nome na crônica, não tem argumentos para discutir este tema, apenas narrativas. O programa é bom, só acho que deveria interagir mais com os ouvintes, pois é raro uma citação dos que escutam o programa. Quanto à peça da PGR acho bastante robusta, apesar de não ser advogado. Os 34 acusados vão pagar pelos crimes cometidos contra a democracia, mais cedo ou mais tarde.
ResponderExcluirForte abraço e mais uma vez parabéns pela crônica.
Em tempo: pela sensibilidade que o tema aborda, acho que vc não deve postar no grupo Jovens Aposentados. É só minha opinião.
Essa onda de debates entre direita x esquerda tem provocado discursões acalorados entre os debatedores. Não importa, onde ocorra, se no rádio, televisão e mais ainda no Congresso Nacional.
ResponderExcluirOito anos atrás, quando o Brasil ingressava neste terrível e tenebroso quadro de antipatia generalizada, li um artigo na Revista Piauí em que a autora revelava seu desconforto em um país do leste europeu, em que famílias eram segmentadas por opiniões políticas e amizades desfeitas por divergências eleitorais.
Hoje, lamentavelmente, vivemos dias muito semelhantes no Brasil, em que o diferente não pode ser tolerado, o divergente tem que ser aniquilado e o adversário precisa ser tratado como inimigo. Não há mais meio termo e o tal do “bom senso” perdeu lugar para o radicalismo e a intransigência.
Parabéns, Marconi, por mais uma crônica reflexiva.
Em um poema que dediquei ao meu filho Sávio escrevi: "Aprenda a conviver/Com opiniões contrárias/Coisas extraordinárias/Você irá aprender..." Este conselho precisaria alcançar outros ouvidos. Valeu parceiro.
ResponderExcluirSó assistiria a esse tipo de programa se eu fosse fazer um estudo de psicologia, ou sociologia, ou antropologia, ou mesmo se fosse me inspirar para criar um personagem. Não tenho paciência para opiniões de defensores da extrema direita. Há tantos livros bons, ou música para quando se estar dirigindo. Desculpe, Marconi, mas de repente acertei quando falei sobre criação literária. Pode ser o seu laboratório.
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