sexta-feira, 2 de março de 2018

Schwartz, Sandes, Zisman, Botshkis, Rabay Karam, Schulman

     
     No fundo de um buraco ou de um poço, acontece descobrir-se as estrelas.... Frase de Aristóteles.


      Desde de pequeno eu sou fascinado por história. A História do Brasil clássica ou a História mundial me atraía ao mesmo tempo que me entediava pela falta de calor, mas aquela história miúda, a saga das pessoas me deixava de boca aberta, ligado, escutando tudo.

     "Olha, ontem foi difícil chegar aqui de volta, a serra de São Pedro estava escorregando tanto que vi muitas vezes na beirada do barranco o bode lá embaixo comendo mato." Aí o nego enfeitava, mas na mentira era tudo verdade, meio aumentada.

      Meu pai tinha uma farmácia, ele, além dos inúmeros fregueses, era um homem com uma infinidade de amigos, muitos dos quais passava por lá quase todos os dias. Diversas vezes eu encostava em alguns e perguntava algo só para ouvir suas histórias.  Foi assim que descobri por que Zé Mole era Zé Mole, por que meu pai era o Dr. Gia, porque Pavão tinha esse apelido. Eram histórias de gente, apetitosas.

     Certa vez, lá pelos meus treze anos disseram que em Bom Conselho morava uma alemã no Alto de Zé Fleixeira. A verdade é que nunca a vi e poucos souberam dela. Nesse tempo, alguma coisa já havia zoado na minha cabeça sobre a segunda guerra mundial.

     Em 1979 comecei a estudar na Universidade Federal Rural de Pernambuco, nela, de fato, encontrei uma alemã e em uma das suas aulas ela contou a sua origem e que seu pai passou um ano fugindo dos russos, pois eles matavam qualquer um que estivesse vestido com uniforme do exército alemão.  Ele fugiu da antiga Checoslováquia pelo meio das florestas até entrar no território da Alemanha ocupado pelos Estados Unidos. 
     
    Nesse tempo eu não sabia sobre o holocausto, então para mim todo alemão era nazista. Bem, voltemos para a professora. Suspeito que o nome dela era Hildegard. 

    A aula acabou, eu me aproximei dela e perguntei por que o seu pai foi nazista. Também não sabia nada sobre o nazismo, só que perderam a guerra e que eram maus. Vamos para a professora de novo. Senti ela respirar devagar, não sei se estava irritada ou compreendeu a minha ignorância, depois desse silêncio ela respondeu com uma frase que me faz recordar as culturas, quaisquer que sejam. Me faz hoje recordar as culturas avassaladores, como a que está em evidência no Brasil: a da intolerância com o pensamento diferente.

     A frase foi esta: não dava para não ser nazista. Não dava para NÃO ser nazista.

      Escrevi isto tudo por que nesta semana esteve em minha mãos o documento de uma apartamento que conta um pedacinho da história de muitas famílias com sobrenomes bem diferentes dos nossos de origem portuguesa ou espanhola.

     Schwartz, Sandes, Zisman, Botshkis, Rabay Karam, Schulman. São nomes de famílias relacionados com um dos apartamentos do edifício Marcílio Dias (Recife) desde a primeira escritura, em 26 de setembro de 1960.

      A dona atual tem 96 anos, você viu uma pessoa com 96 anos lúcida?

      Quanta história tem essa senhora?

      Vamos voltar a ler aqueles nomes com cara de sobrenome alemão. Quanta história eu ouviria se pudesse saber a razão deles terem esse sobrenome, se eram emigrantes, abrasileirados pela naturalização, se fugiram de algum pogrom antes da segunda guerra ou se caíram fora antes do caldo contra os judeus virar de vez, se chegaram depois da guerra. 

     São muitas perguntas que um historiador pode cutucar até achar as respostas ou um escritor de ficção, inventar uma história e preencher com a imaginação tais lacunas que, para as quais eu não tenho resposta.

      Mas para finalizar, enquanto por aí ainda ronda no mundo o antissemitismo, eu ouvi anos atrás ao atender um cliente uma resposta que me calou. Naquele dia eu afirmei que o seu sobrenome era alemão, "Não, meu sobrenome é israelita. 

     Na sua resposta, mais que uma constatação, transpareceu o orgulho que sentia da sua origem.

     Entendeu?


     Abraço.






     

      

      

     

quinta-feira, 1 de março de 2018

Percalços de uma velhice

      
     Vamos brincar de imaginar um mundo diferente? As pessoas deixam de ser coisas e passam a ser gente!... Frase de Roberto Freire.
     

      Saí para pegar a assinatura em um contrato, em vez de ir na direção correta caminhei na outra, aí voltei, o ponto de referência, vizinho a um posto de gasolina e a clinica avançada do Hospital Português do Recife em Boa Viagem.

     Cheguei lá, prédio baixo, fachada azul, três andares, com aparência de ser mais baixo que o real por ter sido construído quase um metro abaixo do nível da rua. É um anão.

     Entrei. Limpo, bem cuidado, escada asseada, pilotis e paredes brancas, grade pintada de preto, pintura nova, doze apartamentos.

      Subi a escada contente.

     Quando cheguei, quando entrei naquele apartamento eu tive um choque. Se eu fosse o típico fofoqueiro, começaria esbugalhando os olhos, passaria a língua nos lábios, abriria a boca sem dizer nada e depois falaria com a entonação de que o que o sujeito tem a falar era a coisa mais fenomenal do mundo. Entorte o pescoço e comece dizendo: Rapaz! Rapaz!!! Foi um choque brutal. Olhe, imagine o que vi hoje?

      Realmente foi um choque, tanto que me fez lembrar de Gente Humilde, de Chico  e Vinicius de Morais. 

     Aquele apartamento está uma bagunça total, a filha e seu esposo, ambos desempregados, com seus dois filhos entraram naquele apartamento de 87 m². É apertado para quatro adultos e duas crianças e, se não tivesse tanto troço apinhado na sala poderia se viver melhor. É um ambiente estressante, as pessoas não conseguem se movimentar e ficam como dentro de uma solitária, porque os espaços estão repletos de coisas.

     A senhora, corpulenta, perto de 1,80 m, com 71 anos, cuidando do marido, doente, sem energia. São humildes, não pobres, estão empobrecidos por terem que alimentar outra família. A filha esta tão magra, que suspeito que com seu quinhão de comida alimenta ao dois filhos. Uma palavra para descrever esse ambiente: um muquifo e, a situação: um sufoco!

     Sentei-me na cadeira macia do marido e ele ficou sentado na dura cadeira  de madeira para almoçar perto das três da tarde.

      Ela disse que quer vender o apartamento para poder comprar uma casa maior para que as duas famílias possam viver melhor. Sonha alto, o mercado ruim vai dificultar a venda daquele apartamento, e, o mercado ainda está mais ruim porque se vender, a grana não compra uma casa razoável em um bairro de Recife.

     No meio da conversa começou a falar dos filhos, sentindo uma falta enorme pelas ausências deles, pela falta de ajuda, no entanto, tenta seguir em frente "sem ter com quem contar".  Não sei a história da família, mas parece que aqueles dois idosos estão sozinhos  com três filhos adultos razoavelmente  situados.

    Foi em um desses "certos dias" que eu entrei naquele lar, uma dessas ocasiões que na vida nos ocorre um lento processo de reflexão, lento porque não para quando você vai embora, porque era um lar, mesmo sem placa, um lar, com suas impaciências, seus amores, um carinho entranhando na voz de um netinho.

     Hoje voltei lá, vi uma agonia controlada, quase uma resignação absoluta pela situação crítica e, aquele muquifo já era familiar. Saí de lá, coloquei a placa de vende-se no melhor local que imaginei. Tive um distanciamento profissional, dado por todos os anos de cadeira no Banco do Brasil e que me ensinou a encarar a agonia do cliente com neutralidade, mas lá, ao contrário da situação atual, eu tinha muitos recursos para agir.

     Não alimentei a esperança de uma venda rápida e voltei para o plantão.

    Velhice: doença, falta de autonomia, familiares ausentes, geralmente com pouca grana, desemparo, solidão. O pensamento era este desde o começo: o que a gente está fazendo para a nossa velhice?

    Bem, agora voltando para aquele lar, no momento em que escrevia esta crônica uma ideia me ocorreu para aliviar a agonia daquela casa atulhada: esvaziar, deixar só o essencial.

    A questão vai ser se saberei como dizer ou se terei coragem para sugerir sem depois me maldizer.


Abraço,

Gente Humilde - Com Luiz Melodia

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

cOrPO ESTranHo

"Não encontre um defeito, encontre uma solução."... Frase de Henry Ford.     

   Na semana passada escrevi um texto todo pretensioso, achei uma palavra que imaginei significar o que pensava. Arrastei da memória e pesquisei o que significava Distopia. Por falta de convicção se este era o termo que desejava usar deixei o rascunho como rascunho. É mais um item do estoque de crônicas inacabadas, nesta, por ter encontrado depois o termo correto: Disrupção.

    Distopia é um termo de origem médica que diz que um órgão está em lugar diferente de onde deveria estar. O exemplo clássico para uma distopia: o coração no lado direito do corpo humano. Já havia escrito um belo libelo sobre as mudanças no Banco do Brasil, foi quando esbarrei na palavra disrupção, a danada da mudança radical, um novo modelo de negócio que rompe com um já estabelecido. Os exemplos, também clássicos: Uber e Airbnb.

     Não queria escrever alguma coisa que não envolvesse um lado bem pessoal, como disse um desses orientadores da internet, que a crônica para ser uma boa crônica tem que fugir do risco do narcisismo. O danado é que já escrevi muita coisa assim. Talvez este relato sirva para alguma reflexão.

      Em 2015, em circunstâncias de coação, saí do Banco do Brasil. Queria cumprir 35 anos, não deu. Parecia naquele tempo, que todo ser com mais de 50 anos e com mais de 30 anos de contribuição para a PREVI era um ser distópico, mas não apenas em 2015. 

    Quando ocorreu comigo, senti motivar a formação de um conclave de gente querendo cumprir esse modelo de distopia, tirar um "órgão" das entranhas do "corpo humano" da empresa. Por causa disso revisitei o que muitos colegas passaram lá no Paraná pós PDV - Plano de Demissão Voluntária, será que todas foram voluntárias?

      Retrocedendo a 2015, eu estava lá, mas forças de uma cultura medonha não queria que eu estivesse. O momento do PAI - Plano de Aposentadoria Incentivada era de disrupção para o BB, colocar um monte de gente para casa, seja por aceitarem os incentivos financeiros, seja pelo caráter do mau padrasto desse PAI.

     Saí da empresa e caí em casa, quase afundo em uma depressão ou escapei dela bem depois. A frustração junto com o sentimento de derrota quase me empurraram, para o que os italianos chamam de vendetta. 

     Muita raiva e muita adrenalina circulou pelos meus olhos injetados. Aí eu tive a minha primeira e mais forte disrupção, encontrei um desafeto oriundo do PAI de 2015 em um supermercado, só não fui preso porque ele não estava mais quando eu paguei meu kit de lazer, seis latinhas de cerveja. Foi tão forte que me sentei exausto no sofá naquela manhã de domingo, pensando no poderia ter acontecido. Não houve autocontrole, só tive sorte que esse desafeto evitou a briga.

     O tempo passou, iniciei vários projetos, fazer doutorado, fazer inglês instrumental, representar uma consultoria de detecção de mentira na seleção de talentos, entre outros trabalhos, comprar uma lotérica e tudo era atrapalhado pela raiva de todo o processo da minha saída do Banco do Brasil. Era uma lembrança permanente, dia e noite, dia e noite, com um único pensamento me corroendo a alma, aí me ocorreu surgir uma ideia para escrever um livro,  que me ocupou o coração.  Nesse meio tempo iniciei o curso de corretor imobiliário.

     No dizer do amigo Zé Carlos, ao voltarmos para casa após 30 anos nós somos um Corpo Estranho para as nossas esposas, é um full time que parece incomodar. 

     Agora entrei na imobiliária para fazer o estágio obrigatório. Depois de três semanas eu sinto que pareço um corpo estranho: Bom dia!, Até logo!, Até manhã! Cumprimentar as pessoas ao chegar ou ao ir embora, tudo isso parece naquela ambiente fora de moda ou fora da cultura da empresa.

     Não estou ganhando nada, se conseguir alguma venda, ótimo, se não conseguir, pago para trabalhar. O trabalho tem suas complexidades, mas não se compara ao trabalho no Banco do Brasil, tem as suas nuances, como aprendiz meus sentidos estão todos ligados, a primeira lição foi dita e confirmada na prática, em regra: somos todos concorrentes um dos outros, por causa disso registro todos os contatos que fiz.

     Ontem fui atender a um cliente que colocou seu imóvel para vender, uma casa, dias antes reclamações dele pipocaram na imobiliária, fui designado para amenizar as coisas, peguei duas placas de venda e fui até ela. Cheguei antes e vi que não poderia fixá-las no modo tradicional no muro por não haver pontos de apoio, aí me lembrei da fita dupla face, comprei uma por R$ 11,50, voltei lá e fixei as placas com a ajuda dos donos do imóvel.

     Ao sair fotografei e mandei para o grupo de Whatsapp com a mensagem: Missão cumprida. Mas meu contentamento não foi por fazer uma coisa tão simples, meu contentamento foi por ter usado um pouco da velha criatividade para encontrar soluções. 

Abração.
      

        

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Despedida da Infância

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     Nesta semana vi a entrevista de Obama com David Letterman no Netflix, em certo momento ele responde a pergunta como se sentiu quando estava a arrumando o apartamento que sua filha Malia moraria para fazer a universidade. Sua vista entristeceu e seu roto mostrou saudades.

     Isto me remeteu a 1976 quando meu pai foi me deixar em Garanhuns para estudar no Colégio Santa Sofia. Na volta as lágrimas dele foram justificadas pelo sol forte e frontal.

    2018. Uma amiga disse que ela e o esposo iriam com o filho passar o carnaval em Santa Catarina, é o presente de 15 anos dele.

    Mais antigo, eu me lembrei dos meus 15 anos. Ganhei um relógio, o almoço foi com tio Sebastião Tenório e Tia Marlise. Deu uma da tarde, peguei o relógio e saí correndo para assistir um jogo do Centro Sportivo Bomconselhense. Eu não tive consciência que me despedia da infância. 

    Voltando para o presente, fiquei matutando sobre a viagem da amiga, esposo e filho. Sem querer, muito sem querer e tendo toda uma história por trás, a intuição me relevou uma viagem que não fizemos com nossos três filhos, embora tenhamos feito muitas. A intuição me relevou que a viagem da amiga tem duplo valor, um significado explicito, o de presentear o filho nos seus quinze anos. O outro, tão subjetivo, tão sutil, talvez tão entranhado na alma dos pais que esse sentido só pudesse ser percebido por outros pais  que passaram por tudo isso, sem captar o significado dessa passagem.

    Com a licença da ousadia de adivinho, essa viagem é mais que um presente, é a despedida dos pais da infância de um filho.
    
     Espero que tenham brincado com ele, como se crianças ainda fossem!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Novo no trabalho, trabalho novo

      Fez uma semana que iniciei o estágio em uma imobiliária. Tudo muito diferente dos mais de 30 anos da minha única profissão: bancário.

    
    Foram tantas reinvenções que nem sei direito quem sou quando comecei a ser bancário.
       
     Mas a realidade que vivi nos últimos 23 anos de trabalho no Banco do Brasil tromba com um paradoxo entre o trabalho atual de um bancário: de operador de crédito para um vendedor, operador de telemarketing; insistentemente chamado para ser um ultrapassador de metas, como o corretor imobiliário.
     
     Este é também um ultrapassador, com uma distinção: é autônomo; cuja estratégia é frequentemente criada pelo próprio profissional, especialmente para venda dos imóveis usados, ao contrário do bancário que aplica a estratégia pensada por outros, muitas vezes engessando iniciativas criativas.
      
     Carteira de clientes, só se for da imobiliária quando fecha acordos de vendas com as construtoras e incorporadoras.
     
     Uma semana cutucando a internet, levantando textos que me ensinem, minimamente, como ser um corretor "vendedor". Textos básicos, cujo teor já havia ouvido de corretores mais experientes, no entanto, há abundância de ofertas e explicações de como utilizar o Marketing Digital. Bem interessante, estou apenas tateando nesse momento.
    
     Captação do produto, sim produto.  É um lar? Foi um lar? Uma casa para uma família? Uma imóvel de investidor? 
    
     Olha a diferença entre as percepções, que muitas vezes no trabalho de bancário era solenemente "ignorada", com o cliente sempre se transformando em uma meta. Se este não se interessar por um produto bancário, a objetividade do número a entregar brilhando na tela, quase automaticamente, implica em desatenção.
   
     É nesse ponto que achei uma correlação com o trabalho do corretor: a atenção ao cliente que coloca na imobiliária seu "bem" à venda.  Esse freguês às avessas parece negligenciado, a ponto do gerente da área cobrar a atenção para que seja informado a cada 15 dias como anda a sua oferta de venda, como o mercado está vendo seu "produto". E não por um motivo fútil, às vezes o preço está fora da realidade, alto; outras vezes o imóvel está detonado e precisa de cuidados para se tornar "apreciável". etc.
    
        É um novo aprendizado, carregando na bagagem toda uma trajetória de vida, separando, quando der, as roupas que servirem para o novo trabalho. 

  Chuva no lago
  cada gota 
  um lago novo.
      (Alice Ruiz)

  
       

    
    

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Deve ser incomum!

     De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus... Frase de Rui Barbosa.

      Não foi a frase de Rui Barbosa que me inspirou escrever esta crônica, mas serviu de apoio para tratar da quadra atual no Brasil. Se em 1914 ele reclamava da vergonha de ser honesto, 108 anos depois, continuamos iguais.

      A Lei de Gerson é mais nova, dos anos 1980, mas conforme se manifestou Rui Barbosa o comportamento desonesto no brasileiro vem de muito longe, de maneira que a lei de Gerson apenas revelou a faceta esdrúxula da personalidade coletiva do brasileiro. Esse é um dos nossos coletivos. (Palavra de uso antigo com significado novo para expressar uma coletividade, uma unidade de valores compartilhados).

    Aí ocorreu uma situação nova, tão peculiar que vale um ano de observação para qualquer sociólogo ou antropólogo, já que o Homem tem se tornado predador dos bons valores: como ser honesto.     

      O que é essa coisa abissal?

      Bem, hoje participei de uma audiência e ao término da oitiva de uma das testemunhas em vez de um agradecimento formal eu ouvi e vi a juíza agradecer a essa testemunha por ter respondido as perguntas com sinceridade.

      Um pouco depois entra a segunda testemunha.  Vendedor emérito, daqueles que dá um nó em ponto d'água e que muitas vezes  a regra era só um detalhe.

       Pouco antes, papo de depois da audiência, a outro testemunha disse que ele citou a bíblia para dizer ao advogado que diria a verdade.

      Ele entrou e sentou convicto, respondeu todas as perguntas, assim que terminou a magistrada se voltou para todos os presentes e sorriu, seu rosto parecia aliviado, estava contente por ter conduzido uma boa audiência e finalmente disse: as testemunhas não mentiram; e completou, que o que ela conduziu era diferente de tantas outras oitivas, ali houvera honestidade.

        Saí de lá e nem me dei conta do que presenciara, pela expressão da juíza, uma exceção: as pessoas foram honestas.

       Depois de horas sem pensar nada a respeito, esta pergunta veio perturbar meu sossego:
        
       Será tão difícil assim ser honesto no Brasil?  

       Então comecei esta crônica pelo fim.
       

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Quem faz a história?

Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.... Frase de George Orwell.


     A Lava Jato se encerrou.

         Olhando tudo que vem ocorrendo desde 2014 nesta semana tivemos o último capítulo, não estou olhando para o quesito justiça x injustiça; condenação técnica x condenação não técnica, mas a decisão seguindo o censo que haveria de ter uma condenação na amplitude do comportamento, inclusive político, de Lula.

        No sentido de demonstrar que a lei. "A lei". A lei está acima de qualquer poderoso novos cânones judiciais foram criados continuadamente. Quando ouvi trecho do voto do desembargador Gebran, onde citava o mensalão eu pensei: Como na prisão de Al Capone!

        Os EUA não tinham como prendê-lo pelos assassinatos, jogatina, venda de bebidas durante a Lei Seca, então foram buscar o crime de sonegação fiscal. Isto é só uma referência da atuação estratégica inteligente, era fundamental prender o gangster.

        Aí estar um exemplo. Era preciso punir, não podiam deixar Lula escapar de uma punição.

        Alguém se lembra do power point do Deltan colocando Lula no centro do Petrolão? 

       Há que se reconhecer, a história foi contada pelo extenso processo, toda a equipe foi competente, criaram a narrativa, apararam as arestas e mesmo quem ache que teve ilação até elogiou o voto do relator.

       Então: Quem se perguntará daqui a 10 anos se esse mesmo processo esteve cheio se senões?

     

O poder revela ou transforma uma pessoa?

  imagem: Orlando/UOL.            Um papo na última segunda-feira entre aposentados do Banco do Brasil que tiveram poder concedido pela empr...